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- I N T E L I G Ê N C I A      P O L Í T I C A -
16 de dezembro de 2006

PORQUE A FÉ PERDE VOTOS E CADEIRAS NO CONGRESSO
Por Marcelo Villas-Bôas, com Sabrina Craide (de Brasília) (*)

            A importância crescente dos evangélicos na política brasileira pode ser medida pelo interesse com que os dois candidatos à Presidência buscaram o apoio dessas igrejas. Ou também pelo fato de que o Brasil poderia estar sendo dirigido por um “crente”, um homem convertido em 1994 à Igreja Presbiteriana Betânia após salvar-se de um acidente automobilístico - o ex-governador Anthony Garotinho, se tivesse sucesso na indicação presidencial pelo PMDB. Ou ainda pela importância e pompa com que o presidente Lula, um dia depois do primeiro debate com Geraldo Alckmin pela televisão, pôs-se a cortejar pastores, bispos e cantores gospell das diversas igrejas que recebia no Palácio do Planalto. Saudado como "bem-aventurado” pelos pastores, entre os quais o candidato derrotado ao Governo do Rio, senador Marcelo Crivella, o presidente empolgou-se e disse não ter vergonha de pedir votos aos religiosos, dando seu testemunho sobre as tentações do demônio na vida de um ser humano.

            Contudo, se o mito cresceu, a bancada dos evangélicos encolheu. Tidos e havidos como uma força política emergente, que vinha saltando posições a cada eleição, e que, em 2002, chegou ao auge com 60 deputados e três senadores eleitos, as igrejas pentecostais e neo-pentecostais ainda buscam uma explicação para o fenômeno que as atingiu na última eleição. A diminuição de quase 70 cadeiras para apenas 30, que ocuparão no próximo ano, na Câmara dos Deputados, será inferior à bancada feminina, que terá 46 vagas. Precursora na política e conhecida por seu poderio econômico, a Igreja Universal do Reino de Deus perderá mais de 50% de seus atuais 16 parlamentares. A bancada mais numerosa, da Igreja Assembléia de Deus, cairá de 22 para apenas cinco deputados. Diminui a fé? Ou os principais interlocutores políticos dessas ramificações religiosas perderam a credibilidade?

            O fato é que a grande maioria dos parlamentares evangélicos esteve envolvida nos sucessivos escândalos que abalaram o Brasil nos últimos tempos. "A bancada foi reduzida quase à metade e o escândalo dos sanguessugas foi o maior responsável", conclui o sociólogo Ricardo Mariano, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), autor de pesquisas sobre a participação política dos evangélicos. "A questão da ética e da moralidade é algo brandido em toda campanha evangélica e esses escândalos pegaram muito mal, principalmente no interior das igrejas", acrescenta.

            A decadência da Igreja Universal no parlamento começou antes mesmo do aparecimento das denúncias dos sanguessugas, quando Rodrigues passou a ser apontado nos freqüentes escândalos nacionais: bingos, Correios, mensalão, sanguessugas. Ele renunciou ao cargo em setembro de 2005, afirmando não haver provas documentais ou testemunhais que o vinculassem a atos ilegais. A igreja decidiu afastá-lo e acabou, também, perdendo influência no Congresso.

            A Universal reagiu de maneira diferente às acusações contra seus representantes no Congresso. Proibiu a candidatura à reeleição de parlamentares sob suspeita e, com isso, perdeu 14 postulantes. Apenas dois membros da igreja tentaram a reeleição, mas não conseguiram assegurar o mandato. Já na Assembléia de Deus apenas cinco têm vaga garantida. Entre os que não se reelegeram, dez são suspeitos de participação na máfia das ambulâncias. Com ou sem o apoio da igreja, nenhum dos deputados evangélicos investigados pelo esquema de compra superfaturada de ambulâncias conseguiu se reeleger.

Jogada Política

            O caso dos sanguessugas é atribuído pelos líderes da Assembléia de Deus a uma "jogada política" para reduzir a bancada evangélica e, assim, facilitar a aprovação de projetos polêmicos como a descriminalização do aborto. Os fiéis, no entanto, não gostaram de ver a conduta de seus representantes colocada em dúvida e limaram os acusados.

            Em reportagem publicada pelo site Congresso em Foco (http://www.congressoemfoco.com.br), o presidente do Conselho Político das Assembléias de Deus, pastor Ronaldo Fonseca, diz que desde a divulgação do esquema das ambulâncias, os evangélicos já sabiam que haveria redução drástica da bancada. "O maior grupo era o nosso. Já sabíamos que aconteceria essa redução porque houve um massacre da mídia com esse escândalo dos sanguessugas. Dos nove integrantes da Assembléia que foram citados pela CPI, sabemos que sete não tinham culpa nenhuma", afirma o pastor.

            Ao surgirem as denúncias, a igreja chamou os acusados para uma reunião e instaurou sindicância interna para apurar os fatos. "Sabemos que pelo menos sete são inocentes, mas como não temos provas documentais não poderíamos exigir dos fiéis uma postura de apoio", prossegue Ronaldo Fonseca. "Por causa dos escândalos, a redução na bancada era inevitável, os evangélicos não perdoam desvio de caráter, não poderiam votar em suspeitos", acrescenta o pastor, que vê com bons olhos a atitude dos fiéis.

            "Estamos mandando um recado para a sociedade de que a Assembléia só aceita políticos éticos. É um exemplo. Se o país todo fizesse isso, não teríamos mensaleiros", pensa o pastor. Para ele, o mais importante agora é dar prosseguimento aos processos abertos contra os parlamentares. "Tenho certeza que muitos acusados apresentaram emendas, mas não fizeram nada irregular. Agora não podem engavetar esses processos. Foram tirados nas urnas, mas queremos saber se eram inocentes ou culpados. Temos que saber o que aconteceu", exige Ronaldo Fonseca.

            A idéia da Assembléia de Deus é selecionar novos políticos dentro da igreja para promover a renovação da bancada evangélica em 2010. "Não houve tempo hábil para fazer a seleção agora, por isso nossa bancada ficou menor".

“Deus sabe o quadro que teremos no futuro”

            O atual coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Adelor Vieira (PMDB-SC) não conseguiu se reeleger. Fez apenas 47.341 votos, menos da metade da votação obtida em 2002. Ele atribui sua derrota e dos demais parlamentares evangélicos, que não tiveram sucesso nas urnas, ao excesso de candidatos lançados pelas igrejas e às denúncias de corrupção envolvendo membros da igreja protestante. Além disso, acredita que os candidatos que não são evangélicos possuem mais recursos para investir nas campanhas políticas, obtendo maiores vantagens sobre os religiosos.

            Adelor Vieira também culpa a mídia pelo insucesso das candidaturas evangélicas. Segundo ele, os meios de comunicação pegaram pesado em cima de parlamentares da bancada envolvidos em denuncias de corrupção. “As calúnias foram multiplicadas por quem tinha interesse de ocupar o nosso espaço. E, lamentavelmente, os evangélicos ouviram mais essas denúncias baratas do que a nós”, explica o parlamentar. Em uma carta dirigida ao povo de Santa Catarina, em que dá sua versão para a inclusão de seu nome no relatório da CPI das Sanguessugas, Vieira se diz injustiçado e rechaça qualquer envolvimento com o grupo dos Vedoin.

            Mesmo assim, o parlamentar não desanima. Ele aposta que os novos deputados evangélicos eleitos darão continuidade ao trabalho da bancada, que deverá se fortalecer no futuro. Passada a onda de denúncias, Adelor Vieira acha que os parlamentares terão ainda mais força. “Vamos tirar lições importantíssimas desse episódio. Houve falhas, mas vamos fazer uma reavaliação do quadro e nos fortalecer ainda mais”, avalia o deputado. Ele também tem esperança que a bancada evangélica continuará sua ascensão, aumentando proporcionalmente ao crescimento do número de evangélicos no país. Segundo Vieira, o futuro da bancada está nas mãos de Deus. “Deus sabe o quadro que teremos no futuro. Após passar esse momento difícil do país, iremos voltar a crescer”, acredita o parlamentar integrante da Assembléia de Deus.

Ascensão social com a força da igreja

            Em entrevista ao site "No Mínimo" (http://nominimo.ibest.com.br), a Doutora em Sociologia Maria das Dores Campos Machado, que acaba de lançar pela Fundação Getúlio Vargas o livro “Política e religião – a participação dos evangélicos nas eleições”, explica o fenômeno social que move os evangélicos no cenário político. Embora afirme que especialmente as igrejas pentecostais e neopentecostais controlam a decisão eleitoral de seus fiéis, fato talvez não plenamente confirmado nesta eleição, a pesquisadora entende que essa participação é significativa e amplia a democracia.

            Ela explica, ainda, as principais características deste segmento dos evangélicos: “Em termos políticos, eles não têm um histórico de participação em movimentos sociais. Outra característica forte é que eles vêm de setores mais pobres da população e estão em um movimento de ascensão social. Normalmente são filhos de famílias pobres que conseguem ascensão social para uma classe média e isso passa pelo engajamento religioso. Se por um lado as comunidades eclesiais de base da igreja católica nos anos 1970 e nos anos 1980 foram espaços privilegiados de formação de liderança política da camada popular, hoje temos uma formação de liderança política feita pelas comunidades pentecostais e neopentecostais. O que se pode discutir é o caráter dessa politização e a natureza, vamos dizer assim, ideológica dessa politização. O tipo de proposta das CEBs e o tipo de proposta e o tipo de visão política ou de projeto político que essas igrejas têm é bastante diferente.”

            O neopentecostalismo é uma vertente que congrega denominações oriundas do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais. Surgiram sessenta anos após o movimento pentecostal do início do século XX, ambos nos Estados Unidos da América. Em alguns lugares são chamados de carismáticos, tendo como exceção o Brasil, onde essa nomenclatura é reservada exclusivamente para um grupo dentro da igreja Católica que se assemelha aos neopentecostais, chamada Renovação Carismática Católica. No Brasil as principais igrejas que representam os neopentecostais são: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Evangélica Cristo Vive, Missão Cristã Pentecostal e Igreja Pentecostal de Nova Vida.

Bancada

            O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) - http://www.diap.org.br - no acompanhamento rotineiro que faz do Congresso Nacional, identifica como a maior perda entre os grupos de pressão organizados a dos evangélicos. Diferentemente do que vinha acontecendo nas últimas três eleições gerais, os evangélicos perderam quadros importantes e a bancada chegará menor à 53ª Legislatura. O DIAP classifica como integrante da bancada evangélica, além dos bispos e pastores, aquele parlamentar que professa a fé segundo a doutrina evangélica.

            O DIAP identificou 34 parlamentares integrantes da bancada evangélica: 18 deputados reeleitos, 12 deputados novos e quatro senadores que têm mandato até 2011. Conheça a nova bancada evangélica:

Deputados
Arolde de Oliveira (PFL/RJ) – Batista – Reeleito
Bispo Antônio Bulhões (PMDB/SP) – IURD – Novo
Bispo Rodovalho (PFL/DF) – Sara Nossa Terra – Novo
Carlos William (PTC/MG) – Maranata – Reeleito
Dona Iris Rezende (PMDB/GO) – Nova
Dr. Antonio Cruz (PP/MS) – Assembléia de Deus – Reeleito
Dr. Nechar (PV/SP) – Assembléia de Deus – Novo
Edinho Montemor (PSB/SP) – Batista – Reeleito
Eduardo Cunha (PMDB/RJ) – Sara Nossa Terra – Reeleito
Filipe Rio de Cara Nova (PSC/RJ) – Assembléia de Deus – Novo
Flávio Bezerra (PMDB/CE) – IURD – Novo
George Hilton (PP/MG) – IURD – Novo
Gilmar Machado (PT/MG) – Batista – Reeleito
Henrique Afonso (PT/AC) – Presbiteriano – Reeleito
João Campos (PSDB/GO) – Assembléia de Deus – Reeleito
Júlio Redecker (PSDB/RS) – Luterana – Reeleito
Jurandyr Loureiro (PSC/ES) – Assembléia de Deus – Novo
Léo Vivas (PRB/RJ) – IURD – Novo
Leonardo Quintão (PMDB/MG) – Novo
Mário de Oliveira (PSC/MG) – Evangelho Quadrangular – Novo
Natan Donadon (PMDB/RO) – Batista – Reeleito
Neucimar Fraga (PL/ES) – Batista – Reeleito
Onyx Lorenzoni (PFL/RS) – Luterano – Reeleito
Pastor Lincon Portela (PL/MG) – Batista – Reeleito
Pastor Manoel Ferreira (PTB/RJ) – Assembléia de Deus – Novo
Silas Câmara (PTB/AM) – Assembléia de Deus – Reeleito
Simão Sessim (PP/RJ) – Reeleito
Takayama (PMDB/PR) – Assembléia de Deus – Reeleito
Walter Pinheiro (PT/BA) – Batista – Reeleito
Zequinha Marinho (PSC/PA) – Assembléia de Deus – Reeleito

Senadores
Bispo Marcelo Crivella (PRB/RJ) – IURD – Atual
Magno Malta (PL/ES) – IURD – Atual
Marina Silva (PT/AC) – Atual
Paulo Octávio (PFL/DF) – Atual (terá que renunciar ao mandato para assumir o cargo de vice-governador do Distrito Federal)

Quem não voltará para a Câmara em 2007
Adelor Vieira (PMDB/SC) – Assembléia de Deus
Agnado Muniz (PP/RO) – Assembléia de Deus
Almeida de Jesus (PL/CE) – IURD
Almir Moura (PFL/RJ) – Igreja Internacional da Graça de Deus
Ana Alencar (PSDB/TO)
André Zacharow (PMDB/PR) – Batista
Bispo João Batista (PP/SP) – IURD
Bispo João Mendes (Sem Partido/RJ) – IURD
Bispo Rodrigues (PL/RJ) – IURD – Renunciou
Bispo Vieira Reis (Sem partido/RJ) – IURD
Bispo Wanderval (PL/SP) – IURD
Cabo Júlio (PMDB/MG) – Assembléia de Deus
Carlos Nader (PL/RJ) – Assembléia de Deus
Costa Ferreira (PSC/MA) – Assembléia de Deus
Edna Macedo (PTB/SP) – IURD
Gerson Gabrielli (PFL/BA) – Batista
Gilberto Nascimento (PMDB/SP) – Assembléia de Deus
Hélio Esteves (PT/AP) – Protestante
Herculano Anghinetti (PP/MG) – Batista
Isaías Silvestre (PSB/MG) – Assembléia de Deus
Jair de Oliveira (PMDB/ES) – Igreja Cristo Verdade que Liberta
Jefferson Campos (PTB/SP) – Quadrangular
João Batista (PP/SP) – IURD
João Mendes de Jesus (Sem partido/RJ) – IURD
João Paulo Gomes da Silva (PL/MG) – IURD
Josué Bengtson (PTB/PA) – Quadrangular
Lino Rossi (PP/MT) – Batista
Milton Barbosa (PSC/BA) – Assembléia de Deus
Neuton Lima (PTB/SP) – Assembléia de Deus
Nilton Capixaba (PTB/RO) – Assembléia de Deus
Pastor Amarildo (PSC/TO) – Assembléia de Deus
Pastor Francisco Olímpio (PSB/PE) – Assembléia de Deus
Pastor Frankembergen Galvão (PTB/RR) – Assembléia de Deus
Pastor Heleno (PL/SE) – IURD
Pastor Jorge Pinheiro (PL/DF) IURD
Pastor José Divino (Sem partido/RJ) – IURD
Pastor Marcos Abramo (PP/SP) – IURD
Pastor Marcos de Jesus (Sem partido/PE) – IURD
Pastor Oliveira Filho (PL/PR) – IURD
Pastor Paulo Gouveia (PL/RS) – IURD
Pastor Pedro Ribeiro (PMDB/CE) – Assembléia de Deus
Pastor Reginaldo Germano (PP/BA) – IURD
Pastor Reinaldo (PTB/RS) – Quadrangular
Paulo Baltazar (PSB/RJ) – Adventista
Philemon Rodrigues (PTB/PB) – Assembléia de Deus
Raimundo Santos (PL/PA) – Assembléia de Deus
Silas Brasileiro (PMDB/MG) – Assembléia de Deus
Wanderval Santos (PL/SP) – IURD
Zelinda Novaes (PFL/BA) – IURD
Zico Bronzeado (PT/AC) – Batista.

(*) Marcelo Villas-Bôas, escreveu originariamente essa matéria no site "Via Política", publicada na edição nº 19.

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