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F E V E R E I R O / 2 0 1 2
Brasil
e México vão renegociar acordo automotivo
Os governos do Brasil e do México decidiram renegociar alguns pontos do acordo
automotivo. Atualmente, segundo o Planalto, o comércio bilateral no setor está
desequilibrado, só beneficiando os mexicanos. O assunto foi discutido, por
telefone, entre a presidenta Dilma Rousseff e o colega mexicano Felipe Calderón.
A conversa, que ocorreu por iniciativa do governo mexicano, foi acompanhada
pelos ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e
das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
“Vamos começar um processo de negociação dos termos do acordo já na semana
que vem. No momento atual, o acordo não é equilibrado, ele é desequilibrado
contra o Brasil. Foi uma conversa produtiva, o presidente Calderón manifestou
total abertura em rever os termos do acordo”, disse Pimentel.
O comércio de carros importados do México foi responsável pelo prejuízo de US$
1,5 bilhão (cerca de R$ 2,8 bilhões) na balança comercial brasileira. Em 2011,
pelo menos 112.024 unidades foram importadas do país norte-americano -- todas
chegaram através de fabricantes estabelecidas no Brasil.
Como resultado, o país faturou US$ 512 milhões em exportação de carros e peças
para o México, mas gastou US$ 2,07 bilhões na compra (importação) de automóveis
fabricados em unidades mexicanas.
Apesar da soma assustar, o México foi apenas o terceiro colocado no ranking
de principais origens de importações brasileiras de veículos em 2011, com
participação de 13,8%, atrás de Coreia do Sul, com 19,2%, e Argentina, com 44%,
apontam os distribuidores de veículos.
De toda forma, o Brasil cogitava utilizar a cláusula de saída prevista na
negociação com o México, o que, na prática, significaria o fim do acordo entre
os dois países. “Levantamos a possibilidade da cláusula de saída caso não se
chegasse, não se chegue a um bom termo, mas estamos certos de que vai haver. E
com a conversa com o presidente Calderón, isso ficou muito claro. O México tem
enorme interesse em manter o acordo e admite a revisão das condições”,
avaliou Pimentel.
As negociações serão conduzidas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio e pelo Ministério das Relações Exteriores e os equivalentes mexicanos e
devem começar na próxima semana com a vinda de representantes mexicanos ao
Brasil. Segundo o jornal "Valor Econômico", Patrícia Espinosa, chanceler do
México, e Bruno Ferrari, ministro da Economia mexicano estarão presentes.
A expectativa é que os dois países resolvam a questão até o fim de fevereiro.
MANUTENÇÃO, COM NOVIDADES -
Na semana passada a Anfavea (entidade que representa as montadoras que possuem
fábricas no Brasil) havia declarado ser favorável à manutenção do acordo
bilateral, mesmo que com adaptações, como forma de manter a "estabilidade e
competitividade das relações" entre os mercados.
Na conversa com o presidente mexicano Dilma deixou claro a vontade de aumentar o
nível de exigência para permitir que carros importados entrem no país.
Atualmente, a entrada de um carro do México no Brasil é permitida quando este
agrega de 30% a 35% de componentes fabricados localmente. De agora em diante, o
governo brasileiro quer aumentar este índice para algo em torno de 65%, mesmo
patamar exigido dos sócios do Mercosul, como Argentina e Uruguai, além de exigir
a inclusão de ônibus, caminhões e utilitários na conta.
“Existe disposição em se chegar a um entendimento. Houve uma reafirmação de
ambas as partes de engajamento em uma relação muito próxima política e
economicamente entre os dois países”, acrescentou Patriota.
COMPLICANDO A IMPORTAÇÃO -
Para alguns analistas, o aumento das exigências serve apenas como desculpa para
dificultar a entrada de carros importados no país. Sem conseguir reduzir o
chamado "Custo Brasil", o governo estaria dando um jeito de ampliar as barreiras
para o consumo de produtos estrangeiros, mais atrativos.
Seria, portanto, uma medida complementar à decisão de dezembro, que aumentou em
30 pontos percentuais o IPI para carros importados de mercados externos ao
Mercosul-México -- decisão que, na prática, afetou chineses, coreanos e alemães.
Agora, os mexicanos seriam incluídos na "lista negra".
Um exemplo do avanço de carros vindos do país norte-americano é o da Nissan. A
montadora, que faz parte da aliança franco-nipônica Renault-Nissan, saltou da
12ª posição geral de vendas em 2011 (1,97% de participação) para a sexta
colocação no primeiro balanço de 2012 (3,32%), divulgado hoje, empurrada
sobretudo pelas boas vendas da dupla March/Versa, importados do país
norte-americano. Além dos dois modelos, que têm apelo mais popular, a marca
também traz daquele país os médios Tiida (hatch e sedã) e Sentra. A Nissan
também vende por aqui a minivan Livina e a picape Frontier, modelos fabricados
localmente, em São José dos Pinhais (PR), mas que têm vendas mais comedidas.
Também chegam do México, sem pagar tarifa de importação, nem sobretaxa de 30
pontos percentuais no IPI, o utilitário Freemont e o compacto estiloso 500, da
Fiat; o Captiva, da Chevrolet; o New Fiesta (hatch e sedã) e o médio-grande
Fusion da Ford; o Jetta, da Volkswagen, terceiro sedã médio mais vendido do país
em janeiro; o utilitário CR-V, da Honda, líder do segmento no primeiro mês do
ano, deixando Ford EcoSport e Renault Duster para trás. O SUV Dodge Journey, da
Chrysler, co-irmão do Freemont, não paga tarifa de importação, mas arca com a
sobretaxa do IPI.
ARGENTINA DEVE OPINAR -
O endurecimento com o México, no entanto, pode ter efeitos colaterais se não
definir claramente o que ocorre com o comércio de carros entre o Brasil e outro
signatário do pacto, a Argentina -- o vizinho é responsável por um fluxo de
carros maior que o da via México-Brasil.
Firmado em 2002, o acordo de livre comércio entre Mercosul (Brasil incluso) e
México permite as importações de automóveis, peças e partes de veículos do
México com redução de impostos, mas só vale para veículos de passeio. Agora, o
Brasil deverá sugerir na revisão do acordo a inclusão de outras categorias --
como caminhões, ônibus e utilitários -- o que poderia diminuir o desequilíbrio
para a balança comercial brasileira, segundo Pimentel.
“Queremos aumentar o conteúdo regional na produção dos veículos, tanto no México
como no Brasil, e aumentar o escopo do acordo, de forma que não seja apenas para
automóveis de passeio, como é hoje. Que inclua também caminhões, ônibus e
utilitários, o que poderia melhorar o saldo, que hoje é totalmente negativo para
o Brasil”.
Falta, no entanto, combinar qual a participação da Argentina no negócio. Essa
posição é defendida, por exemplo, pelo jornalista, engenheiro e especialista no
mercado automotivo Fernando Calmon, colunista de UOL Carros. Para ele, a
Argentina vai querer e precisa ser ouvida durante a negociação das novas
relações com o México. Esta
conversa crucial tem tudo para ocorrer paralelamente ao encontro com os
representante mexicanos, uma vez que a secretária argentina de Comércio
Exterior, Tatiana Prazeres, deve chegar já na próxima segunda-feira (6) para
discutir as medidas protecionistas do governo de Cristina Kirchner contra
produtos eletrônicos oriundos do Brasil -- nada impede que a pauta seja ampliada
para incluir também carros, caminhões, ônibus e utilitários.
FONTES:
Valor Econômico, UOL, Anfavea e Agência Brasil.
(*) Fernando Toscano é o Editor-Chefe do
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Por Fernando Toscano (*)
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