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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

QUEBRA-CABEÇA MACABRO
Leonardo Di Caprio brilha e Scorsese erra a mão em filme intrigante

            Costa leste dos Estados Unidos, 1954. Dois investigadores do FBI (Leonardo Di Caprio e Mark Ruffalo) desembarcam na Ilha do Medo (Shutter Island, 2010) para investigar um estranho caso. O local é sombrio, de difícil acesso, e abriga um manicômio judicial onde estão presos criminosos insanos de toda sorte. Um dos detentos – Rachel Solando, jovem dona-de-casa que matou seus três pequenos filhos – desapareceu misteriosamente de sua cela, “como se tivesse evaporado através das paredes”, nas palavras do Dr. Cawley, enigmático psiquiatra interpretado por Ben Kingsley. Esse, porém, parece ser apenas um dos vários segredos que se escondem na estranha ilha. E enquanto os dois detetives tentam desvendá-los, um furacão se aproxima. O cenário perfeito para um pesadelo.

Segundo dizem, o escritor Dennis Lehane – autor dos romances que originaram Sobre meninos e lobos (Mystic River, 2003) e Medo da Verdade (Gone, Baby, Gone, 2007) – precisou de cerca de cinqüenta páginas para esclarecer o(s) mistério(s) no livro. Trama mais do que intrigante, sem dúvida; e uma oportunidade perfeita para Martin Scorsese homenagear seus ídolos.

            Aliás, a cinefilia sempre foi o principal defeito do diretor. Scorsese viu filmes demais para o seu próprio bem. É mais propriamente uma enciclopédia do cinema do que um grande diretor. Seus filmes, desde os mais antigos e famosos, sempre foram mixórdias de citações. Há um pouco de tudo em Shutter Island, de O Gabinete do Dr. Caligari (1920) a O Ovo da Serpente (1977), passando por Um Corpo que cai (Vertigo, 1958) – provavelmente a principal referência – e Paixões que alucinam (Shock Corridor, 1963).

            Mas se Scorsese aprendeu algumas importantes lições de suspense com Hitchcock, parece ter se esquecido da principal: não privilegiar cenas individuais em detrimento do conjunto da narrativa. A profusão de citações impede que Shutter Island flua como deveria. Outro grave erro de Scorsese é distanciar-se das sutilezas do terror psicológico, optando pelos excessos do terror visual. A opção até faz sentido em alguns momentos alucinatórios.  Noutros, porém, parece que o diretor se inspirou na versão em quadrinhos do romance. Some-se a isso a péssima cena com o esquizofrênico George Noyce (Jackie Earle Haley, o pedófilo de Pecados íntimos), além da conversa pseudo-intelectual a respeito da violência com o diretor do presídio (Ted Levine, o assassino serial de O Silêncio dos inocentes). Parte da culpa nesse caso recai, é claro, sobre o roteirista Laeta Kalogridis (Guardiões da noite). E como já ocorrera com o péssimo filme Sobre meninos e lobos, fica a impressão de que o livro deve ser melhor do que o que vemos na tela.

            Tematicamente coerente, embora densa, a estória é essencialmente um intrigante quebra-cabeça. Por isso mesmo – e apesar do aspecto visceral, ela pende perigosamente para o meramente cerebral. E os excessos dos realizadores só pioram a situação. Mas é aí que entra o brilhante desempenho de Leonardo Di Caprio, conferindo humanidade a essa trama de vertente trágica.

            Com muitas virtudes e muitos defeitos, Shutter Island é um filme bipolar. Seu ótimo argumento faz parte de uma longa tradição ocidental e universal, enquanto seus excessos são típicos da contemporaneidade. No fim das contas, trata-se de uma experiência sumamente interessante. Gostando ou não, não é todo dia que vemos um filme como esse.

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

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