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P E N S A M  E N T O S    &   C I A.
1 6  /  S E T E M B R O  /  2 0 1 1

M E U       P A I
"By Lela"

 Costumamos e é até natural falarmos sobre assuntos temáticos de acordo com suas datas comemorativas como dia das mães, ano novo e tantas outras, e concordo que, quando possível, a enfatizemos, mas acho interessante versar sobre assuntos que acontecem vir passear em nossos pensamentos sem que haja uma razão específica e falar delas a qualquer tempo. Porque falo isto? O mês de agosto passou, o dia dos pais também e, ultimamente tenho lembrado muito de um personagem de importância inegável não só para mim, mas para quase cem por cento das pessoas, O PAI, neste caso particular, o meu pai que já se foi há um pouco mais de três anos.

MEU PAI.

Nem tão perfeito que a ele devotasse amor absoluto; nem tão imperfeito que lhe negasse amor e afeição.

Meu pai, um ser bem peculiar, uma figura que misturava uma certa impulsividade a um jeitão divertido e meio desastrado, era uma pessoa um tanto extravagante em tudo. Nunca conheci um pai com as características do meu.

Não muito letrado, mas autodidata, com ele aprendi História, Geografia, conhecimentos gerais antes de entrar na escola. Eu sabia de cor, os nomes de todos os países e respectivas capitais e a que continente pertenciam; todos os acidentes geográficos; nomes de presidentes, vices, estados do Brasil e suas capitais, territórios e Distrito Federal. E Matemática? um dos momentos que não esqueço foi quando eu estava aprendendo raiz quadrada e falei um número para encontrar a tal raiz e ele logo me deu a resposta exata. Fiquei pasma e nunca descobri qual o método que ele usava para saber a raiz quadrado dos números, visto que ele nunca chegou a estudar na escola tal matéria.  E não só raiz quadrada, mas fração, porcentagem, geometria...

Que pai louco eu tive: ele não usava o portão; pulava o muro, entretanto adorava usar terno e gravata. Por volta das 18h, se um cachorro latisse grosso, a gente ainda criança, gritávamos: chegou papai!!! é que ele tinha mania de chegar arremedando algum animal com tal fidelidade que, se não estávamos por perto para vê-lo imitar, pensávamos tratar-se do próprio bicho, o que acabava por nos confundir: não sabíamos se era ele ou o animal que estava a “falar”; tinha boa aparência e. além de galanteador, se passava por “lord” em qualquer ambiente, mas que ninguém o provocasse: ele não levava desaforo pra casa e, imprudente, esmurrava o desavisado se fosse o caso, o que deixava a família em sobressalto. Considero, hoje, como proteção divina, o fato dele nunca ter sido morto por alguém.

Era um vaidoso e quando usava ternos verde-oliva, adorava ser confundido com militar de alta patente; dotado de uma memória invejável,entendia de futebol como ninguém e sabia nomes de jogadores de diversos times e de integrantes de cada seleção brasileira nas diferentes copas disputadas; isto sem falar de política, os presidentes brasileiros, vices, fatos históricos, fatos políticos e tendências; forte como um touro, trabalhava incansavelmente para não deixar faltar nada à família, mesmo sendo um aventureiro, pois de vez em quando dava na telha de largar tudo e sair viajando, porém antes cuidava de deixar a casa abastecida, ou então mandava dinheiro de onde estivesse até achar que era hora de voltar; e não ficava parado, comunicativo, por onde andasse, dava um jeito de trabalhar para ganhar algum dinheiro. Dessas andanças amealhava e nos contava as histórias mais loucas e disparatadas que dariam, cada uma, um “causo” diferente.

Sem dúvida foi com ele que aprendi fazer rimas, pois cresci ouvindo-o improvisar versos para nos divertir, estilo cantador de viola, repentista, com uma facilidade e rapidez extrema, nesses versos ele se revelava um comediante. Falava de situações tão engraçadas que a gente gargalhava! Os netos adoravam conversar com ele e ainda traziam os amigos para ouvir o avô “mais legal”, segundo eles, e era um evento os meninos rolando de rir das coisas mais bobas das quais ele fazia piada. Até gravavam para continuarem rindo depois.

Mas era um tanto machista como todo nordestino da época, achava desnecessário irmos à escola (esta parte devemos a mamãe), ao mesmo tempo tinha a cabeça aberta para outras coisas, em minha adolescência, eu queria usar minissaia e minha mãe não deixava, foi o meu pai quem disse que ela poderia encurtar todas as minhas saias; aliás ela usava decotões, porque ele gostava e dizia que toda mulher deveria usá-los; era brincalhão com todas as pessoas e, em sua fase mais jovem, gostava de brincar com os filhos como se fosse um irmão mais velho. Era comum ele chegar do trabalho e todos subirem em suas costas, fazendo de conta que ele era o cavalo; quando íamos à praia, sem medir consequências, levava para a parte funda umas seis crianças nas costas, às vezes caíamos e quem não quisesse morrer afogado que desse um jeito de nadar e se safar; de outra vez ele me arremessou por cima da cerca de nossa casa, que tinha uns 3 metros de altura, para que o vizinho me pegasse do outro lado. Nem preciso dizer que me esborrachei no chão, para espanto de todos.

Encheria muitas páginas se fosse contar todas as peripécias do Seu Antônio, como mergulhar no Rio Capibaribe no Centro do Recife, em período de cheias, com o rio revolto, cheio de entulhos que vinha arrastando em seu leito desde a nascente; mas também as doces lembranças como a quantidade de frutas “leves” que ele buscava toda semana em Camaragibe: jaca, manga, fruta-pão, caju, isto sem falar das deliciosas saladas de frutas muito açucaradas que fazia para os filhos, dos sacos de castanhas, das muitas comilanças sem medida e divertidas e das brincadeiras já faladas acima.

Assim era o meu pai, de um vigor surpreendente, aos sessenta e cinco anos, já em Brasília andava uns 50 km de bicicleta, entretanto o gosto pela comida não permitiu que ele cuidasse da saúde e, com diabetes, foi perdendo a visão, e o que mais nos surpreendia era seu incrível bom humor: não reclamava, fazia piada.

Evidentemente não foram somente bons momentos, meu pai também cometeu erros, claro, mas passados três anos de sua morte, o que cultivo são as boas lembranças estas, sim, valem a pena serem revividas e tenho certeza que se fôssemos pedir para as pessoas contarem histórias sobre seus pais, iríamos ter uma coleção de narrativas interessantes e surpreendentes como é a minha sobre meu pai morto aos 81 anos, mas cheio de vontade de viver. Sinto saudades.

PUBLICAÇÃO AUTORIZADA EXPRESSAMENTE PELA AUTORA
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