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C O M P O R T
A M E N T O
0 1 / J A N E I R O /
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Recordar
é viver
Por Tom Coelho
(*)
“A vida é uma viagem a três
estações:
ação, experiência e
recordação.”
(Júlio Camargo)
Tenho
por hábito reservar algumas horas nos últimos dias que antecedem minhas férias
de final de ano para organizar papéis e arquivos diversos. São práticas triviais
como descartar documentos cuja guarda é desnecessária, reunir materiais
similares em pastas únicas, selecionar objetos que possam ser doados. É um
procedimento que passa por gavetas, armários e até meu computador, e que embora
pareça meramente operacional, reserva-me grandes surpresas...
Em uma pasta suspensa, por exemplo, deparei-me com uma grande quantidade de
trabalhos escolares produzidos há cerca de uma década por meus filhos mais
velhos, hoje com 18 e 16 anos. Um material singular que me conduziu a uma viagem
no tempo, à época em que estavam sendo alfabetizados. Os primeiros traços e
letras, os desenhos coloridos e pueris, os singelos presentes a mim ofertados em
datas comemorativas.
Em outro momento, acesso um livro de ata utilizado para colher depoimentos de
amigos que compareceram ao lançamento de meu livro “Sete Vidas”, há cinco anos.
Palavras generosas como só os verdadeiros amigos sabem redigir. Envio um e-mail
para um e telefono para outro, resgatando um pouco da relação distanciada pelo
tempo e pelo espaço, porém não arrefecida em ternura.
Mas a grande viagem astral ficou marcada por um arquivo reunindo materiais de
uma empresa que construí há exatos vinte anos. Anúncios em jornais e revistas,
entrevistas publicadas em jornais, fotos de um tempo em que eu tinha menos barba
e mais cabelo. Um jovem idealista, repleto de certezas equivocadas, que viria a
se descobrir apenas uma década depois.
Entretanto, nenhum sentimento se compara à emoção de casualmente ter em minhas
mãos uma caixa de sapatos contendo algumas dezenas de jogos de futebol de botão.
Uma brincadeira que me acompanhou durante a infância, quando eu jogava, ora
sozinho, literalmente narrando a partida, ora contra colegas com os quais
promovíamos torneios. Contudo, a emoção não estava nos brinquedos, embora as
lembranças fossem suficientes para fazer marejar os olhos, mas sim nas poucas
palavras escritas na tampa da caixa para identificar seu conteúdo: a caligrafia
era de minha falecida mãe.
Naquele momento, sentado com a caixa no colo, eu fitava o contorno daquelas
letras e não podia conter as lágrimas. Quantas saudades! Como a perda de uma
pessoa amada é dolorosa... Em verdade, é insuperável. Os anos passam e parece
que aceitamos o fato, quando em verdade, apenas nos acostumamos e aprendemos a
suportar e seguir em frente.
Nossas batalhas cotidianas são muitas e variadas, amplas e cada vez mais
intensas. Nosso tempo é curto, embora a vida seja longa, mas o que realmente
vale a pena é sutil, volátil e está ao nosso redor. Por isso, resgate seu
passado para valorizar o tempo presente, e em lugar de presentes, ofereça sua
presença aos seus amigos e familiares. Boas Festas!
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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