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01
/ junho / 2005
"A
melhor coisa do mundo é um banco bem administrado,
a
segunda melhor do mundo é um banco mais ou menos administrado,
e
a terceira melhor coisa do mundo é um banco mal administrado.”
(
RESPONSABILIDADE
BANCÁRIA
Por Tom Coelho, colunista-titular do
PortalBrasil (*)
O lucro dos bancos bateu novo recorde histórico no Brasil. Fruto de uma política
econômica que há mais de uma década privilegia o investimento no capital
financeiro, em detrimento do capital produtivo, as instituições bancárias estão
legitimamente aproveitando-se das regras do jogo para ganharem mais.
As receitas com serviços bancários, ou seja, oriundas da cobrança de tarifas,
vêm galopando a passos largos desde o fim da crise inflacionária. Naqueles
tempos, não havia motivos para se cobrar pelo fornecimento de talonários de
cheques, emissão de extratos ou realização de uma transferência de recursos
para terceiros. Afinal, vivíamos sob a égide de uma inflação que bateu em 3%
ao dia. O importante era realizar uma aplicação no overnight
e garantir o poder de compra da moeda no dia seguinte.
O advento do Plano Real ensinou aos bancos outras formas de se ganhar dinheiro.
E eles aprenderam muito bem a lição. Atualmente a receita média dos bancos
apenas com tarifas é suficiente para pagar, com folga, toda sua folha de salários.
O conjunto dos sete maiores bancos no país faturou R$ 19,8 bilhões em 2003
apenas com tarifas, cifra elevada para R$ 22,4 bilhões em 2004. As despesas com
pessoal, por sua vez, caíram de R$ 18,7 bilhões em 2003 para R$18,3 bilhões
no ano passado. O Banco Central assiste passivamente a este filme. Há incidência
de tarifas até sobre valores depositados – nada surpreendente para quem
passou a cobrar inclusive pelo estacionamento.
Contudo, as tarifas não são, evidentemente, a única fonte de receita dos
bancos. Os ganhos com “tesouraria”, ou seja, investimento em títulos do
governo federal, aqueles remunerados pela famigerada Selic, representam nada
menos que 36% do total de lucros do sistema bancário.
Mas a maior receita provém das operações de crédito. A concessão de empréstimos
representou 43% do faturamento bancário no primeiro semestre de 2004. Aqui, a
grande alavanca atende pelo nome de spread,
isto é, a diferença entre o prêmio pago pelos bancos para captar dinheiro
numa ponta, junto a outras instituições financeiras ou a poupadores, e o
quanto se cobra dos tomadores destes recursos, sejam eles pessoas físicas ou
jurídicas.
Todavia, não tenho a pretensão de usar deste espaço, nesta oportunidade, para
falar sobre os ganhos dos bancos ou sobre o fato de termos as mais elevadas
taxas de juros e spread bancário do
mundo. Chamou-me a atenção o alerta de um executivo do setor financeiro,
Filiphe Falchioni (**), para o que ele denominou de ausência de
“Responsabilidade Bancária”. Afinal, não bastassem todas as receitas
apresentadas anteriormente, os bancos tornaram-se também, grandes lojas, com
produtos e serviços dispostos em prateleiras, tais como seguros, planos de
previdência privada e investimentos diversos.
Os profissionais, por sua vez, viraram, todos, vendedores. A palavra de ordem é
“reciprocidade”. Você tem um empréstimo concedido apenas se adquirir um
titulo de capitalização. Falta-nos apenas o segurança da empresa terceirizada
oferecer-nos um seguro de vida para passarmos pelo detector de metais...
A grande preocupação reside no fato de que somos um país de desinformados. Se
a matemática já é disciplina considerada das mais difíceis no ensino
fundamental, o que se dirá de matemática financeira, que chega ao cúmulo de
ser tratada como matéria optativa em cursos de graduação
Sob esta ótica, os bancos contribuem diariamente para o agravamento de nossa
distorcida distribuição de renda, vilipendiando o bolso de cada um de seus
correntistas na medida em que concedem “benefícios” como cheque especial e
crédito rotativo no cartão de crédito, a taxas elevadíssimas, sem ensinar a
seus clientes como utilizar adequadamente tais recursos.
Numa época em que a responsabilidade social é preconizada como atributo de
organizações conscientes e alinhadas com os propósitos de um novo mundo, é
justo questionarmos por onde anda a responsabilidade bancária. É nobre a criação
de Fundações que assistam a crianças carentes. É admirável o patrocínio a
atividades culturais. Mas é necessário ensinar a cada novo correntista como
gerenciar seu orçamento doméstico, como decidir entre uma compra à vista e
outra parcelada, como optar por investimentos, por menores que sejam, mas que
realmente lhes tragam alguma rentabilidade futura. E, por que não dizer,
ofertar crédito com taxas de juros sociais, reduzidas para atender a pessoas de
baixa renda.
PS:
A vida de um escritor é balizada por pautas e prazos. Às vezes, temos a
liberdade de escolher os temas que desejamos abordar, mas evidentemente não
podemos determinar quando serão publicados. Este artigo, por exemplo, foi
redigido no dia 4 de março último, porém sua divulgação estava programada
apenas para este mês de maio a partir da Revista Venda Mais, com a qual tenho o
compromisso de fornecer conteúdo editorial inédito. Surpreendentemente, por
ocasião do último Dia das Mães, o Banco Itaú S/A apresentou uma campanha de
lançamento de uma cartilha denominada “Guia para Uso Consciente do Crédito”.
Trata-se exatamente da demanda postulada neste artigo. Trata-se propriamente do
alerta feito pelo amigo Filiphe Falchioni. Trata-se certamente de exercer a
propalada “Responsabilidade Bancária”. Como não sou jornalista, não me
entristece o fato de ter perdido o “furo de reportagem”. Alegra-me o fato de
uma das maiores instituições financeiras do país ter adotado uma iniciativa
inédita. Parabéns ao Itaú. E que as demais sigam o exemplo!
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de junho / 2005
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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