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QUEDA DE BRAÇO ENTRE GDF x SINPRO-DF
Acordo com professores é constitucional
Por Roberto Policarpo (*)
A carreira dos professores deveria ser uma das mais valorizadas do setor público, como ocorre em países europeus. No entanto, é o alvo predileto de governos que não conseguem visualizar a importância da educação no processo de desenvolvimento de uma cidade ou de um estado. O investimento na carreira do Magistério é um passo importante para o salto de qualidade de vida que nosso país carece, mas para isso é necessário que ocorra uma política clara envolvendo diversos atores políticos. Infelizmente, a falta de compromisso histórico das autoridades com o tema tornou necessário construir e viver um verdadeiro campo de batalha a cada nova tentativa de fortalecer essa carreira. Em Brasília, cidade que tinha tudo para ser exemplo nacional de gestão educacional, a situação é vergonhosa e preocupante.
Há dois anos, os professores conseguiram aprovar um Plano de Carreira que versava, entre outros pontos, sobre o reajuste salarial da categoria. De acordo com a lei, o reajuste dos vencimentos dos professores estaria vinculado ao reajuste do Fundo Constitucional do Distrito Federal. Na teoria, foi aprovado pela Câmara e sancionado pelo governo. No entanto, a prática tem mostrado que o resultado é outro. Recentemente, o fundo foi reajustado em 19,98% pelo governo federal e de acordo com o artigo 32 do plano de carreira dos professores (Lei 4.705/2007), esse seria o reajuste mínimo devido aos professores em março de 2009.
Seria? O verbo está conjugado na forma condicional porque o GDF se negou
a cumprir uma lei que teve seu aval há dois anos. O que mudou de lá para cá? Os
professores continuam em sala de aula, realizando seu trabalho e, portanto,
merecedores do acordo selado. No entanto, sem maiores explicações, o GDF tem
anunciado que não vai cumprir o acordado. Como não há espaço para entendimento,
o Sinpro estuda fazer uma greve. Demagogicamente, o secretário de Educação diz
que não pode haver greve já que o diálogo está aberto. Que diálogo? Que
abertura? Se o governo não cumpre uma lei que passou pelo seu crivo, de que
adianta conversar?
A suposta conversa ganhou os tribunais quando, recentemente, o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade contra a vinculação do reajuste dos vencimentos da
Carreira Magistério Público do Distrito Federal ao reajuste do Fundo
Constitucional. É função do Ministério Público zelar pela coisa pública, no
entanto a ação contra o tal artigo 32, colocando em risco o aumento dos
professores, contribuiu para a agravamento da tensão entre professores e
governo.
A inconstitucionalidade defendida pelo Ministério Público não procede, já
que a regra constitucional supostamente violada apenas impede os reajustes
automáticos de remuneração, os chamados gatilhos, quando os vencimentos de um
cargo público forem vinculados aos de outro, o que não é o caso. A lei também
poderia ser considerada inconstitucional se os reajustes dos vencimentos fossem
vinculados, por exemplo, ao salário mínimo, mas também não é essa a realidade.
Além dessas, no texto da Lei Orgânica do Distrito Federal e da Constituição da
República não há nenhuma outra proibição à vinculação de reajuste de
remuneração. E não há mesmo proibição de vinculação do reajuste à correção do
Fundo Constitucional, porque esse visa alcançar assistência financeira ao
Distrito Federal, justamente, para a execução de serviços públicos, como é
típico caso da educação.
Então, o que o GDF está esperando para cumprir sua palavra? O que deve
ficar claro para a sociedade, que é envolvida diretamente nessa questão na
posição de alunos, pais e responsáveis, independentemente da constitucionalidade
da lei, é o fato de que houve um acordo negociado com o governo e que deve ser
cumprido. Afinal, não só os professores, mas toda a sociedade espera que o
governo cumpra o prometido. Vale lembrar que a realidade de uma administração
deve ser diferente das campanhas eleitorais, quando promessas são apenas
promessas. E com educação não se brinca.
FONTE:
MATÉRIA PUBLICADA
ORIGINALMENTE POR JÚNIA LARA (SINPRO-DF).
(*) Roberto Policarpo é coordenador-geral do Sindjus (Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União), em Brasília-DF. Seu site: http://blogdopolicarpo.com.br/.
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