O MAL DA ADOLESCÊNCIA
PERPÉTUA
A Caixa
destrói interessante argumento numa sucessão
de tolices
Langley, no Estado americano
da Virgínia, 1976. Um jovem casal (James
Marsden e Cameron Diaz) recebe um estranho
pacote em sua casa suburbana. Dentro dele,
há uma caixa com botão vermelho e uma carta
que diz que eles serão visitados no dia
seguinte. Quem aparece é um misterioso homem
de rosto deformado (Frank Langella), que
oferece uma escolha a Norma Lewis (Diaz): se
ela e o marido apertarem o botão vermelho,
uma pessoa que não conhecem morrerá, mas
eles receberão um milhão de dólares.
Parece uma
estória promissora, não? Faz lembrar os bons
episódios de
Twilight Zone,
aquela antiga série de televisão (ao que
parece, a estória – tirada de um conto de
Richard Matheson – chegou mesmo a virar um
episódio da série nos anos oitenta). Mas não
tão rápido, pois há um porém:
A Caixa
(2009)
é simplesmente o novo filme
de Richard Kelly. Quem é ele? Um jovem
diretor
nerd,
que deve ter jogado muito videogame e RPG
durante a adolescência e que ficou famoso há
alguns anos por ter dirigido uma baboseira
pseudo-intelectual chamada
Donnie Darko
(2001), filme que lançou as
carreiras dos irmãos Gyllenhaal.
Darko
é uma infantil ficção
científica, pretensamente filosófica, que
trata, sem qualquer elegância, de coisas
como buracos negros e portais do tempo.
Infelizmente – e
apesar do bom argumento envolvendo a escolha
entre apertar ou não o botão vermelho,
A Caixa
segue o mesmo caminho,
provando logo no início que Kelly sofre de
algo bastante comum em nossa época, o mal da
adolescência perpétua. Alguns detalhes do
filme são autobiográficos, como a história
das primeiras fotografias tiradas da
superfície de Marte. Assim como James
Marsden no filme, o pai do diretor
trabalhava na NASA e desenvolveu a câmera
usada na missão. Aliás, a dupla Marsden e
Diaz está péssima, fazendo que um filme
extremamente ruim se torne ainda pior. No
fim das contas,
A
Caixa
é simplesmente um dos piores
filmes dos últimos anos. Um diálogo que
ocorre no meio da projeção é emblemático.
Imagine só: depois de ter suportado muita
estupidez, o espectador ainda tem de escutar
a solene fala de uma personagem sobre o
baixo coeficiente de altruísmo dos
terráqueos. Pessoalmente, só consigo pensar
no alto coeficiente de asneira.
Por Túlio Sousa Borges,
[email protected].