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T U R I S M O
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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS
Retratos da vida
Por Márcia Castro (*)
Falta pouco para o Natal e eu, como de costume, costumo fazer uma verdadeira faxina no meu armário e nas minhas coisas pessoais. Hora de renovar e foi assim num final de semana que resolvi jogar fora algumas coisas que não mais serventia tinha. No meu armário encontrei na parte de cima, com ajuda de uma escada, um pequeno baú. Curiosa, até porque nem mais lembrava o que estava guardado, sentei e abri aquele baú, tão conhecido meu e companheiro de tantos anos da minha vida.
Era final da tarde, e ao abrir fiquei surpresa, eram fotografias, muitas fotos de diversas etapas da minha vida, principalmente de quando era criança e pré-adolescente. Foi então que viajei no tempo, uma verdadeira viagem ao olhar para cada fotografia.
Viajei para os mais diversos locais esquecidos pela memória. Viajei ali, naquele instante para Vitória, Campos, Vassouras, Valença, Paquetá, São Lourenço, Ilhéus, Porto Seguro e quase todo o norte e nordeste do país. Viajei recordando uma infância feliz, junto com meus pais e a grande família que tinha. Fotografias de Natais passados também estavam naquele baú, tão querido. A maior parte dos familiares já não mais está aqui. Mas, quando criança, ficava orgulhosa de ter uma família grande. Lembro-me da mesa enorme na sala e meu pai sentado à cabeceira. Os falatórios dos meus à mesa, os preparativos que antecediam esta data tão bonita e significativa para nós. Como qualquer criança, ficava excitada para abrir os presentes.
Parecia que estava fazendo uma viagem de trem, revendo meus pais mais jovens, assim como toda a minha família. Nesse trem havia esperança, inocência, alegria e uma grande ânsia de viver. E foi neste mesmo vagão que vivi as melhores fases da minha vida. Desconhecia a palavra morte, e nem mesmo pensava que existisse, desconhecia o compromisso, as preocupações e doenças. Meu trem transcorria nos trilhos sem quaisquer empecilhos. Transcorria reto, sem curvas sinuosas que pudesse abalar a viagem.
Olhando pela janela vivi as mais diferentes viagens, a minha infância querida - que não volta mais, a esperança que exaltava em meus olhos. Lembro-me também da pressa que tinha de tornar-me adulta. A ânsia de querer dirigir, trabalhar e fazer faculdade. Mas que grande engano! A melhor fase é a aurora da nossa vida. Quando que o compromisso é brincar e brincar. Usar os óculos e as botas iguais aos da Vanderlea – cantora de sucesso da época da Jovem Guarda era quase que uma obrigação.
O trem fizera um grande roteiro de viagem. Apenas lamento tudo ter sido tão rápido e, no entanto, quando crianças, não damos o menor valor da fase mais importante e bonita que há. O ar de inocência é o grande aliado nosso.
O trem foi muito veloz, encarregou-se de levar o meu pai muito cedo, foi de repente, em uma parada que não constava no roteiro. E assim foram com meus avós, tios e primos.
Minha descida foi rápida, sem qualquer aviso prévio. O trem parou e entrei numa outra estação, a estação da vida adulta que tanto ansiava em criança. Mas qual! Grande engano!
Foi então que fechei o meu baú com grande saudosismo. De novo coloquei ali aquelas fotografias que o tempo não trás mais de volta. Deixei ali as reminiscências de um passado feliz. Os Natais, os almoços de domingo e a minha saudosa inocência que o trem se encarregou de levá-la rapidamente. Meu pequeno baú, agora fechado e lá dentro as referências de minha vida, de minha infância feliz.
Decerto que o Natal é a data mais bela e importante. Nascimento de Jesus é tão esperado e comemorado por todos nós, cristãos. Estamos há poucos dias, as ruas enfeitadas, as árvores iluminadas e tudo é festa. Mas é com certo ar de nostalgia que hoje comemoro longe dos meus. Longe fisicamente, mas que um dia estaremos juntos. Aqui não passa de uma breve passagem, passagem esta que devemos aprender e prestar caridade e solidariedade. Sempre sendo discípulos da vida. No vai e vem das gerações.
Restaram poucos passageiros neste trem. Muito poucos, mas que com toda certeza seguiremos aguardando a próxima estação observando pelo vagão as mais belas paisagens que a vida nos proporciona.
A todos, um Feliz Natal!
(*) Márcia Castro é carioca, professora e bacharel em Turismo.
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