Se me pergunto quem sou,
ao certo não sei dizer,
se perguntam aonde vou,
como posso responder?
de que barro fui moldada,
que luz acende meus olhos,
que canção me arrebata,
que dor sorrateira é
a que me inflige sofrer?
Serei eu marionete
movida por cordas bambas?
talvez uma bailarina
dançando numa caixinha,
que sorte será a minha
vivendo assim sem saber?
De onde vêm meus cabelos
bem da cor do azeviche,
minha boca é africana,
de índia, de holandeses?
já tentei por muitas vezes
descobrir mas foi em vão.
De que forma foram postas
cordas no meu coração
que sustenta o amor
devotado pelos filhos,
pelos pais, pelos amigos,
pelo amado, pelo irmão?
amado que nunca chega
e irmãos que vão embora
por qualquer coisa ou hora;
filhos que vão pela vida,
ou partem antes do tempo
quebram a lei natural
vamos um pouco também.
E esta saudade pungente
a chorar por tanta gente
que se foi não mais voltou,
lamentando tantos outros
que estão por perto, no entanto,
se amor traziam, murchou.
E meu pranto mais eloqüente
é por quem nunca chegou.
Assim prossigo na vida
sem saber o que ela é
sem saber se alguém virá.
Atravesso as semanas
transformam-se em meses, anos,
viram décadas, viram séculos,
enquanto posta num canto
nada sou e nada sei.
Permaneço a esperar.