I N T E L I G Ê N C I A
P O L Í T I C A
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A G O S T O / 2 0 0 9
A
CAMINHO DOS 99,9999995%
Por Gilberto Geraldo Garbi (*)
Há poucos dias, a imprensa anunciou amplamente que, segundo as últimas
pesquisas de opinião, Lula bateu de novo seus recordes anteriores de
popularidade e chegou a 84% de avaliação positiva. É, realmente, algo "nunca
antes visto nesse país" e eu fiquei me perguntando o que poderemos esperar das
próximas consultas populares.
Lembro-me de que
quando Lula chegou aos 70% achei que ele jamais bateria Hitler, a quem, em seu
auge, a cultíssima Alemanha chegara a conceder 82% de aprovação.
Mas eu estava enganado: nosso operário-presidente já deixou para trás o
psicopata de bigodinho e hoje só deve estar perdendo para Fidel Castro e para
aquele tiranete caricato da Coréia do Norte, cujo nome
jamais me interessei em guardar. Mas Lula tem uma vantagem sobre os dois
ditadores: aqui as pesquisas refletem verdadeiramente o que o povo pensa,
enquanto em Cuba e na Coréia do Norte as pesquisas de
opinião lembram o que se dizia dos plebiscitos portugueses durante a ditadura
lusitana: SIM, Salazar fica; NÃO, Salazar não sai; brancos e nulos sendo
contados a favor do governo...(Quem nunca ouviu falar em Salazar, por favor,
pergunte a um parente com mais de 60).
Portanto, a popularidade de Lula ainda "tem espaço" para crescer, para
empregar essa expressão surrada e pedante, mas adorada pelos economistas.. E
faltam apenas cerca de 16% para que Lula possa, com suas habituais presunção e
imodéstia, anunciar ao mundo que obteve a unanimidade dos brasileiros em torno
de seu nome, superando até Jesus Cristo ou outras celebridades menores que
jamais conseguiram livrar-se de alguma oposição...
Sim, faltam apenas 16% mas eu tenho uma péssima notícia a dar a seu
hipertrofiado ego: pode tirar o cavalinho da chuva, "cumpanhero",
porque de 99,9999995% você não passa..
Como você não é muito chegado em Aritmética, exceto nos cálculos
rudimentares dos percentuais sobre os orçamentos dos ministérios que você
entrega aos partidos que constituem sua base de sustentação no Congresso,
explico melhor: o Brasil tem 200.000.000 de habitantes, um dos quais sou eu.
Represento, portanto, 1 em 200.000.000, ou seja, 0,0000005% enquanto os demais
brasileiros totalizam os restantes 99,9999995%. Esses, talvez, você possa
conquistar, em todo ou em parte. Mas meus humildes 0,0000005% você jamais terá
porque não há força neste ou em outros mundos, nem todo o dinheiro com que você
tem comprado votos e apoios nos aterros sanitários da política brasileira, não
há, repito, força capaz de mudar minha convicção de que você foi o pior dentre
todos os presidentes que tive a infelicidade de ver comandando o Brasil em meus
65 anos de vida.
E minha convicção fundamenta-se em um fato simples: desde minha
adolescência, quando comecei a me dar conta das desgraças brasileiras
e a identificar suas causas,
convenci-me de que na raiz de tudo está a mentalidade dominante no Brasil, essa
mentalidade dos que valorizam a esperteza e o sucesso a qualquer custo; dos que
detestam o trabalho e o estudo; dos que buscam o acesso ao patrimônio público
para proveito pessoal; dos que almejam os cabides de emprego, as sinecuras e os
cargos fantasmas; dos que criam infindáveis dinastias nepotistas nos órgãos
públicos; dos que desprezam a justiça desde que a injustiça lhes seja vantajosa;
dos que só reclamam dos privilégios por não estar incluídos entre os
privilegiados; dos que enriquecem através dos negócios sujos com o Estado; dos
que vendem seus votos por uma camiseta, um sanduíche ou, como agora, uma bolsa
família; dos que são de tal forma ignorantes e alienados que se deixam iludir
pelas prostitutas da política e beijam-lhes as mãos por receber de volta algumas
migalhas do muito que lhes vem sendo roubado desde as origens dos tempos; dos
que são incapazes de discernir, comover-se e indignar-se diante de infâmias.
Antes e depois de mim, muitos outros brasileiros, incomparavelmente
melhores e mais lúcidos, chegaram à mesma conclusão e, embora sejamos minoria,
sinto-me feliz e honrado por estar ao lado de Rui Barbosa. Já ouviu falar nele?
Como você nunca lê, eu quase iria sugerir-lhe que pedisse a algum de seus
incontáveis assessores que lhe falasse alguma coisa sobre a Oração aos Moços...
Mas, esqueça... Se você souber o que ele, em 1922, disse de políticos como você
e dos que fazem parte de sua base de sustentação, terá azia até o final da vida.
Pense a maioria o que quiser, diga a maioria o que disser, não mudarei
minha convicção de que este País só deixará de ser o que é - uma terra onde as
riquezas produzidas pelo suor da parte honesta e trabalhadora é saqueada pelos
parasitas do Estado e pelos ladrões privados eternamente impunes - quando a
mentalidade da população e de seus representantes for profundamente mudada.
Mudada pela educação, pela perseverança, pela punição aos maus, pela
recompensa aos bons, pelo exemplo dos governantes.
E você Lula, teve uma oportunidade única de dar início à mudança dessa
mentalidade, embalado que estava com uma vitória popular que poderia fazer com
que o Congresso se curvasse diante de sua autoridade moral, se você a tivesse.
Você teve a oportunidade de tornar-se nossa tão esperada âncora moral,
esta sim, nunca antes vista nesse País.
Mas não, você preferiu o caminho mais fácil e batido das práticas
populistas e coronelistas de sempre, da compra de tudo e de todos.
Infelizmente para o Brasil, mas felizmente para os objetivos pessoais
seus e de seu grupo, você estava certo: para que se esforçar, escorado apenas em
princípios de decência, se muito mais rápido e eficiente é comprar o que for
necessário, nessa terra onde quase tudo está à venda?
Eu não o considero inteligente, no nobre sentido da palavra, porque uma
pessoa verdadeiramente inteligente, depois de chegar aonde você chegou, partindo
de onde você partiu, não chafurdaria nesse lamaçal em que você e sua malta
alegremente surfam, nem se entregaria a seu permanente êxtase de vaidade e
autoidolatria.
Mas reconheço em você uma esperteza excepcional: nunca antes nesse País
um presidente explorou tão bem, em proveito próprio e de seu bando, as piores
qualidades da massa brasileira e de seus representantes.
Esse é seu legado maior, e de longa duração: o de haver escancarado a
lúgubre realidade de que o Brasil continua o mesmo que Darwin encontrou quando
passou por essas plagas em 1832 e anotou em seu diário: "Aqui todos são
subornáveis".
Você destruiu as ilusões de quem achava que havíamos evoluído em nossa
mentalidade e matou as esperanças dos que ainda acreditavam poder ver um Brasil
decente antes de morrer...
Você não inventou a corrupção brasileira, mas
fez dela um maquiavélico instrumento de poder, tornando-a generalizada e
fazendo-a permear até os últimos níveis da Administração.
O Brasil, sob você, vive um quadro que em medicina se chamaria de
septicemia corruptiva.
Peça ao Marco Aurélio para lhe explicar o que é isso.
Você é o sonho de consumo da banda podre desse País, o exemplo que os
funcionários corruptos do Brasil sempre esperaram para poder dar, sem temores,
plena vazão a seus instintos.
Você
faz da mentira e da demagogia seu principal veículo de comunicação com a massa.
A propósito, o que é que você sente, todos os dias, ao olhar-se no
espelho e lembrar-se do que diz nos palanques?
Você sente orgulho em subestimar a inteligência da maioria e ver que vale
a pena? Você mentiu quando disse haver recebido como herança maldita a política
econômica de seu antecessor, a mesma política que você manteve integralmente e
que fez a economia brasileira prosperar.
Você mentiu ao dizer que não sabia do Mensalão.
Mentiu quando disse que seu filho enriqueceu através do trabalho.
Mentiu sobre os milhões que a Ong 13, de sua filha, recebeu sem prestar
contas.
Mentiu ao afastar Dirceu, Palocci, Gushiken e outros "cumpanheros"
pegos em flagrante.
Mente quando, para cada platéia, fala coisas diferentes, escolhidas sob
medida para agradá-las.
Mentiu, mente e mentirá em qualquer situação que lhe convenha.
Por falar em Ongs, você comprou a esquerda festiva, aquela que odeia o
trabalho e vive do trabalho de outros, dando-lhe bilhões de reais através de
Ongs que nada fazem, a não ser refestelar-se em dinheiro público, viajar,
acampar, discursar contra os exploradores do povo e desperdiçar os recursos que
tanta falta fazem aos hospitais.
Você
não moveu uma palha, em seis anos de presidência, para modificar as leis odiosas
que protegem criminosos de todos os tipos neste País sedento de Justiça e
encharcado pelas lágrimas dos familiares de tantas vítimas.
Jamais sua base no Congresso preocupou-se em fechar ao menos as mais
gritantes brechas legais pelas quais os criminosos endinheirados conseguem
sempre permanecer impunes, rindo-se de todos nós.
Ao contrário, o Supremo, onde você tem grande influência, por haver
indicado um bom número de Ministros, acaba de julgar que mesmo os condenados em
segunda instância podem permanecer em liberdade, até que todas as apelações,
recursos e embargos sejam julgados, o que, no Brasil, leva décadas.
Isso significa, em poucas palavras, que os criminosos com dinheiro
suficiente para pagar os famosos e caros criminalistas brasileiros podem dormir
sossegados, porque jamais irão para a cadeia.
Estivesse o Supremo julgando algo que interessasse a seu grupo ou a suas
inclinações ideológicas, certamente você teria se empenhado de corpo e alma.
Aliás, Lula, você nunca teve ideais, apenas ambições.
Você jamais foi inspirado por qualquer anseio de Justiça. Todas as suas
ações, ao longo da vida, foram motivadas por rancores, invejas, sede pessoal de
poder e irrefreável necessidade de ser adorado e ter seu ego adulado.
Seu desprezo por aquilo que as pessoas honradas consideram Justiça
manifesta-se o tempo todo: quando você celeremente despachou para Cuba alguns
pobres desertores que aqui buscavam a liberdade; quando você deu asilo a
assassinos terroristas da esquerda radical; quando você se aliou à escória do
Congresso, aquela mesma contra quem você vociferava no passado; quando concedeu
aumentos nababescos a categorias de funcionários públicos já regiamente pagos,
às custas dos impostos arrancados do couro de quem trabalha arduamente e ganha
pouco; quando você aumentou abusivamente as despesas de custeio, sabendo que
pouquíssimo da arrecadação sobraria para os investimentos de que tanto carece a
população; quando você despreza o mérito e privilegia o compadrio e o populismo;
e vai por aí..... Justiça, ora a Justiça, é o que você pensa...
Você
tem dividido a nação, jogando regiões contra regiões, classes contra classes e
raças contra raças, para tirar proveito das desavenças que fomenta.
Aliás, se você estivesse realmente interessado, como deveria, em dar aos
pobres, negros e outros excluídos as mesmas oportunidades que têm os filhos dos
ricos, teria se empenhado a fundo na melhoria da saúde e do ensino públicos.
Mas você, no íntimo, despreza o ensino, a educação e a cultura, porque
conseguiu tudo o que queria, mesmo sendo inculto e vulgar. Além disso, melhorar
a educação toma um tempo enorme e dá muito trabalho, não é mesmo?
E se há coisa que você e o Partido dos Trabalhadores definitivamente
detestam é o trabalho: então, muito mais fácil é o atalho das cotas, mesmo que
elas criem hostilidades entres as cores, que seus critérios sejam burlados o
tempo todo e que filhos de negros milionários possam valer-se delas.
A
Imprensa faz-lhe pouca oposição porque você a calou, manipulando as verbas
publicitárias, pressionando-a economicamente e perseguindo jornalistas.
O que houve entre o BNDES e as redes de televisão?
O que você mandou fazer a Arnaldo Jabor, a Boris Casoy, a Salete Lemos?
Essa técnica de comprar ou perseguir é muito eficaz. Pablo Escobar usou-a
com muito sucesso na Colômbia, quando dava a seus eventuais opositores as
opções: "O plata, o plomo". Peça ao Marco Aurélio para traduzir. Ele fala bem o
Espanhol.
Você
pode desdenhar tudo aquilo que aqui foi dito, como desdenha a todos que não o
bajulem.
Afinal, se você não é o maior estadista do planeta, se seu governo não é
maravilhoso, como explicar tamanha popularidade?
É fácil: políticos, sindicatos, imprensa, ONGs, movimentos sociais,
funcionários públicos, miseráveis, você comprou com dinheiro, bolsas, cotas,
cargos e medidas demagógicas.
Muita gente que trabalha, mas desconhece o que se passa nas entranhas de
seu governo, satisfez-se com o pouco mais de dinheiro que passou a ganhar, em
consequência do modesto crescimento econômico que foi plantado anteriormente,
mas que caiu em seu colo.
Tudo, então, pode se resumir ao dinheiro e grande parte da população
parece estar disposta a ignorar os princípios da honradez e da honestidade e a
relevar as mentiras, a corrupção, os desperdícios, os abusos e as injustiças que
marcam seu governo em troca do prato de lentilhas da melhoria econômica.
É esse, em síntese, o triste retrato do Brasil de hoje... E, como se diz
na França, "l´argent n´est tout que dans les siècles où les hommes ne sont
rien". Você não entendeu, não é mesmo? Então pergunte à Marta. Ela adora
Paris e há um bom tempo estamos sustentando seu gigolô franco-argentino...
(*) Gilberto
Geraldo Garbi, é considerado um dos melhores alunos
de matemática do ITA, de São José dos Campos
(SP), em todos os tempos. Foi Presidente da Comissão de
Trote de 1965, que aplicou o trote na T69.
Depois de graduado, desenvolveu carreira na TELEPAR, onde
chegou a Diretor Técnico e Diretor-Presidente,
sendo depois Presidente da TELEBRAS.
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