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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS

Navegar é preciso
Por Márcia Castro (*)

NAVIOS AO LONGO DO LITORAL DE PUNTA DEL LESTE, URUGUAI - Foto/Crédito: Fernando Toscano (Portal Brasil - em 24.12.2009).Mais um dos renomados poemas do autor, português, Fernando Pessoa. Frase citada por muitos nós. Mas quem realmente já levou isto ao pé da letra? Melhor dizendo, quem já fez uma viagem marítima? Posso garantir a vocês que é um verdadeiro glamour e também extremamente romântico este tipo de viagem. Um dos mais fascinantes programas turísticos. Uma verdadeira cidade flutuante, ou melhor, um Resort sobre os mares. Exatamente no dia 8 de janeiro de 1981 que realizei minha primeira viagem a bordo com minha família, ainda adolescente. E garanto que ficou até hoje em minha memória os momentos inesquecíveis, além das paisagens inusitadas, paisagens inesquecíveis. Como toda e qualquer adolescente, achei uma verdadeira chatice em viajar com a família, não queria até o momento de entrar no navio e vivenciar as mais diferentes emoções. Embarcamos num navio português, e naturalmente, toda a tripulação assim era de origem. Não só a tripulação, mas também o cardápio. Lembro que ao embarcar vi o humorista Dedé Santana, um dos integrantes do grupo “Os Trapalhões”. Ele estava desembarcando do roteiro do Réveillon. O meu era “Amazônia Férias”, o mais longo de todos, incluía norte e nordeste. Totalizando oito portos e durou um mês e uma semana. Mais de 30 dias vivendo sobre os mares do Atlântico. Há quem pense que é uma viagem enjoada, ou talvez, parada demais, mas ao contrário, você nem mesmo percebe que está navegando dada a uma infinidade de entretenimento. Boates, shoppings, lojas de souvenires, salão de cabeleireiro, academia, e bailes temáticos, como o Baile do Pijama, um dos que me recordo. Tudo isso e muito mais com o afinco de entreter os passageiros. Mas quando chegávamos aos portos havia um guia turístico e um ônibus da empresa. Mas foi em Salvador e Manaus que o navio permaneceu por mais tempo, cerca de dois ou três dias. O que foi uma verdadeira festa para mim, e qualquer adolescente na época, compras na zona franca, a tão conhecida, uma vez que era moda usar o tênis da marca Nike, isto sem contar, o som (de porte grande) que se usava na época, televisão, rádio-relógio e tudo que se usava no início dos anos 80.  Na primeira noite são dadas as boas vindas aos passageiros, além do exercício obrigatório com os coletes salva vidas, antes de qualquer partida. Causa certo nervosismo, mas depois acaba acostumando.

Lembro que nesta viagem, no Rio Amazonas, todos os passageiros e tripulantes contribuíram com roupas e alimentos para os índios que chegavam a canoas. Eram crianças e adultos, entre homens e mulheres, em canoas ávidos para receberem tais contribuições. A felicidade daqueles rostos foi emocionante e para mim, de muito enriquecimento tanto pessoal como social. Agradeceram com sorriso nas faces. Este foi um dos momentos marcantes na viagem, além do cruzamento da linha do equador. Todos os passageiros foram batizados ao cruzar. Em todos os portos fazíamos compras e no Pará não poderia ser diferente, fomos direto ao tradicional Mercado Ver o Peso. Até hoje, tenho em minha casa grandes vasos com desenhos indígenas que meus pais trouxeram de lá. Na verdade as compras são uma verdadeira tentação porque em todos os portos é uma descoberta, novas culturas e o artesanato local não deixa de ser uma parada obrigatória. Em São Luís, recordo que muitos passageiros dançaram o famoso Bumba Meu Boi, folclore tão conhecido. É uma verdadeira interação entre os diferentes povos. Nada se iguala a primeira viagem, é como se fosse o primeiro amor...

Já as paisagens são espetaculares, não existem palavras para descrever. O por do sol, a noite estrelada e o amanhecer são irretratáveis. Tudo é fascinante e extremamente romântico. Momento propício para namorar sob o luar, ou simplesmente uma pausa para pensar, momento para refletir e refazer suas ideias e princípios a cerca da vida.  

O aniversário da minha mãe foi comemorado a bordo com parte da tripulação cantando parabéns e oferecida uma torta e isso acontecia com passageiros que aniversariavam a bordo. Foi tudo muito encantador, mas com uma mistura de nostalgia, pois estávamos navegando já rumo ao Rio de janeiro. Como foi uma viagem longa e divertida, foram muitas as amizades que fizemos. Infelizmente não existia internet nesta época.  Encontramos-nos com passageiros do Rio por um período de mais ou menos cinco anos e aqueles que moravam em outros estados, a comunicação era por carta ou telefone. Foram dias incríveis, as amizades feitas, as brincadeiras, as noitadas, os bailes e tudo isso proporcionava uma amizade cada vez mais consolidada devido ao longo tempo de viagem.  Devo esta maravilhosa experiência ao meu Pai, por proporcionar esta viagem tão inesquecível. Na última noite foi uma grande festa à rigor - era o último jantar. Uma mistura de alegria e tristeza ao mesmo tempo, afinal, não mais nos veríamos, sabia que estava selada uma etapa de nossas vidas. Nada mais poderia ser igual, mesmo que fizéssemos outra viagem, como assim foi prometido e não aconteceu. Quando finalmente aportamos no rio de janeiro, uma banda no convés cantava “Cidade maravilhosa” e muitas pessoas no convés se abraçando, outros faziam promessas de se reverem. Muitas emoções e promessas que ficaram ali naquele convés que serviu de abrigo para namoros e esperanças de um grande amor. Com certeza foi a minha primeira viagem, mas não a última. Consciente de que aquela jovem adolescente e deslumbrada não mais existe vou me lembrar sempre do quanto que valeu cada segundo daquele cruzeiro.

Este é um dos segmentos que mais crescem no país. Naturalmente que uns são mais caros que outros, portanto, pesquise! Mas não deixe de vivenciar essa incrível experiência de tornar sua vida mais enriquecedora, interagindo com outras culturas, folclore e costumes. Afinal, navegar é preciso!

(*) Márcia Castro é carioca, professora e bacharel em Turismo.

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