Desvio na função dos impostos, por Marcos Cintra Cavancanti de Albuquerque


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C O L U N A     D E     E C O N O M I A
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Desvio na função dos impostos
Por Professor Marcos Cintra (*)

No último dia 21 de novembro a Fundação Getulio Vargas (FGV) deu andamento à série de eventos para discutir a questão tributária brasileira. A ideia é promover mais três encontros até fevereiro de 2014 e produzir um relatório que será entregue aos principais candidatos à presidência da República e aos governos estaduais.

O último evento contou com a presença do secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Andréa Calabi, que expôs sobre o ICMS e os problemas causados pela guerra fiscal. Um ponto a ser destacado em sua apresentação refere-se ao uso do ICMS como meio de desenvolvimento econômico, ficando em segundo plano sua função como instrumento arrecadatório.

Esse é um fenômeno a ser debatido no processo de reforma tributária. No Brasil há um desvio quanto ao papel dos tributos. É preciso rever uma postura impregnada em segmentos da sociedade que consideram os impostos como solução para todos os problemas.

Visões românticas enxergam nos tributos a expressão do espírito cívico do cidadão. Humanitários passaram a acreditar que a única forma de distribuir renda e riqueza é através da tributação punitiva dos mais eficientes. Economistas e líderes políticos buscam nos impostos, ou na isenção deles, o caminho principal para estimular o desenvolvimento. Ecologistas e sanitaristas usam o sistema como forma de proteção ao meio ambiente e de punição aos infratores. Planejadores urbanos e regionais utilizam-no como mecanismo de indução para o controle espacial das atividades econômicas. Defensores da reforma agrária querem a tributação corretiva dos latifundiários. Os exportadores querem câmbio competitivo pela cobrança de tributos dos investidores externos e assim por diante.

            Certa vez, Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal, comentou a respeito dos tributos como a solução para tudo dizendo: “isso serve apenas para demonstrar que o debate sobre matéria tributária pode tomar rumos imprevisíveis, ditados por razões fortuitas ou motivos insondáveis.” Já para Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard, isso leva a “ilusões edificantes e tranquilizadoras”, mas o essencial é gerar “dinheiro para o Estado investir no social”.

A ênfase na extrafiscalidade dos tributos, ainda que legítima, vem se sobrepondo aos objetivos fiscais, tornando o sistema tributário brasileiro pouco funcional em sua função essencial que é a de arrecadar recursos para financiar o Estado. Além disso, enxergar nos impostos o meio de satisfazer metas que não sejam prioritariamente a geração de receita pública cria uma estrutura tributária de elevado custo, ineficiente, corrupta e indutora das mais variadas formas de evasão.

É necessário resgatar a função arrecadatória dos impostos. É um ponto de partida para a necessária simplificação do sistema e que poderia destravar o processo de reforma tributária no país. Os demais objetivos do Estado podem ser atingidos através de subsídios, transferências diretas, punições pecuniárias, compras governamentais, regulação e até mesmo intervenções diretas.


(*) Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Internet: www.marcoscintra.org / E-mail: [email protected] - Twitter: http://twitter.com/marcoscintra.

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PUBLICAÇÕES AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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