O tempo duro, severo, intransigente,
marca meu rosto sutil e vagarosamente
moldando meus olhos mel com tênues linhas
que sem rumor instalam-se, desenham
labirintos sobre a face, desdenham
dos dias que se passam sem disfarce.
Oh! tempo duro, cruel e indomável
que em priscas eras meu corpo moldastes
E que agora desfazes o belo,
Trarás no bojo deste contrasenso
Algum sobejo de sabedoria?
Pois mesmo que em  tragédias eu me encontre
Sobrevém-me véus de alegria.
Afeiçoo-me às minhas novas formas
que se conformam com meus anos idos
estranhamente bem-aventurada,
como se fora nesta nova era
desabrolhar em ramagem frondosa,
momentos de esplendor e de quimeras.
Não sei o nome certo que se dá
a esta nova forma de se ver:
a alma em bendita inquietação.
Enfeito-me, seduzo e me enlevo
e à vida passageira e bendita
rendo-me leve e agradecida.
E nada que passou traz-me tristeza
E ante os meus dias já vividos,
ainda junto a mim trago a reboque
olhares indiscretos, atrevidos
nos contornos vestais do meu decote.