80 anos.
Meu aniversário no fim deste ano.
Como será a festa que imaginei?
Das onze vezes em que sobre uma cama
as dores do parto me fizeram mãe,
uma esperança, uma dor que se fazia alegria.
Anos e anos de noites frias
a pedir a Deus que os livrasse do mal.
Não imaginava viver a agonia
de estar em um tribunal
e por trás das lágrimas vislumbrar rostos
tão conhecidos de uma vida inteira,
tão próximos, tão meus, viscerais!
Meus filhos, salvo dois ou três,
todos de uma só vez
me deram o tiro fatal.
Ser velha! Sim, velha!
para nada valho mais.
Tremer ante uma juíza que dizia,
que quase implorava
enquanto eu sofria:
É mãe! É mãe! É  mãe!
E o que eu ouvia:
Vinte e cinco reais!
Era o q eu valia!
Há muito custo: duzentos e dois!
Eu valho no máximo: duzentos e dois reais!Isto é o quanto vale uma mãe
imperfeita, pouca instrução, incapaz
de saber como se faz para educar filhos
que respeitem, que perdoem, que amem
independente do que eu fui e sou.
Aonde está o amor? não existe mais?
Rostos irreais!
Que repudiam, renegam,
Que me insultam e violentam
um coração que logo irá embora
e nunca mais...