Alto, imponente, elegante, usa uma túnica em tom ouro velho sobre a calça preta. Mesmo que não estivesse em evidência, por si só já chamaria a atenção. A barba branca e o rosto marcado que denuncia os muitos anos vividos, não o faz, mesmo assim, parecer velho. É assim que ele adentra o palco e colocando-se diante da orquestra debaixo de aplausos, começa a reger Romeu e Julieta – Abertura fantasia, de Tchaikovsky. Do lugar privilegiado de onde o assisto, posso ver seu rosto. Meus olhos fixam-se nele, em sua expressão, em seus lábios que se movem todo o tempo e que naquele instante parece conter toda a história de sua vida, de todas as vezes que ele se colocou diante de todas as orquestras que regeu; ao mesmo tempo observo  o movimento de suas mãos que fazem os gestos de dirigir a orquestra, mas que tremem incessantemente.

            Apaixono-me imediatamente por aquela figura ímpar que transmite sensibilidade, um prazer, uma paixão indescritível pelo que faz. Sou tomada por aquele momento de êxtase e total encantamento e sinto-me em outra dimensão, privilegiada por estar ali, recebendo aquele raro presente. Meus olhos vertem toda lágrima contida: uma inundação de emoção, identificação de alma e quando consigo desviar meu olhar por uma fração de segundos, percebo que não apenas eu choro.

            Maestros? Existem muitos e famosos e altamente capazes tanto quanto ou mais que ele, mas aquele homem tem 83 anos, com parkinsonismo e uma linda história, e então me dou conta que só as grandes paixões são capazes de mover pessoas a se entregarem de tal forma ao que fazem. É amor pela vida, pelas escolhas que fizeram, amor por si mesmo e quão privilegiado aquele que consegue viver assim, alcançar esta estatura. E que não favorecem somente a si mesmos, mas a tantos que como eu têm a oportunidade de compartilhar situações tais.

            A você Kurt Masur minhas singelas palavras. 

Nota: Os Maestros Kurt Masur e seu filho Ken-David Masur de 33 anos, dividiram o palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, dia 31.07.2010, finalizando uma programação de três apresentações.