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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / A G O S T O /
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Vergonha
da democracia
Por Tom Coelho
(*)
“Eu fiz essa abertura aí, pensei que fosse dar
numa democracia
e deu num troço que eu não sei bem o
que é.”
(João
Baptista de Oliveira Figueiredo)
O programa eleitoral gratuito no rádio e, em especial, na TV, coloca-nos diante
de reflexões preocupantes acerca de nosso processo democrático.
Vamos começar pelo número de partidos. São 32 legendas, a grande maioria sem
qualquer expressão, nitidamente criadas ou para usufruir do Fundo Partidário
(dotações orçamentárias da União para assistência financeira aos partidos) ou
para enaltecer interesses de algumas “personalidades” (que normalmente figuram
como presidentes dos respectivos partidos). Não há como deixar de exemplificar
esta tese a partir de um Levy Fidelix, que passou a vida inteira disputando
pleitos diversos sem jamais ser eleito – atualmente é
coadjuvante em sua 13ª candidatura.
Mas o pior está em relação aos candidatos. Principiando pelo discurso
pasteurizado em defesa da “educação, saúde, transporte e segurança pública”,
tentando demonstrar autenticidade em temas que são simplesmente direitos sociais
constitucionais. “Quero ser a sua voz no Congresso”, proclamam alguns. Às favas
com esta retórica medíocre!
Candidatos despreparados, semianalfabetos, fichas-suja. Gente que deseja fazer
da política uma profissão, quando deveria ser uma missão em prol da sociedade.
Pessoas muitas vezes interessadas na infraestrutura proporcionada pelo cargo,
objetivando ganhar muito, trabalhar pouco, usufruir de benefícios, praticar
nepotismo e, uma vez ao ano, propor projetos ridículos como criação de datas
comemorativas ou “moção de aplausos”.
Segundo o portal Transparência Brasil, cada parlamentar custa aos cofres
públicos mais de 10 milhões de reais por ano! Anote aí: além do salário, há
verba para aluguel, alimentação, combustível, pesquisa, consultoria, além de
apartamento funcional com telefone liberado e gabinete com até 25 funcionários,
no caso de um deputado federal.
O ícone deste processo eleitoral tem nome e chama-se Tiririca. O segundo
deputado mais votado na história do Brasil, com mais de 1,3 milhão de votos, foi
considerado um dos melhores parlamentares do país por dois anos consecutivos
recebendo o Prêmio Congresso em Foco, que pergunta aos votantes: “Quem melhor
representa a população no Congresso?”. A julgar por este resultado, imagine como
são os piores parlamentares...
A maior distorção do processo político é o sistema de votação proporcional que
permite a um Tiririca eleger, além de si mesmo, outros três candidatos como
ocorreu na última eleição. De volta à campanha, o palhaço faz graça na televisão
em quase um minuto e meio em horário nobre, imitando Roberto Carlos, posando ao
lado de um veículo velho, sem dizer o que fez, porque nada fez e nada fará.
Desculpem-me a franqueza, mas quem o elege não o faz como voto de protesto, mas
sim como voto de estupidez.
Diante disso, difícil não se envergonhar da classe política, do processo
eleitoral e mesmo do sistema democrático como concebido.
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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