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01 /
JULHO / 2007
O
ÔNUS DA CULTURA DO FUNCIONALISMO PÚBLICO
por
Leandro Vieira, editor do site
www.administradores.com.br (*)
Como a busca incessante por cargos no setor público prejudica o crescimento do país e compromete o futuro de milhares de pessoas
Parece realmente tentador: salário vitalício, benefícios
garantidos pelo Estado, estabilidade, carga horária conveniente... Quem
nunca desejou passar em um concurso público para dar fim às aflições
motivadas pelas incertezas do conturbado cenário econômico-social atual?
De fato, milhões de pessoas em todo o Brasil têm se dedicado à
exaustiva maratona preparatória para os diversos concursos oferecidos
pelo setor público, em todas as suas esferas. Alguns dedicam anos de
estudo, investindo não apenas tempo, mas, também, dinheiro, muito
dinheiro. Cursinhos, material didático, inscrições, viagens, estadias...
Se tudo for colocado na ponta do lápis, o ROI (retorno sobre o
investimento) de algum felizardo deve tardar uma barbaridade.
Tudo bem, cada um sabe onde aperta o sapato e o que é melhor para
a sua vida. A grande questão é que o sonho do concurso público tem
gerado um prejuízo enorme para o nosso país. A lógica é simples: temos
uma boa parcela de nossos talentos buscando vagas em trabalhos que não
acrescentam em nada ao avanço da nação. A maior parte dos cargos
públicos volta-se à operacionalização e manutenção da máquina estatal e
nada mais que isso. Não estou menosprezando a grande importância do
serviço público em nosso país, e tampouco me refiro aos professores e
pesquisadores das nossas instituições públicas, longe disso. A questão é
que apenas manter a máquina não gera crescimento econômico. É algo como
uma locomotiva funcionando sem sair do lugar.
Normalmente, as pessoas que almejam um cargo público têm uma
certa aversão a riscos. Entretanto, não conseguem enxergar os grandes
riscos que estão por trás de suas escolhas. Enquanto se preparam para os
concursos, os candidatos deixam de desenvolver as competências e
habilidades extremamente necessárias na iniciativa privada. Não acumulam
experiência, não fazem contatos, e colocam em seu currículo
apenas os cursinhos preparatórios para concursos. Parecem nunca
ter o pensamento “e se eu não passar?”.
Um concursado leva, muitas vezes, mais tempo para passar em um
concurso do que um acadêmico leva para se fazer doutor. E em que
contribuem os anos de estudo do “caçador de concursos” para o avanço da
ciência? Em nada. E para a geração de novos negócios? Pior ainda...
Justamente, um dos principais vetores do desenvolvimento econômico e
social de um país é a sua capacidade de produzir ciência, tecnologia e
inovação. As modernas teorias acerca do crescimento econômico apontam a
inovação como o fator mais importante, não apenas no desenvolvimento de
novos produtos ou serviços, como também no estímulo ao interesse em
investir nos novos empreendimentos criados. Nesse cenário, surge o
empreendedor como uma força positiva no crescimento econômico, fazendo a
ponte entre a inovação e o mercado. Vou mais além: o empreendedor é a
figura principal desse processo. Apenas pesquisa e desenvolvimento e
investimentos em capital físico e humano não causam o crescimento. Essas
atividades tomam lugar em resposta às oportunidades de crescimento, e
tais oportunidades são criadas pelos empreendedores.
Lembrando Schumpeter, os empreendedores são os impulsionadores do
desenvolvimento econômico, os responsáveis pelas mudanças econômicas em
qualquer sociedade. O seu papel envolve muito mais do que apenas o
aumento de produção e da renda per capita. Trata-se de iniciar e
constituir mudanças na estrutura de seus negócios
e da própria sociedade. Essas mudanças são acompanhadas pelo crescimento
e por maior produção, o que possibilita que mais riqueza seja dividida
pelos diversos atores sociais.
Entretanto, em nosso país a cultura empreendedora cede lugar,
cada vez mais, à cultura do funcionalismo público. Por aqui, empreender
é apenas a saída para os menos inteligentes, para os mais necessitados,
para aqueles que não têm condições de arrumar um emprego decente ou de
passar em um concurso público. Está tudo errado. A carreira acadêmica
não atrai os jovens em virtude dos baixos soldos e falta de
reconhecimento profissional. O empreendedorismo não os atrai em virtude
dos elevados riscos e das enormes dificuldades para se fazer negócios no
Brasil. O resultado dessa equação é trágico: empaca-se o avanço da
ciência e dos negócios, a oferta de empregos diminui, a economia estagna
e mais e mais pessoas passam a almejar um posto nas instituições
públicas, alimentando esse círculo vicioso.
É fundamental revertermos essa tendência e trabalharmos no
sentido de fomentar a cultura empreendedora em nosso país. Quando coloco
os verbos reverter e trabalhar na primeira pessoa do plural, quero puxar
a responsabilidade para as nossas mãos, cidadãos comuns. Não podemos
esperar que o poder público faça a sua parte, pois o Estado faz
justamente o contrário: inibe a atividade empreendedora ao elevar a
carga tributária e criar empecilhos burocráticos absurdos, buscando
sempre financiar os altos gastos do setor público com mais tributos e
endividamento. A impressão que passa é de que o Estado é um inimigo da
sociedade. Já que não podemos vencê-lo, devemos resistir fortemente à
tentação de nos juntarmos a ele.
(*) Leandro Vieira é Mestre em
Administração pelo PPGA/EA/UFRGS, Administrador de Empresas pela UFPB e
bacharel em Direito pelo UNIPÊ. Tem MBA em Marketing,
pelo Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM). Ex-professor
da Escola de Administração da UFRGS. Criador e Editor do Portal
www.Administradores.com.br.
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