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Ê N C I A P O L Í T I C A -
01 de
junho de 2006
POLÍTICA EXTERNA
A Tríplice Aliança em risco
Por
Fernando Toscano (*)
Brasil, Argentina e Paraguai formam a chamada “tríplice aliança”, no cone sul, e há uma enorme dificuldade de entendimento político e econômico entre esses países em razão, principalmente, da enorme diferença de suas economias. O Brasil, país continental e 13ª economia mundial; a Argentina, país culturalmente evoluído, com economia em ascensão e segunda economia da América do Sul e o Paraguai, país pobre, pequeno e o de menor crescimento dentro do Mercosul, totalmente dependente de seus vizinhos. Alguns dados comparativos de 2004 e 2005 demonstram isso claramente:
|
Brasil |
Argentina |
Paraguai |
Área (em km²) |
8.514.204 |
2.780.092 |
406.752 |
População |
184.700.000 |
38.200.000 |
5.700.000 |
IDH |
0,757 |
0,853 |
0,751 |
PIB (US$ bilhões) |
604,855 |
151,501 |
7,127 |
Renda per capita (US$) |
3,274 |
3,965 |
1,255 |
Exportações (US$ bilhões) |
118,309 |
25,200 |
1,120 |
Importações (US$ bilhões) |
73,545 |
31,400 |
3,060 |
FONTES: www.portalbrasil.net e www.ipib.com.br
O Brasil, com uma economia 84 vezes maior, exporta 118 vezes mais e importa 24 vezes mais que o Paraguai e a Argentina uma economia 21 vezes maior, exporta 25 vezes mais e importa quase 8 vezes mais. O Paraguai, só para exemplificar, possui uma economia muito menor que a dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e uma dezena de outros estados brasileiros. Aliás, o PIB paulista é maior que o da Argentina também. Se o Paraguai fosse um estado brasileiro estaria bem abaixo da média brasileira que possui PIB médio, por estado, de US$ 22,4 bilhões.
As visões quanto à inserção no Mercosul são antagônicas. Para o Paraguai, trata-se de uma contingência inevitável; para Brasil e Argentina, um caminho para disciplinar o principal foco de contrabando e práticas irregulares de comércio do cone sul. O novo tom da administração Bush associou o terrorismo com possíveis ramificações na tríplice fronteira, fazendo o Paraguai adquirir repentina relevância; isso pode justificar a recente gestão dos EUA para assegurar imunidade a contingentes militares norte-americanos estacionados no Paraguai.
Outro grande problema na relação Brasil-Paraguai é a Usina Hidrelétrica de Itaipu. O Brasil bancou a obra e cedeu ao Paraguai parte da propriedade da usina; compramos energia do Paraguai, colaboramos fundamentalmente com a auto-suficiência em energia naquele país e ainda compramos toda energia que sobra. Na verdade o Paraguai entrou com a terra (e a água) e a mão-de-obra e o Brasil com o resto (projeto, dinheiro, mão-de-obra qualificada, compra e venda da energia e administração) e, agora com a nova tendência latino-americana de politizar o campo energético, é atraente aos governantes paraguaios explorar politicamente ressentimentos e desconfianças acumuladas.
O atual padrão paraguaio se desenvolveu a partir de uma relação comercial e econômica intensa com o Brasil, iniciada nos anos 1970, quando o Paraguai viveu um período de expressivo crescimento durante a construção de Itaipu, concomitante a melhora nos preços internacionais de commodities. Pelas estimavas oficiais, mais de 35% das importações de origem paraguaia do Brasil e da Argentina são não registradas. Isso tem gerado conflito de interesses, sobretaxas em produtos vindos do lado paraguaio e, a meu ver, Brasil e Argentina perdem e apenas o Paraguai ganha com essa “aliança”.
Tendo o Mercosul "caído na realidade", seria de se esperar que o Paraguai viesse a pensar em alternativas. O acordo de cooperação com os EUA atenderia a necessidade de uma presença subestratégica deste país, a um custo muito baixo, possibilitando a ingerência dos EUA numa região que ele vê como de comportamentos delituosos, santuário de terroristas e núcleos de tráfico de drogas. Para Brasil e Argentina isso é péssimo, mas nossos governantes também não atuam adeqüadamente, e os Estados Unidos, incomodados com as dificuldades que encontram para obter o apoio brasileiro na ALCA, interferem diretamente em problemas regionais e, indiretamente, no Mercosul. Há aí uma guerra de interesses.
Exemplos como Hugo Chavez (Venezuela) e do boliviano Evo Morales reforçam a tese de que Brasil e Argentina devem procurar novos parceiros, mais leais e menos sujeitos a pressões internas, como alguns países da África e da Ásia e da eficiente dupla Austrália/Nova Zelândia. Há de se registrar que o Paraguai, além de possuir expressivos intercâmbios produtivos e tecnológicos com o Brasil no setor agropecuário, recebe cerca de 500.000 cidadãos brasileiros que ali vivem, o que significa o maior contingente estrangeiro de brasileiros no exterior e cerca de 8,7% da população do Paraguai. O que está nos faltando é uma política adequada e firme, para o continente, um líder. Lula teve a oportunidade mas patinou e agora se vê relevado a um plano secundário.
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