Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

- I N T E L I G Ê N C I A      P O L Í T I C A -
16 / JANEIRO / 2007

O SILÊNCIO NÃO COMETE ERROS
Por Francisco Ferraz (*)

Todo líder político que quiser manter a legitimidade e o prestígio de seu poder deve aprender a cultivar atitudes de reserva e uma certa aura misteriosa

            Em toda a história política mundial, poucas advertências foram repetidas de tantas formas diferentes - embora sempre com o mesmo teor - como aquelas que aconselham o governante a ter cuidado com suas palavras. Armand Jean Du Pleiss, o Cardeal de Richelieu, primeiro-ministro do rei Luís XIII, célebre por ser o grande artífice do Absolutismo Real e por sua obra, constituída, basicamente, de conselhos políticos, costumava alertar o monarca francês para o fato de que: "Convém sempre ser comedido ao falar e escrever, e exteriorizar somente o que for necessário. Quando as palavras escapam, através da língua ou da pena, torna-se bem difícil controlá-las"

            Há razões para tantas e tão eloqüentes advertências. O governante, o líder político, é diferente dos outros mortais. Não apenas pela posse do poder, como também pelo acesso a informações e conhecimentos secretos ou, no mínimo, reservados. Mais ainda, o conhecimento do que vai fazer com essa autoridade. Possuí-la configura um estigma para o detentor e para aqueles que estão distantes dela.

            A autoridade do homem sobre o homem é sempre odiosa - e somente é suportável porque, sem ela, a sociedade não poderia existir. É para torná-la tolerável que se criam sistemas eleitorais, mediante os quais "nós" escolhemos quem receberá aqueles poderes, dentro de limites legais previamente estabelecidos. É dessa forma que o poder adquire legitimidade, isto é, a força moral impositiva e aceita como justa, eticamente válida e vinculativa em relação ao nosso comportamento.

            O líder político, o governante, é sempre um enigma para os seus governados e até mesmo para seus auxiliares. Não se trata apenas de um jogo, uma atração pelo segredo ou, ainda, um método para obter valorização. A reserva garante sua liberdade de ação, a possibilidade de escolher entre alternativas.

            Por isso, o silêncio não comete erros. Enquanto mantiver a discrição, evitando expor suas intenções e decisões, o líder conservará suas opções, sua liberdade de ação e sua capacidade de surpreender.

            Há duas lógicas em jogo na relação entre governante e governados: a do próprio líder e a dos outros - os assessores, auxiliares, aliados, a mídia, o eleitor, os adversários e inimigos. A segunda implica decodificar a autoridade, conhecendo tudo que seja possível (o que pensa, o que pretende, o que vai fazer) sobre quem dela estiver investido.

            Os outros estão sempre em busca de tais informações, seja para se proteger, beneficiar ou somente por curiosidade. Se as obtiverem, o governante perderá grande parte da sua capacidade de governo: desaparecerá sua aura de mistério, perderá a iniciativa, escapar-lhe-á o potencial de surpresa.

            Decifrada a autoridade, não existirá mais estratégia. O governante tornar-se-á previsível e sujeito a pressões que o paralisarão. Além disso, a exteriorização das intenções de um governante tem muita força e acarreta muitas conseqüências, algumas das quais inesperadas e indesejáveis.

            Dessas considerações, constata-se que a lógica do governante é oposta à dos outros. Ele sempre terá interesse em preservar as condições de exercício do poder. Para isso, sempre deverá cultivar a reserva e tornar conhecido o indispensável.

            Somente assim ganhará o tempo necessário para pensar, avaliar alternativas e antecipar conseqüências antes de tomar suas decisões. Somente assim manterá as condições de viabilizar e praticar sua estratégia de governo. Somente assim preservará as condições para lançar mão do "efeito surpresa" a seu favor. Somente assim conseguirá que os governados o admirem, os inimigos o temam e os adversários o respeitem.

LEMBRE-SE: o silêncio é seu amigo e a palavra é sempre um risco

(*) Francisco Ferraz,é editor do site Política para Políticos de onde é originária essa matéria.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SEU AUTOR
PROIBIDA A REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA

CLIQUE AQUI E LEIA MAIS COLUNAS SOBRE POLÍTICA
 


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI