Há poucos dias encontrei um amigo que me disse: - Você não se esqueceu daquilo que lhe pedi, esqueceu?
Fiquei pensando: Meu Deus, o que é que ele está me cobrando? Não tenho a menor lembrança de ter alguma pendência com ele.
Eu costumo anotar tudo, sempre envio e-mails ratificando as conversas, solicito confirmações para que nada escape.
Na hora pensei: Escapou!
Ele percebeu que eu estava revirando a memória e disse: - Conseguiu descobrir como se produz um belo fracasso?
Esta é uma daquelas histórias que a gente considera maluca a princípio, mas depois de achar graça encontra algum sentido.
Uma noite, ficamos conversando e ele me perguntou: - Ta com paciência para me ouvir?
A resposta foi imediata: Claro, sempre!
Vale à pena, porque a gente sempre aprende alguma coisa com ele. Se não for uma boa história é uma boa piada. Tudo, sempre, acaba numa boa gargalhada.
Ele me contou que os negócios não estavam indo como esperava. As contas estavam pagas, nesse aspecto não poderia reclamar, mas pelo tempo e dinheiro investidos gostaria de já ter obtido melhores resultados.
Um dos aspectos que salientou é que havia aprendido que no processo de gestão poderia ter concentração em um dos dois pontos: Nas correções das falhas ou potencialização das virtudes.
Tinha escolhido o segundo, principalmente por considerar esta uma forma mais agradável de conduzir os trabalhos e que também gera menos atritos. Aspecto com o qual ele não lida muito bem.
Considerava que poderia estar ai a grande falha.
Comentou uma série de medidas que havia tomado, mas que mesmo com exaustivas análises não encontrava motivos para que os resultados não fossem melhores. Já havia debatido com a equipe, amigos, alguns consultores e continuava sem entender as razões.
Foi quando perguntou: - Há uma receita para o fracasso? - Não com grandes erros. Esses a gente percebe e corrige rapidamente, mas a soma de pequenos erros, cometidos continuamente, que nos impede de nos darmos conta que está ocorrendo uma erosão?
Evidentemente que minha resposta foi sim.
Ele simplesmente disse: - Quando tiver tempo escreva sobre isso e mande para mim! Quero ver se estou fazendo algo dessa lista ou realmente estou agindo em sentido contrário.
Você levaria isso a sério? Eu também não, mas como é uma questão interessante e ele me convenceu, mãos a obra.
É possível listar pelo menos 10 itens fundamentais, em gestão, que se não tratados com o devido cuidado e atenção provocarão um grande desastre.
Vamos ao processo: “Detone sua empresa”.
1) Clientes
Não lhes dê atenção.
Visite apenas para
realizar vendas.
Eles também não têm
interesse em
conversar sobre
outro assunto que
não seja “pedir
descontos”.
Quando lhe disserem
que sem atenção você
poderá perdê-los,
saiba que é tudo
lorota.
Com um bom desconto,
você os recupera.
2) Marca
Pura fantasia.
Importante é produto
bom.
Ninguém valoriza
marca.
Investir em mídia,
divulgação, é para
que tem dinheiro.
Para que gastar com
propaganda, quando
as pessoas só
procuram preços
baixos.
3) Preço
Preço cada um faz o
seu. Importante é
não perder negócio.
Bobagem perder tempo
com planilhas de
custos e margem de
lucro.
Quanto mais cálculos
se faz, mais gente é
necessário contratar
e mais gasto tem a
empresa.
4) Qualidade
Qualidade é
relativa. O
consumidor está
atrás de preço.
Quando o preço é bom
ele não presta muita
atenção no produto.
Nada dura para
sempre, então a
qualidade acompanha
o preço.
Sempre é possível
encontrar
matéria-prima de
qualidade razoável
para reduzir custos.
5) Equipe de vendas
Todos os vendedores
são iguais. Quem não
está vendendo é
porque não faz
visitas.
Se não está
apresentando
resultados contrate
outro. Vá trocando
até acertar.
O cliente quer
produto com preço
bom, não está
preocupado com quem
o visita.
6) Equipe interna
Simplifique o
trabalho, não
invente.
Quanto mais simples,
mais barata a
equipe.
A sua empresa não
precisa de PHD e o
mercado
está
cheio de gente
precisando
trabalhar, então não
é necessário pagar
altos salários.
7) Controles
Não perca muito
tempo com a
papelada.
As duplicatas você
manda para o banco
já com ordem de
protesto e em caso
de atraso eles se
incumbem de cobrar.
Contas a pagar, se
os boletos não
chegarem, pague com
atraso, a culpa não
é sua.
O fornecedor pode
reclamar, mas ele
precisa de você e
vai lhe dar crédito.
8) Logística
Um modismo. Quando
os produtos ficarem
prontos é só
despachar.
O custo do excesso
de controle sai mais
caro que o frete.
Se a transportadora
está com custo alto
é só trocar.
9) Linhas de crédito
Não é necessário
conversar com muitos
bancos. Escolha um
ou dois e pronto.
Todos são iguais e
tem as mesmas taxas.
Não adianta ficar
fazendo controles.
Estes saem mais
caros que as
despesas bancárias.
10) Centralize, não delegue.
Ninguém conhece a
empresa como você,
portanto é bom que
façam o que você
manda.
Os resultados serão
melhores, não se
perderá tempo e
sairá mais barato.
Pronto, já temos o
almanaque do
desastre?
Não, agora é necessário ter paciência.
Você pode me perguntar: - Como paciência?
Ocorre que neste momento, o dono do negócio vai estar sob fogo pesado, sem tempo de cuidar de tudo, e sabe onde vai estar aquele pessoal que ele acha que não é muito competente e precisa receber ordens o tempo todo?
Criando soluções inacreditáveis para que a empresa não vá para o buraco.
Lutando para garantir o emprego!
Pois é, ele vai descobrir talentos que nunca imaginou que existiam.
Quando mostramos às pessoas o que precisamos, delegamos e saímos da frente, deixando-as trabalhar, nos surpreendemos com a adição de competência que conseguimos.
É importante lembrar também que em momentos de crise a garantia da subsistência é a cola que as une.
Bom, agora só resta torcer para que a equipe não seja competente e criativa para que o fracasso seja um sucesso!