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I N T E L I G Ê N C I A
P O L Í T I C A
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J U L H O / 2 0 0 9
O EXEMPLO QUE LULA NOS DÁ
Por João Mellão Neto (*)
Talvez nunca antes na História um presidente tenha reunido tanto
apoio, político e popular, quanto Lula. Há levantamentos que indicam ter ele
alcançado a marca dos 80% de aprovação. Deve-se ter em mente que a
unanimidade é inatingível. Nem mesmo Jesus Cristo a alcança, haja vista que
há um determinado porcentual da população que não acredita nele.
Mas, como bem observou meu filho Ricardo, esse porcentual
estratosférico lhe garante o título de grande político, não o de estadista.
Estadista é alguém que deixa um legado - de feitos, comportamentos ou
palavras - para as gerações seguintes. Vendo as coisas por esse prisma, qual
é o legado de Lula?
Ele deixará para a posteridade alguma grande realização? Ele servirá
de exemplo para alguma coisa? Existem pensamentos ou definições de sua lavra
que ficarão na História?
A resposta é negativa para as três indagações. Lula não é mesmo um
estadista.
Ao contrário. Por tudo o que fala e faz, ele deixa muito a desejar
nesse quesito.
Os norte-americanos - que criaram a figura do presidente da República
- revestem o titular do posto de um significado que transcende em muito as
suas atribuições. O presidente é um rei temporário que se fez pelos seus
próprios méritos. E, assim sendo, é uma referência para o comportamento de
todos os seus concidadãos.
George Washington, o primeiro presidente, tinha essa noção muito
clara. Como a América abrira mão de ungir um rei, era natural que
depositasse na figura do presidente todas as expectativas que, em outras
circunstâncias, seriam próprias de um monarca. Consciente de seu papel, ele
governou os Estados Unidos por oito anos. E fez história.
Muitos dos seus procedimentos até hoje são seguidos.
Um deles é o culto à pessoa da primeira-dama. A própria expressão -
primeira-dama - provém de sua época.
Outro é o exercício da presidência por apenas dois mandatos. A
Constituição norte-americana, originalmente, permitia ao presidente se
reeleger quantas vezes quisesse. George Washington, a seu tempo, recebeu
numerosos apelos para se candidatar a novos mandatos. Mas entendeu que a
alternância no posto era o principal sinal que distinguia um presidente de
um rei e recusou-se a prosseguir. Todos os presidentes que se seguiram
obedeceram fielmente à regra, com exceção de Franklin Roosevelt. Após a
morte deste, no exercício do quarto mandato, o Congresso aprovou uma emenda
constitucional proibindo expressamente a reeleição indefinida.
Os exemplos de George Washington deixam uma mensagem clara: o
presidente não é gente como a gente. Ele tem de ser melhor do que a gente. É
também para servir de referência que nós o colocamos lá.
Lula não tem sido uma boa referência. Ao contrário, os exemplos que
ele deixará são negativos. Não se aconselha ninguém a segui-los.
O primeiro deles provém da instituição Bolsa-Família. Ela cria nas
pessoas a falsa noção de que basta terem nascido pobres para que se tornem
credoras do Estado. Cabe a este garantir-lhes uma renda mínima até o fim de
sua vida.
Um dos efeitos não previstos pelos idealizadores do programa é que a
quantia mensal recebida por família - mais de R$ 100, em média - é baixa
unicamente pelos padrões do Sudeste. Nos rincões nacionais ela é suficiente
para garantir o sustento de uma família sem que nenhum de seus membros
trabalhe.
Ora, criar uma nação de pensionistas é algo que nenhum partido jamais
ousou inscrever entre os seus objetivos. Pois o Bolsa-Família criou essa
expectativa. Todo mundo doravante se acha no direito de viver à custa do
Estado. E isso solapa de vez os alicerces da ética do trabalho.
Outro mau exemplo é o que nos é dado pela nossa política exterior. O
governo brasileiro apoia irrestritamente todas as nações que insistem em
transgredir as regras da boa convivência internacional.
Cuba e Venezuela rosnam para os Estados Unidos? Pois lá está o Brasil
para prestar-lhes solidariedade. As eleições no Irã parecem ter sido
fraudadas? Pois lá estamos nós de novo, para emprestar legitimidade ao
processo. A Coreia do Norte afronta o mundo fazendo testes nucleares? Pois
ela pode contar conosco para evitar, nos foros internacionais, que maiores
sanções sejam adotadas.
Não é adotando posições como essas que o Brasil se fará valer. Somos
uma nação emergente, sim. Estamos lutando para obter espaço? Sem dúvida. Mas
para tanto não é necessário procurar chamar a atenção em razão de
posicionamentos discutíveis, em favor de nações delinquentes.
Uma política externa consequente, lastreada na constância, na
previsibilidade e na responsabilidade, faria mais pela imagem do Brasil do
que todas as bravatas que têm pautado os nossos posicionamentos.
O terceiro mau exemplo que a era Lula nos está legando diz respeito à
própria imagem do presidente em si.
Todos nós passamos a vida tentando incutir em nossos filhos a idéia
de que sem estudos não se vai longe. Procuramos passar-lhes a noção de que
somente por meio do zelo, da aplicação e do esforço é que se pode sonhar
alcançar alguma coisa na vida. E tudo isso para quê?
Ninguém menos do que o nosso presidente se arvora em ser o exemplo
contrário de tudo isso. Ele se vangloria de não ter estudado.
E procura passar a imagem de que, para vencer na vida, a diligência,
o preparo e o esmero são valores inferiores à malandragem, à persuasão e à
manha.
Então, é assim? Quem conquista um lugar ao sol são os mais espertos,
e não os mais capazes?
Esses são os exemplos que Lula nos dá.
Será que posso recomendá-lo aos meus filhos?
(*) João Mellão
Neto, 46 anos, é um dos jornalistas mais lidos, comentados e acreditados da
imprensa de São Paulo e do Brasil.
Seu site:
www.mellao.com.br - E-mail:
[email protected].
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