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C O M P O R T A M E N T O -
01
/ janeiro / 2006
“Se
disser algo errado, poderá dizê-lo de novo.
Se
escrever algo errado, poderá reescrevê-lo.
Se
fizer algo errado, o erro ficará com você para sempre.”
(Choochat
Watanaruangchai)
COMO
SE FOSSE PELA PRIMEIRA VEZ
Por Tom Coelho, colunista-titular do Portal Brasil (*)
O tempo
passa e a idade aplaca-se sobre nós. Amadurecemos, mas também perdemos
coisas. E só nos damos conta de nossas perdas depois que elas
ocorreram.
E todo final de ano colocamo-nos a refletir sobre o que fizemos, o que
conquistamos, o que faremos e para onde iremos...
Lembro-me quando adolescente de acompanhar admirado pelos jornais que
determinado espetáculo teatral completava cinco anos em cartaz. Então,
questionava-me como poderiam aqueles atores literalmente suportar a mesma
interpretação por duas ou três sessões seguidas, ao longo de três ou
quatro dias consecutivos, ao cabo de tantos anos. Como tolerar os mesmos
procedimentos de bastidores, a rotina de um mesmo script, piadas e cenas
melancólicas igualmente dramatizadas, além de platéias similares,
variando da animação à apatia nos mesmos momentos da apresentação?
Anos
depois comecei a utilizar o transporte aéreo com certa regularidade. E
aquela mesma pergunta tornou a me avizinhar o pensamento. Como podem
pilotos, co-pilotos e equipe de comissários extraírem prazer de tarefas
tão rotineiras? Da recepção dos passageiros à checagem das normas de
segurança, passando pelo serviço de bordo, tudo transcorre
religiosamente de igual maneira a cada decolagem e pouso...
A
vida me reservou surpresas, mudando de forma radical o curso de minha história.
De economista para publicitário, de empresário para consultor, de
executivo para escritor. E palestrante. De repente, vi-me num palco,
microfone na mão, olhos voltados para uma platéia, por vezes tão
reduzida que torna possível saber o nome de cada um dos participantes, e
por vezes tão ampla que os olhos não ousam alcançar o último dos
presentes.
E,
neste ofício, descobri que não há rotina, que inexiste a mera repetição.
Cada apresentação é singular, porque os participantes são diferentes,
porque o ambiente conspira de forma diversificada, porque meu estado de
espírito é incomparável. Lembro-me de Saint-Exupéry: “Cada
um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e
nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho,
mas quando parte nunca vai só nem nos deixa a sós. Leva um pouco de nós,
deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não
levam nada”.
Tenho
amor verdadeiro pelo trabalho que desenvolvo. Tal qual o ator ama o palco
e o piloto, sua aeronave. Cada peça apresentada é única; cada vôo, ímpar.
Porque as platéias de todos nós são invariavelmente distintas.
O
tempo passa e a idade aplaca-se sobre nós. Amadurecemos, mas também
perdemos coisas. E só nos damos conta de nossas perdas depois que elas
ocorreram. E todo final de ano colocamo-nos a refletir sobre o que
fizemos, o que conquistamos, o que faremos e para onde iremos.
A
rigor, podemos qualificar nossas vidas como absolutamente rotineiras. Uma
repetição constante de tarefas e experiências em favor da sobrevivência,
da subsistência. Apenas passamos. E podemos nos imaginar humanamente medíocres,
vivendo vidas previsíveis e medianas. Mas também podemos tornar estes
eventos únicos, posto que os são. Basta fazer tudo como se fosse pela
primeira vez. E pela última vez.
A
virada do ano, dizia Drummond, industrializa a esperança. Mas pouco
adianta acreditar que este fato isoladamente será suficiente para fazer
você mudar de vida. Fazemos isso a cada dia, a cada momento, a cada
atitude.
Que
assim seja com um abraço terno, com um beijo afetuoso, com um olhar
reluzente desferido a quem se despede. No despertar para ir ao trabalho,
numa reunião de negócios, no almoço com os amigos, no retorno ao lar.
No dia de Natal, no Reveillon e em cada um de seus próximos 365 dias.
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de janeiro / 2006
(*) Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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