Apple e Google esquentam a concorrência em smartphones - A Apple Inc. e a Google Inc., as atuais líderes em software para plataformas móveis e cujo sucesso corroeu as fatias de mercado da Research In Motion Ltd. e da Nokia Corp., estão agindo agora para expandir seu território, o que promete intensificar a rivalidade entre as gigantes do ramo.
A Apple está entrando em novos mercados — o último deles, o de celulares pré-pagos nos Estados Unidos — para manter o crescimento de dois aparelhos dela, o iPhone e o iPad, e do sistema iOS. Ao mesmo tempo, para diferenciar seus aparelhos e poder controlar algumas funções mais de perto, a empresa está criando programas próprios para substituir apps que obtinha de outras partes — como um software de mapeamento que ela costumava obter da Google.
Já a Google está mudando de tática com o software Android para exercer maior controle sobre o destino desse produto. Até aqui, a empresa — californiana, como a Apple — deixava com a indústria a tarefa de fabricar aparelhos com o sistema Android, e com operadoras e redes varejistas a tarefa de vendê-los ao consumidor.
Hoje, a Google está adotando, em parte, o modelo integrado da Apple fabricando alguns aparelhos ela mesma. Ela também planeja vender os celulares diretamente com grandes campanhas de marketing.
O que há por trás disso tudo? Apple e Google veem ganhos maiores no horizonte. Dos cerca de 1,4 bilhão de celulares a serem vendidos este ano em todo o mundo, só uns 35% serão smartphones, parcela que deve subir para 75% nos próximos cinco anos, segundo a firma de pesquisa e trading Wedge Partners. Essa potencial fortuna está intensificando a batalha para a venda de mais aparelhos e serviços correlatos.
A ambição das duas está pressionando as antigas líderes do mercado, RIM e Nokia. Na semana passada, a Nokia anunciou que a situação de suas divisão de celulares piorou muito e que vai demitir mais 10.000 trabalhadores até o fim de 2013. A RIM, fabricante do BlackBerry e que, sob um novo diretor-presidente está passando por uma revisão estratégica, tem dado prejuízo e despencado nas bolsas.
RIM, Nokia e outras antigas líderes do mercado "subestimaram demais o poder de fogo da Apple e da Google", disse Michael Gartenberg, analista da firma de pesquisa Forrester Inc. Mas, embora Apple e Google tenham conquistado uma "tremenda vantagem" graças à capacidade de oferecer livros, música e milhares e milhares de aplicativos em plataformas móveis, Gartenberg acha que esse mercado caminha a um ritmo tão acelerado que "tudo pode mudar muito depressa".
Uma porta-voz da Apple citou as declarações do presidente Tim Cook na semana passada, segundo as quais o porte e o pique da App Store da Apple eram "simplesmente fenomenais". A porta-voz também disse que planos pré-pagos nos EUA tornarão o iPhone mais acessível.
No geral, o Android, da Google, ficou com 59% das vendas globais de smartphones no primeiro trimestre deste ano, ante 36,1% um ano antes, enquanto a Apple deteve 23%, contra 18,3% um ano atrás, segundo a IDC. A participação de smartphones equipados com o sistema Symbian OS, da Nokia, que a empresa vai substituir por um software da Microsoft, caiu para 6,8% (era de 26% no mesmo período do ano anterior). A da RIM caiu de 13,6% para 6,4%.
Mas Apple e Google — que eram meras coadjuvantes em plataformas móveis cinco anos atrás — enfrentam desafios que poderiam derrubar ambas em um mercado no qual o consumidor vira a casaca a toda hora e a tecnologia não para de evoluir.
A Google, que dá de graça o software Android a fabricantes de celulares, não ganha muito com os aparelhos, ainda que saiam de fábrica com o motor de busca e outros serviços da Google, dizem analistas. Além disso, esse software gratuito fez surgir centenas de aparelhos com telas de tamanho variado e versões distintas. Já que muitos aparelhos Android rodam versões antigas do software, fica difícil fazer um aplicativo funcionar bem em todas.
A Google está tentando resolver esses problemas: a compra, por US$ 12,5 bilhões, da fabricante de celular Motorola Mobility Holdings Inc. leva a empresa diretamente ao mundo do hardware. A Google também abriu uma loja na internet para vender futuros aparelhos Android e deve gastar pesado para promovê-los.
A Google deve lançar nas próximas semanas um tablet mais barato, com sistema Android, criado com a Asustek Computer Inc. para roubar parte do mercado do iPad, da Apple, disseram pessoas a par do assunto.
Devido à abordagem anterior da Google no mercado móvel, um grande problema é que "a experiência do consumidor varia muito" de acordo com o aparelho Android que a pessoa usa, disse Rajeev Chand, diretor-gerente do banco de investimentos Rutberg & Co. "Agora, a Google está tentando retomar o controle" do Android.
A Apple, que segundo a IDC registrou aumento de 89% nas vendas do iPhone no primeiro trimestre, em comparação com 50% do setor de smartphones como um todo, enfrenta pressão de investidores para sustentar esse crescimento estonteante.
A Apple já tomou medidas para tornar mais acessível o iPhone, cujo modelo 4S é vendido, nos EUA, por um preço inicial de US$ 649 para usuários sem plano de internet móvel.
A Apple "precisa continuar inovando no topo de linha e fincar uma bandeira na seção do meio", disse Brian Blair, analista da firma de dados de mercado Wedge Partners.
FONTE: Bloomberg News - "Todos os direitos reservados".