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C  I  N  E  M  A
C R Í T I C A

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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

CENAS DE UM CASAMENTO - Em 1839, o futuro primeiro-ministro britânico – e futuro favorito da Rainha Vitória – Benjamin Disraeli tinha 34 anos e ainda era relativamente novato na política. Já havia alcançado alguma fama como romancista, mas, como o incorrigível perdulário que era, encontrava-se endividado até o pescoço. Desesperado, passou a cortejar a rica viúva Mary Anne Lewis, doze anos mais velha. Embora a considerasse uma mulher atraente, movia-se apenas por interesse. Não tardou a descobrir, um pouco antes do casamento, que a fortuna dela, embora considerável, não era tão grande quanto se imaginava. Isso não importava, porém, pois o audacioso Disraeli tinha passado a amá-la. Seria o início de um dos mais felizes casamentos de que se tem notícia.

            A diretora francesa Anne Fontaine (tema de uma coluna anterior) entenderia isso muito bem. Seus melhores filmes mostram como uma relação de conveniência pode se transformar em um vínculo profundo e verdadeiro. É o que ocorre, por exemplo, em A Garota de Mônaco (2008), no complexo jogo de espelhos envolvendo um famoso advogado e seu humilde segurança – um par incongruente, que faz lembrar Dom Quixote e Sancho Pança.

            Também é o caso de Nathalie... (2003). Nele, o casal Catherine e Bernard (Fanny Ardant e Gérard Depardieu) distanciou-se depois de muitos anos de casamento. Ele a trai e não disfarça muito bem; e quando confrontado, admite a infidelidade com alguma indiferença. Desgastada e confusa, Catherine contrata a prostituta Marlène (Emanuelle Béart, com todo seu poder de atração) – a quem batiza de Nathalie – para seduzi-lo em segredo. O objetivo não é apenas provocar uma confrontação definitiva. A esposa traída deseja retomar algum controle sobre o marido, além de satisfazer sua própria curiosidade a respeito das traições dele. Só não imagina quantas surpresas terá pela frente. E enquanto descobre muito sobre seus próprios sentimentos, iniciará uma intrigante amizade com Marlène/Nathalie.

            Se a bela música de Michael Nyman (O Piano) é uma das primeiras coisas que prendem nossa atenção em Nathalie, o score musical é um dos principais defeitos de sua refilmagem hollywoodiana, Chloe (2009) – e um dos vários quesitos nos quais ela perde para o original. Irônico, já que Chloe trata justamente do poder sugestivo da música em algumas de suas melhores cenas.

            O péssimo roteiro de Erin Cressida Wilson (Secretária) toma muitas cenas de Nathalie – bem como o cerne da trama, muda alguns detalhes, mas altera fundamentalmente o significado de tudo. Em Chloe, a esposa (Julianne Moore) desconfia do marido (Liam Neeson), mas não tem certeza de sua infidelidade. Contrata Chloe (Amanda Seyfried) para, entre outras coisas, provar suas suspeitas. O filme tem mais do que aparenta, mas se o original era sutil e surpreendente, ele é banal e previsível.

            Vale lembrar que a própria Anne Fontaine rendeu-se às banalidades do cinema comercial contemporâneo quando dirigiu Coco avant Chanel (2009). Não é o caso do diretor de Chloe, o armênio radicado no Canadá, Atom Egoyan. O problema é que a assinatura autoral dele, visível nos excessos metafóricos e em imagens etéreas, só serve para piorar as coisas, acabando com qualquer traço de sutileza.

            Fontaine acredita que ainda há espaço para ligações afetivas num tempo que vive cada vez mais de aparências e da instrumentalização das pessoas. E é essa possibilidade que ela celebra em Nathalie. Por sua vez, Chloe não é tão otimista. Enfatiza outras questões, tratando basicamente de ansiedades psicológicas. Entre seus poucos méritos, uma importante mensagem: não existe sexo seguro. Pode-se tentar domesticá-lo e/ou racionalizá-lo, mas, por sua própria natureza, ele sempre contém algo de perigoso. E talvez seja melhor assim...

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

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