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- I N T E L I G Ê N C I A      P O L Í T I C A -
01 / MARÇO / 2008

A EDUCAÇÃO COMO ELEMENTO TRANSFORMADOR DO TALENTO
(*) Por Ademir Simão

            Terminada a maior manifestação cultural de nosso povo, o carnaval, me pergunto por que não conseguimos fazer a mesma coisa com nossas reivindicações populares, de direito legítimo. Deveríamos ter a “Agremiação Unidos da Saúde”, “Unidos do Transporte”, “Unidos da Educação”, etc. Não estou falando que o carnaval não faça sentido, pelo contrário, ele serve principalmente como lição de que podemos nos unir para cobrar. Para isto, só teríamos que usar nossas fantasias da realidade.  E que realidade!

            Veja só! O trabalho das escolas de samba é maravilhoso. Há muita pesquisa, muito suor traduzido em um desfile de pouco mais de uma hora. Se conseguíssemos nos ater à mensagem como um todo e não só nas popozudas  (e como chamam a atenção!) o carnaval teria um lado lúdico muito bonito.

            Mas para nos divertimos a valer, temos que entender a mensagem transmitida. Veja a Vai-Vai campeã deste ano do carnaval de S. Paulo, defendendo a educação como saída para o Brasil com o tema “Acorda Brasil”. Que ecoem o grito desta escola e do empresário Antonio Ermírio de Moraes cujo tema saiu de uma de suas obras pelos quatro cantos deste país. É realmente inebriante, não tenho dúvidas, porém, a quarta de cinzas, a semana de cinzas, o mês de cinzas e o ano de cinzas vêm aí. O que esperar? Ou vamos como diz o Zeca Pagodinho:  ...”deixar a vida nos levar”... “tá ruim, mas tá bom eu tenho fé que a vida vai melhorar”.  Ação é o nome do jogo. Fé sem obras é morta.

            Temos que ser um país festeiro sim, mas temos que saber comemorar. Para isto temos que mudar esta letargia insana pelo escárnio que estão fazendo com o nosso povo há séculos.

            Estamos com uma falsa sensação de melhoria imediata. Tem muita coisa ainda a ser feita. Principalmente com relação ao nosso sentimento patriótico e de orgulho nacional. Temos que ter um povo educado em todos os sentidos que esta palavra propicie. É inadmissível que 29% dos alunos de 2º série do ensino público não sabem o que lêem, estes alunos têm dificuldades, para vocês terem idéia, até para entender o contexto de uma história em quadrinhos. É mole ou quer mais? E não é só na 2º série não!

            O panorama não é uma quimera. Em uma sala de aula onde deveria, segundo a UNESCO, ter no máximo 25 pessoas, hoje tem 45, o Sindicato dos Profissionais de Ensino em Educação Municipal de São Paulo diz que o máximo tem que ser entre 30 e 35. Quem aprende desta forma?  E olha que o processo de alfabetização do seu filho, do meu filho, se conclui ao longo das primeiras quatro séries.

            Alunos que chegam ao final deste período sem conseguir uma boa alfabetização, são simplesmente abandonados. O que temos daí em diante? 9 milhões de jovens entre 18 a 29 anos sem escolaridade básica, outros quase 1 milhão de analfabetos e outros 8 milhões que desistiram do sistema de aprendizado antes de completar as primeiras séries de alfabetização. 20% de todas as crianças fora da escola e 46% dos adultos analfabetos na América Latina estão no Brasil. Somente 12,4% ou 4,5 milhões de jovens conseguem chegar à faculdade. Não estou colocando nesta conta os chamados excluídos, tais como indígenas, deficientes físicos, regiões precárias e carentes.  Estas estatísticas gritantes não param por aí. Temos 104 milhões de eleitores sem o ensino médio completo, dos quais 28 milhões são analfabetos e 72 milhões sem o ensino fundamental.

            Como disse o professor José de Souza Martins da USP: “... Estamos construindo uma sociedade mutilada... Candidatos certos à Bolsa Família do Futuro... os heróis do atraso social”.  Temos que parar de produzir ignorantes.

            Ouvimos dizer o tempo todo que precisamos de mão-de-obra qualificada, que existem vagas sobrando em determinados setores. Mas é só isto mesmo? Ao passo que você está lendo este artigo, com certeza novas cobranças no mercado de trabalho estão sendo impostas. Temos que ter qualidade, não somente de profissionais, mas também de cidadãos. Então não adianta só se formarem para mexer em máquinas, temos que ensinar para que as pessoas raciocinem, pesquisem, mude de patamar o tempo todo. Estamos em um mercado de competição, porém, podemos também colaborar. E porque não?

            Vou fazer um resumo de um artigo que o professor Cristovam Buarque escreveu brilhantemente:

            Sua conclusão é que um país que abandona a sua educação à própria sorte, como fizemos, é um país facilmente dominável. Os pontos abordados por ele:

Democracia: o povo sabe votar corretamente, independendo do grau de instrução, mas, sem educação, não tem alternativas de emprego ou renda, precisa de soluções imediatas;

Corrupção: Sem qualificação o eleitor perde o direito de cobrar de seu representante;

Economia: Não há futuro para a economia sem mão-de-obra altamente qualificada. “Se toda a população jovem não estiver bem educada para fornecer quadros competentes às universidades, estas não desenvolverão o capital-conhecimento com base na ciência e nas técnicas de nível superior que o mundo moderno exige”;

Emprego: A economia está trocando operários por operadores. Isso exige um bom segundo grau completo, idiomas estrangeiros e inclusão digital;

Segurança: É possível que a maldade seja uma característica mais comum entre os educados do que entre os iletrados. Mas, sem alternativas de emprego, estes últimos ficam sem renda para sobreviver e mais facilmente caem na tentação de pequenos crimes.

Desigualdade: Uma parte nem deseja mudanças, outra defende o voto dos analfabetos sem defender a erradicação do analfabetismo. Defende que o capital do patrão deve passar às mãos dos trabalhadores, mas não defende que a escola do filho do operário seja tão boa quanto à escola do filho do patrão.

            Arrepia-me só de pensar, as empresas ajudando o governo a fazer o que é sua obrigação constitucional. Portanto o básico e o fundamental. É como se estivéssemos dando mais dinheiro para a ineficiência pública. Mas se isto pode agilizar nosso país na construção de novos cidadãos e de um país reconhecido internacionalmente por sua educação, "tô dentro". Porém, tem que haver um gerenciamento privado destes investimentos. Hoje entendo que a preocupação com a educação em hipótese alguma pode ficar apenas nas mãos dos governos.

            Empresas podem e devem se engajar em projetos para capacitação e inclusão de crianças e adolescentes e isto é factível.  Para que as escolas possam preparar nossos jovens para um mundo em que o valor surge da iniciativa e criatividade individual, temos que criar uma sociedade que valorize e respeite seus professores, pague-os bem e conceda-lhes autonomia para exercer o seu trabalho. Temos que ter professores que formem talentos humanos. 

            Não podemos aceitar que o governo continue fazendo bobagens do tipo reserva de cotas para estudantes negros e egressos do ensino público. Isto tem a cara daqueles empresários que cometeram uma série de transgressões ao longo do tempo e vêem na filantropia uma forma de pagar seus pecados. Dar dinheiro por dar dinheiro não resolve! Não vai fazer ninguém entrar no céu. Tem que ser algo mais. Desenvolver e participar de projetos com começo, meio e fim. Cobrar resultados como todo investidor.

            Quanto à reserva de cotas, a meu ver estamos produzindo um “apartheid” educacional que poderá gerar efeitos desastrosos à nossa sociedade gerando cicatrizes nos participantes deste processo. Imaginem o vexame na faculdade e à discriminação no mercado de trabalho. A princípio o denominado assistencialismo do governo traz no mínimo um desvio semântico. Se nossas escolas públicas não conseguem gerar ensino de qualidade, como podemos mandar jovens despreparados para as universidades? E isto independe de raça, credo ou situação econômica. Estamos ensinando que o esforço e a busca por resultados nem sempre irão prevalecer. Pois o governo pode estar pagando sua penitência em detrimento do esforço pessoal de quem conseguiu nota para ingressar na faculdade. Vejam a guerra anunciada na Universidade Federal de Santa Catarina dentre outras que surgirão. O procurador da república Davy Lincoln Rocha conseguiu uma liminar na Justiça Federal suspendendo o sistema de cotas, através da sustentação que a Constituição estabelece a igualdade de direitos. Comunidades no Orkut já estão sendo formadas com intuito de discriminação.  Vejam só dois trechos de atos produzidos pelo sistema de cotas após a divulgação indevida da lista em comunidades na internet:

            “Agora que dá prá saber quem é cotista e quem não é, o preconceito vai comer solto lá dentro.”

            “Os negros não poderiam entrar na UFSC de cabeça erguida tirando menos da metade da nota daquelas pessoas que ficaram de fora por causa das cotas.”

            É show de horror por todos os lados.

            Assim como com nosso time de futebol do coração, em que nos pegamos discutindo sobre o melhor jogador, os erros dos técnicos, o urro da torcida pedindo por mudança, enfim, com a convicção de que somos tão bons como técnicos que poderíamos montar nossa seleção dos sonhos, temos que fazer isto com time de políticos. A escalação é nossa! Temos que saber quem será o treinador da nossa seleção política. Pois são eles que irão colocar no ataque da Educação, na zaga da Saúde, nas laterais do Transporte e assim por diante, os profissionais que farão nosso time ganhar ou perder o jogo. Temos que acabar com a farra dos cargos públicos, em que políticos sem experiência nenhuma em suas pastas, administram órgãos importantes da administração pública e com verbas milionárias e às vezes bilionárias sem qualquer preparo para aquilo. É como se você desse o seu dinheiro para que um borracheiro administrasse, fizesse aplicações na bolsa de valores e no mercado futuro esperando sua multiplicação. Se a formação e expertise dele não é essa, vocês vão concordar comigo que será um desastre. É jogar dinheiro fora. Isto é lúgubre! Mas é a realidade de nosso país. Gente despreparada tocando assuntos importantes. O que vemos é um determinado político que não deu certo em determinada secretaria indo para outra tentativa em outra secretaria e assim por diante. Velhos problemas não resolvidos com velhos administradores que não deram certo. Mas estamos em uma democracia, graças a Deus, e temos o poder do voto em nosso favor. Vamos ler mais sobre os próximos candidatos. Não é hora de relaxar e gozar. É hora de ir para o jogo, o jogo da mudança e só depende de você. Vamos cobrar, vamos fazer de nossos emails instrumentos de cobrança política. Vamos fazer de nossas listas de discussões, pautas de resoluções sociais, vamos fazer de nossas redes sociais, engajadores para um mundo melhor, dos inconformados sociais que querem um novo perfil de político, o político-administrador, o realizador e que faça acontecer.

            Faça do seu voto uma vacina. Para isto, leia, estude, e principalmente crie oportunidades para que as pessoas de seu convívio façam o mesmo. No final todos nós queremos a mesma coisa, viver em um mundo melhor não é?

            Não podemos ter tolerância com aqueles que têm descaso e abandonam a educação. Ou cobramos e insistimos para que haja uma mudança de postura governamental ou estamos relegados a não só ter o Brasil como um país de terceiro mundo, mas termos um terceiro mundo dentro de nós.

            Sucesso a todos!

(*) Ademir Simão é Diretor de Novos Negócios da Agência Blockworks Brazil – http://www.blockworks.com.br [email protected].

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