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C O M P O R T
A M E N T O
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Serviço
civil obrigatório
Por Tom Coelho
(*)
"Quem
serve bem o seu país
não precisa de antepassados."
(Voltaire)
A polêmica do
momento é a ampliação para oito anos do curso de medicina, com dois anos
dedicados ao SUS. Quer saber? Isso deveria ser aplicado a todos os cursos
universitários.
Vivemos em um país extremamente desigual, com elevada concentração de renda e
oportunidades restritas a poucos. Segundo relatório sobre educação divulgado em
setembro de 2012 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), apenas 11% da população brasileira com idade entre 25 e 64 anos concluiu
o ensino superior, o que nos coloca na 38ª posição entre 40 nações.
Desconsiderando-se, por um instante, a qualidade do ensino, é fato estatístico
que um diploma garante maior remuneração, oportunidades de emprego e ascensão
social. Entre os brasileiros, apenas 6,4% dos trabalhadores ganham mais de cinco
salários mínimos, índice que sobe para 33,9% entre os universitários.
Dentro deste contexto, deveria ser princípio de todo e qualquer estudante
prestar serviços à população menos favorecida. Mais do que um dever cívico ou
social, um dever de consciência.
Advogados deveriam
atuar na Defensoria Pública. Administradores, contadores e publicitários
deveriam prestar consultoria a pequenos empresários auxiliando-os na gestão de
seus negócios, reduzindo os elevados índices de mortalidade das empresas.
Engenheiros e arquitetos deveriam visitar, analisar, avaliar e sugerir melhorias
em infraestrutura de favelas, comunidades carentes e áreas públicas em cidades
pobres e abandonadas à própria sorte, dentre os 5.565
municípios existentes, muitos criados apenas para acomodar mais políticos e
cargos públicos.
Enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas e outros profissionais da saúde deveriam
seguir o mesmo destino aplicado aos médicos. Enfim, todas as carreiras deveriam
passar por uma profunda reforma em suas estruturas curriculares, com revisão da
grade associada ao ciclo básico e ampliação do chamado ciclo
profissionalizante.
Isso não significaria necessariamente a ampliação em um ou dois anos de todos os
cursos, nem tampouco a prestação de serviços pelo período proposto pelo governo
com relação aos médicos. Cada carreira precisaria ser analisada individualmente.
O fato é que, sem
generalizar, mas pontuando como maioria dos casos, os tais trabalhos de
conclusão de curso e estágios previstos nas estruturas curriculares atuais são
um engodo, pois ensinam pouco e desenvolvem menos ainda. Não é à toa que
estagiários carregam o rótulo de serviçais nas empresas, por vezes denominados office
boys de luxo.
Ao fazer isso, muitos seriam os benefícios. Aos assistidos, a redução do
abandono, a minimização do descaso. Aos estudantes, a oportunidade de exercitar
a teoria, tornando-se profissionais mais preparados e qualificados.
Porém, há alguns
pré-requisitos. Primeiro, a melhoria na qualidade do ensino, mediante
valorização dos docentes (que deverão, além de ensinar, monitorar os alunos no
período de atendimento à população) e acompanhamento rigoroso dos cursos
universitários, coibindo a ação de “uniesquinas” que surgem com objetivo
meramente pecuniário. E o melhor mecanismo para isso é a realização em todos os
cursos de um exame similar ao aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
aos formandos em Direito. Esta seria uma garantia de que as pessoas carentes não
seriam assistidas como cobaias por profissionais com baixo nível de instrução.
A segunda providência é de responsabilidade pública e concerne à infraestrutura.
Sem hospitais, postos de saúde, ambulâncias, equipamentos, remédios, de nada
adianta ter mais médicos. Analogamente, em todas as demais profissões, o
exercício do ofício demanda condições ideais de trabalho.
Terceiro, deve-se discutir com a sociedade como operacionalizar esta iniciativa,
o que envolve inclusive a remuneração dos profissionais, uma vez que durante uma
parte do período laborativo estes deverão ser remunerados. Isso afasta a tese de
“serviço civil obrigatório”.
Aos críticos de plantão não faltarão argumentos. Irão falar em cerceamento da
liberdade, nas dificuldades de alocar estudantes em regiões distantes, em uso de
mão de obra barata. A grande questão é quem terá coragem de propor e debater
esta grande revolução em prol da elevação da qualidade de ensino e da redução
das desigualdades sociais.
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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