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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / A B R I L /
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Começando
pelo quintal
Por Tom Coelho
(*)
"Não basta saber, é preciso também aplicar;
não basta querer, é preciso também agir."
(Goethe)
Pobreza, miséria, exclusão econômica. Desemprego,
analfabetismo funcional, exclusão social. Violência. Somos especialistas em
diagnóstico. Temos a capacidade singular de identificar os males que afligem
nosso país. Mapeá-los. Catalogá-los. Fazer estatísticas e promover seminários,
simpósios, dissertações, teses e livros.
Após mais de três décadas de abertura política continuamos reféns do Estado,
depositando no governo todas as esperanças de uma nação mais justa e
equilibrada, o qual, mesmo batendo recordes de arrecadação, ainda insuficientes
para equilibrar as contas públicas, não implementa políticas sociais capazes de
reduzir as disparidades e desigualdades na distribuição de renda, optando apenas
pela prática assistencialista.
Assim, passamos a assumir uma nova retórica: a do Terceiro Setor. Do sofá de
nossa casa assistimos na TV à grande festa dos artistas em favor de iniciativas
como Teleton ou Criança Esperança. Pegamos o telefone, discamos alguns números,
fazemos uma doação e, com isso, amainamos nosso sentimento de culpa. Praticamos
indulgência moral.
Outros se acastelam em seus escritórios. Reúnem-se em grupos e resolvem
constituir uma entidade sem fins lucrativos batizada de Organização não
Governamental (ONG). Então, começam uma incessante busca caça-níqueis em defesa
de um grupo ou de um interesse específico.
Muitas têm caráter relevante. Outras simplesmente não têm caráter. Algumas têm
estatuto, princípios, objetivos e metas. Outras se esquivam ao término da
primeira ação porque a coleta de centenas de quilos de alimentos não perecíveis
será suficiente para justificar o mea culpa por longos e longos meses.
Enquanto isso há os que executam uma revolução silenciosa. Pessoas que antes de
reclamarem da sujeira exposta nas ruas resolvem varrer calçada e meio-fio em
frente à própria residência. Pais que orientam os filhos sobre o perigo e a
insanidade das drogas antes de clamarem por ações incisivas por parte da
segurança pública. Empreendedores que capacitam seus próprios empregados e
visitam suas residências para avaliar as condições em que moram.
É claro que estamos diante de uma situação que margeia o risco de rompimento do
tecido social. É evidente que esperamos do gestor público maior eficiência e
transparência na aplicação de nossos recursos. Mas podemos – e devemos – de
posse de nosso patrimônio cultural, semear a prática da solidariedade, como uma
atividade de nosso cotidiano, inserida em nossas agendas, como conteúdo
programático. Não necessitamos esperar a chegada do próximo Natal para nos
preocuparmos com a questão da fome. Não precisamos aguardar o advento do inverno
para nos sensibilizarmos com o problema do frio. Atitudes admiráveis, honrosas,
estão ao nosso alcance agora. Basta cultivarmos e disseminarmos certos
comportamentos como profissão de fé.
Ao contrário do que se apregoa, não vivemos num
mundo de escassez, mas de abundância. O que existe é suficiente para todos e o
ganho de uma pessoa não precisa ser a perda de outra. Por isso,
livre-se dos excessos. Doe o que não lhe apresenta mais utilidade – roupas,
calçados, livros, brinquedos. Doe seu tempo, apenas uma fração dele, em favor de
sua comunidade, no uso de seus melhores atributos, de seu ofício. Leia para um
idoso, brinque com uma criança, converse com um enfermo. Pinte uma parede de
escola, conserte um portão de um posto de saúde. E acima de tudo, compartilhe
seu conhecimento.
Não é preciso ir longe. Comece pelo seu bairro, sua rua, seu condomínio. Ou
mesmo pelo seu quintal. Começar já é metade de toda a ação. Difundir a prática
poderá ser a outra metade.
PS: A primeira versão deste artigo foi escrita
em 2003...
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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