Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

C  I  N  E  M  A
C R Í T I C A

0 1  /  J U L H O /  2 0 1 0
ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

VINCERE - Volta e meia, observam-se na Itália tentativas de reabilitar a imagem de Benito Mussolini. É, de certo modo, um fenômeno semelhante à reabilitação da União Soviética na Rússia de Vladimir Putin. Daí a importância do novo filme de Marco Bellocchio – Vincere (2009), que expõe um dos esqueletos escondidos no armário do Duce.

            Bellocchio, veterano que assinou importantes filmes do cinema político italiano, narra o drama de Ida Dalser (a beldade Giovanna Mezzogiorno). Ela foi amante de Mussolini e, ao que parece, teria se casado e tido um filho, também chamado Benito, com o futuro líder fascista. Mas Mussolini se casaria posteriormente com Rachele Guidi, sacrificando Ida e o pequeno Benito em sua ascensão ao poder.  Para preservar a imagem do Duce, seus comparsas esconderam Ida e o fillho – com a cumplicidade da Igreja Católica, segundo Bellocchio. Ambos morreriam confinados em sanatórios.

            Essa história já havia sido contada no documentário Il segreto di Mussolini (2005), transmitido pela RAI. Nas mãos de Bellocchio, recebe um tratamento audacioso. Operístico em tom e andamento, Vincere é formalmente ousado, sobretudo na dinâmica primeira metade, que revive as convulsões sócio-políticas que marcaram o início do século XX na Itália.

            Belllocchio corre vários riscos no filme. Ninguém pode acusá-lo de covardia. Em última análise, é sabedoria o que lhe falta. Inserir imagens de arquivo na narrativa só funciona até certo ponto. No geral, poderíamos dizer que Vincere é um filme pesado e isso não se deve apenas ao sexo e à violência, mas também – e sobretudo – à  mise-en-scène, cuja solenidade opressiva faz lembrar o cinema de Andrzej Wajda.

            Outro problema é a postura política do cineasta. Bellocchio faz filmes sobre ideologias e, como o artista que é, até consegue examiná-las com algum distanciamento. No entanto, também ele é um ideólogo.  Diz-se comunista, inclusive. Daí, talvez, o exacerbado anticlericalismo do filme. Não que o filme distorça completamente a relação entre Igreja e Fascismo, mas o tema merece mais sutileza.

            O confinamento de Ida Dalser é basicamente o que vemos na segunda metade do filme, que vira meio que uma mistura indigesta de Costa-Gavras, A Troca de Eastwood, e a adaptação cinematográfica de Olga. Tudo é tão banal e maçante que até o belo rosto da atriz começa a nos cansar.

            Vincere trata de Mussolini de uma maneira inusitada e consegue dizer coisas importantes a respeito da natureza do fascismo. No fim das contas, porém, deixa muito a desejar. Bellocchio pode ter mostrado que o Duce transformou a Itália em uma grande prisão, mas carece da imaginação de um Alexander Soljenítsin. O que não é surpresa, aliás. 

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

PROIBIDA REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA EXPRESSA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO PORTAL BRASIL
® E AO SEU AUTOR

Para ler colunas anteriores, Clique aqui


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI