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Ê N C I A P O L Í T I C A -
16 / janeiro / 2006
"Ele foi o primeiro e talvez
o último, a sustentar que o estado deve ser governado não pelos mais ricos,
os mais ambiciosos ou os mais astutos, mas pelos mais sábios."
ESTUDO DA
POLÍTICA - Capítulo II
História: Platão e a Ciência Política
Por Fernando Toscano (*)
Todos se consideram aptos
Para Platão, o primeiro e fundamental problema da política é que todos os
homens acreditam-se capacitados para exercê-la, o que lhe parece um grave equívoco,
pois ela resulta de uma arte muito especial. Distingue então três tipos de
artes:
1 - aquelas que ele chama de auxiliares (que podemos classificar como as de
ordem técnica, como o artesanato, a marinhagem, o pastoreio, etc...);
2 - em seguida vem as artes produtoras (o plantio, a tecelagem, o comércio,
etc..), e por último:
3 - a arte de saber conduzir os homens, que seria a política propriamente dita,
superior a todas as outras.
A Política é Tecelagem
Para melhor ilustrar o seu ponto de vista, recorre a uma comparação: a atividade do político, disse ele, assemelha-se à da tecelagem. Nada mais é do que a arte da vestimenta, o que implica na escolha do tecido, das peças que devem ser costuradas à mão, e da armação final, pois seu objetivo maior é dar segurança e abrigo, da mesma forma que um trajo protege das intempéries e assegura os pudores. Por isso, o político deve desenvolver habilidades tais como saber cardar e fiar, porque um dos seus afazeres maiores é conseguir misturar o tecido maior e melhor com o menor e o pior (isto é, encontrar o equilíbrio entre os fortes e poderosos e os mais fracos e indefesos).
Quem, porém, entre eles, pode se habilitar a esta arte, a de dedicar-se à ciência do tecer? O pensador então estabelece uma espécie de escala da qual, a princípio, são eliminados os escravos, fazendo a seguir restrições também a maioria dos homens livres em geral (aos camponeses, aos artesãos, aos comerciantes e aos marinheiros, desqualificando-os para o exercício de tal arte). Entre os que realmente ambicionam dominar a arte da política, ele aponta os pertencentes aos setores intelectualizados da sociedade: os arautos (os mensageiros), os advinhos, os sacerdotes e os magistrados. Ocupando um lugar especial entre esses que querem ter voz ativa na política, ele identifica um estranho grupo que diz ser composto por centauros, sátiros e outros animais fantásticos, que rondam por assim dizer o mundo da política, ameaçando toda hora quer dele participar ativamente (o que nos leva a interpretar tal grupo bizarro como uma metáfora dos elementos irracionais que pululam na sociedade tentando dominá-la).
Poucos são os que sobram
Em nenhum deles Platão vê qualidades que os habilitem à arte da tecelagem, à capacidade de urdirem os delicados fios que enlaçam e fortalecem a vestimenta protetora. De certo modo, a lendária atitude de Penélope, a mulher de Ulisses que ficava noite e dia fiando e desfiando, esperando a volta do marido - o Rei Competente - ganhando tempo para que ele pudesse voltar e reassumir o trono, afastando com isso os pretendentes à coroa de Ítaca, era uma versão mítica do que o filósofo pretendeu dizer.
As formas da política
A seguir, dedica-se a descrever as formas em que os regimes político se constituem, adotando a conhecida classificação numeral: o regime de um homem só (que se subdivide em monarquia, onde um rei obedece a lei e a tradição), e na tirania, (o governo discricionário); o regime de alguns (o governo de um grupo que se subdivide em oligarquia e aristocracia); e, por fim, o governo dos muitos (a democracia). Neles opõem-se nos mais diversos graus, a riqueza e a pobreza, a violência e a liberdade, a obediência às leis escritas ou a ausência de leis. Qual dentre eles afigura-se como o melhor?
Platão minimiza a importância das formas que os regimes políticos assumem. Neste momento da sua exposição, por meio do Estrangeiro, personagem principal do diálogo, a monarquia, a tirania, a oligarquia, a aristocracia ou a democracia, afiguram-lhe ser de menor interesse perante o fato maior de saber-se dominar a ciência da política. Pois é esta ciência (a que determina o que realmente é importante para a política), a arte de saber governar os homens, "a mais difícil e maior de todas as ciências possíveis de se adquirir", é que nos possibilita a ajudar a afastar os rivais do Rei Competente (isto é, o governante ideal). Ela é um instrumento de seleção que, ao mesmo tempo que nos permite dissuadir os pretendentes equivocados, auxilia a persuadir os vocacionados a ingressarem na política.
O Rei Competente como Médico
Para o pensador é o Rei Competente quem merece ser o arcon, de ter o titulo de rei, pois somente ele detêm o conhecimento da ciência política, estando no poder ou não. Assim, independentemente da forma do regime político, seja monarquia, oligarquia ou democracia, só os que possuem a ciência de saber governar os homens é que devem realmente exercer o poder. Platão ainda não menciona aqui (o fará com maiores detalhes no diálogo "A República") que seu intuito é promover o filósofo, o homem sábio, como o único habilitado a tal. O Rei Competente assemelha-se para ele ao médico que, curando ou não seus pacientes, detém a arte da medicina, serão sempre chamados de médicos.
Ele pode tudo
A partir do momento que o Rei Competente galga o poder, torna-se indiferente, sob o ponto de vista moral, o sentido que dará a sua ação. Pode ele exilar, mandar executar, deslocar gente a sua revelia, fazer o que lhe convier, que tudo estará justificado pela ciência que ele tem das coisas do governo, porque seu fim último é a justiça. Até mesmo poderá governar sem leis ou a revelia delas, pois muitas vezes o bom governante pode dispensar, em nome do bem público, que é superior a tudo, a lei escrita e o costume. É desta passagem de Platão, que Maquiavel, bem mais tarde, no Renascimento, extraiu os argumentos que sustentaram a sua teoria do domínio absoluto do Príncipe. Também parte dela a atitude da maioria dos iluministas do século XVIII que justificaram o seu apoio ao Déspota Esclarecido.
A Massa e a Elite
Platão, como é sabido, não era um simpatizante da democracia. Logo, ele não via nenhuma possibilidade das massas conseguirem algum dia apropriarem-se da ciência da política. Elas, por sua própria natureza, são incapazes de administrar com inteligência uma cidade. Somente um pequeno grupo ou um só indivíduo terá o domínio desta constituição verdadeira. Poderia, pergunta ele justificando-se, uma multidão reunida em assembléia, regular para sempre a arte da navegação ou estabelecer o tratamento a ser dado aos enfermos? Tais regulamentos caberiam ser fixados por gente do povo ou mesmo pelos ricos? Na verdade quem se atrevesse a tal, a ser um intrometido nas regras da navegação ou da medicina, seria chamado de visionário ou de fraseador sofista. Se estas artes fossem conduzidas pela sorte (Platão aqui critica abertamente o sistema eleitoral por sorteio adotado pela democracia grega), pela letra escrita aprovada em assembléia e não pela arte da política, a vida, assegurou ele, se tornaria insuportável.
O
Verdadeiro Político
Artes
Próximas mas Subordinadas à Política A Política
é a Ciência Soberana
Bibliografia
Estratégia
Arte
de fazer a guerra
Subordina-se
à decisão superior de fazer-se ou não a guerra
Jurídica
Arte
de aplicar a justiça
Subordina-se
a existência das leis que são aprovadas em outras instâncias,
determinada pelo arcon ( o governante) ou pela assembléia.
Retórica
Arte
da Oratória
Presa
às circunstâncias, estimulada e condicionada pela situação momento,
portanto totalmente subordinada.
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