VINCERE -
Volta e meia,
observam-se na Itália tentativas de
reabilitar a imagem de Benito Mussolini. É,
de certo modo, um fenômeno semelhante à
reabilitação da União Soviética na Rússia de
Vladimir Putin. Daí a importância do novo
filme de Marco Bellocchio – Vincere
(2009), que expõe um dos esqueletos
escondidos no armário do Duce.
Bellocchio, veterano que assinou importantes
filmes do cinema político italiano, narra o
drama de Ida Dalser (a beldade Giovanna
Mezzogiorno). Ela foi amante de Mussolini e,
ao que parece, teria se casado e tido um
filho, também chamado Benito, com o futuro
líder fascista. Mas Mussolini se casaria
posteriormente com Rachele Guidi,
sacrificando Ida e o pequeno Benito em sua
ascensão ao poder. Para preservar a imagem
do Duce, seus comparsas esconderam
Ida e o fillho – com a cumplicidade da
Igreja Católica, segundo Bellocchio. Ambos
morreriam confinados em sanatórios.
Essa
história já havia sido contada no
documentário Il segreto di Mussolini
(2005), transmitido pela RAI. Nas mãos de
Bellocchio, recebe um tratamento audacioso.
Operístico em tom e andamento, Vincere
é formalmente ousado, sobretudo na
dinâmica primeira metade, que revive as
convulsões sócio-políticas que marcaram o
início do século XX na Itália.
Belllocchio corre vários riscos no filme.
Ninguém pode acusá-lo de covardia. Em última
análise, é sabedoria o que lhe falta.
Inserir imagens de arquivo na narrativa só
funciona até certo ponto. No geral,
poderíamos dizer que Vincere é
um filme pesado e isso não se deve apenas ao
sexo e à violência, mas também – e sobretudo
– à mise-en-scène, cuja solenidade
opressiva faz lembrar o cinema de Andrzej
Wajda.
Outro problema é a postura política do
cineasta. Bellocchio faz filmes sobre
ideologias e, como o artista que é, até
consegue examiná-las com algum
distanciamento. No entanto, também ele é um
ideólogo. Diz-se comunista, inclusive. Daí,
talvez, o exacerbado anticlericalismo do
filme. Não que o filme distorça
completamente a relação entre Igreja e
Fascismo, mas o tema merece mais sutileza.
O
confinamento de Ida Dalser é basicamente o
que vemos na segunda metade do filme, que
vira meio que uma mistura indigesta de
Costa-Gavras, A Troca de Eastwood, e
a adaptação cinematográfica de Olga.
Tudo é tão banal e maçante que até o belo
rosto da atriz começa a nos cansar.
Vincere trata de Mussolini de uma
maneira inusitada e consegue dizer coisas
importantes a respeito da natureza do
fascismo. No fim das contas, porém, deixa
muito a desejar. Bellocchio pode ter
mostrado que o Duce transformou a
Itália em uma grande prisão, mas carece da
imaginação de um Alexander Soljenítsin. O
que não é surpresa, aliás.
Por Túlio Sousa Borges,
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