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Dezembro de
2003
2ª
quinzena - Desenvolvimento
intelectual - O ingresso para o 1° mundo
1ª quinzena - Balança
Comercial - Estamos no caminho certo?
Desenvolvimento
intelectual - O ingresso para o 1º mundo
No artigo da quinzena anterior levantei uma questão sobre a prioridade e o
direcionamento da política econômica governamental em concentrar esforços no
desenvolvimento dos negócios agropecuários, o famoso “agrobusiness”.
Estamos excessivamente concentrados nessa linha de atuação. Enquanto queremos
ser o celeiro do mundo, estamos esquecendo de investir, adequadamente, em
tecnologia nacional e desenvolvimento intelectual.
O Governo, como sempre tem feito ao longo de décadas, justifica que não há
recursos para investimentos na área. Desta
forma, a cada dia, perdemos nossos melhores cérebros, que são obrigados a
emigrar para países mais desenvolvidos aonde encontrarão apoio para
desenvolverem suas habilidades e se realizarem profissionalmente.
Essa nossa realidade “tupiniquim” tem que ser mudada. Precisamos investir em
nossos cérebros para invertermos de forma mais efetiva a balança comercial.
Para termos idéia do que isso significa basta observarmos o ciclo produtivo da
agricultura brasileira. O mesmo ciclo pode ser aplicado a inúmeras culturas:
adquire-se sementes,
adubos, fertilizantes e defensivos agrícolas (produtos desenvolvidos e por
multinacionais – enviam royalties ao exterior);
trabalha-se a terra (mão-de-obra
brasileira, porém, máquinas e implementos desenvolvidos e comercializados
por multinacionais – enviam-se royalties ao exterior);
realiza-se a colheita (mão-de-obra
nacional, porém máquinas e implementos desenvolvidos e comercializados por
multinacionais – enviam-se royalties ao exterior);
comercializa-se o grão
ao preço do mercado internacional, estabelecido com base na Bolsa de
Chicago – EUA (no caso da soja, Brasil e EUA são os maiores produtores do
produto). O preço de nossos produtos primários é determinado pelo mercado
consumidor, o que é perfeitamente normal e aceitável.
No exterior, o produto primário, sofre a seguinte destinação: é beneficiado,
sendo parte destinada a alimentação animal e outra parte para a comercialização
na forma de sub produtos. Parte desses sub produtos retorna ao Brasil (óleos,
extratos, chás, sabonetes, loções, rações, remédios, matéria-prima
beneficiada, etc), com maior valor agregado.
Se observarmos as atividades extrativas (minérios, ouro, pedras preciosas, petróleo,
etc) podemos raciocinar da mesma maneira.
Se pensarmos em serviços, programas e metodologias, podemos manter o mesmo
raciocínio.
Quantos milhões de dólares são enviados ao exterior para pagar royalties
sobre programas, metodologias e serviços de certificações? Quem recebe royalties
sobre a certificação ISO está na Suíça, país onde a atividade industrial não
é nem um pouco significativa, comparativamente ao Brasil e, muito menos, não há
a variedade de atividades que temos aqui.
Pergunto a você leitor:
Será que não temos competência para tal?
Será que não podemos desenvolver produtos e serviços de qualidade? Será que
não temos criatividade suficiente para aplicar conhecimentos em uma linha de
produção industrial procurando reduzir seus custos e otimizar a produtividade?
Será que não temos competência para avaliar nossas próprias empresas e
certificá-las?
A minha resposta a todas essas perguntas é que nós brasileiros somos
suficientemente inteligentes para tal. E as nossas dificuldades internas
afloraram em cada um de nós uma criatividade, flexibilidade e mobilidade que não
é encontrada em nenhum outro povo dos países desenvolvidos. Anacronicamente
somos todos culpados por isso, em conseqüência de nossa comodidade e complacência.
Já que nosso assunto tema é Administração, pergunto:
Em sua universidade, ao receber a lista de livros para consulta você já parou
para verificar quantos desses livros foram escritos por autores brasileiros?
Geralmente essas listas estão recheadas de livros de autoria de estrangeiros
que recebem royalties pelo capital intelectual.
Desde que nosso País foi descoberto, nos idos de 1.500, sofremos com os
estrangeiros. Fomos pilhados, roubados descaradamente e colonizados por
degredados europeus. Durante todo esse tempo nosso povo vem sendo induzido a se
conscientizar que é uma raça inferior. Vamos parar de idolatrar e imitar o
estrangeiro. Devemos absorver somente a essência do que for bom e moldar às
nossas características.
Internalizamos o conceito de dependência externa de capital intelectual. Você
tem dúvida?
Exportamos um produto primário que é beneficiado no exterior e o compramos em
seguida. É um negócio da “China”! Não. É o mercado consumidor.
Ganha mais quem investe mais em tecnologia e desenvolvimento tecnológico e
intelectual. Ganha menos que investe mais em produtos primários, o que é o
nosso caso.
O Capital
Intelectual é a porta para o desenvolvimento.
Você pode até dizer que os investimentos em desenvolvimento intelectual são
elevados e têm seu retorno no longo prazo. Concordo plenamente.
Vejamos um caso recente de duas gigantes no segmento de medicamentos. Ambas as
empresas do ramo médico-farmacêutico. Investem adequadamente ao longo dos
anos, milhões de dólares na pesquisa e desenvolvimento de produtos. Cada uma
delas desenvolveu medicamentos contra a impotência sexual que, em poucos anos,
proporcionaram o retorno de seus investimentos multiplicados em muitas vezes.
Hoje estão recebendo BILHÕES de dólares pelos seus novos produtos.
Não compensa investir no Capital Intelectual?
Enquanto isso, nossas empresas e nossos institutos de pesquisa e desenvolvimento
gastam quase a totalidade de seu tempo e recursos dedicados à sobrevivência.
Utilizam equipamentos, em sua maioria, obsoletos e ultrapassados e até mesmo
improvisados. Dessa forma, ficaremos sempre em desvantagem no comércio
internacional no tocante a valores de produtos.
Quantas toneladas de produtos primários serão necessárias para equipararmos o
equivalente de recursos necessários à importação de produtos com maior valor
agregado?
Pense nisso!
Nós administradores temos que possuir uma visão global de nossas empresas e de
nosso País. Somos co-responsáveis no processo evolutivo e devemos assumir essa
responsabilidade.
Se uma coisa vai bem, precisamos sempre melhorá-la, mantê-la competitiva e
atrativa ao mercado: otimizá-la o máximo possível. Além disso, precisamos
diversificar procedimentos, métodos e produtos buscando a ampliação na
participação do mercado consumidor.
Enquanto, mantivermos a pequenez de País prioritariamente agrícola estaremos
cada vez mais em desvantagem com relação ao comércio internacional. Temos
muito mais do que produtos primários para exportação.
Com produtos de maior valor agregado os números em nossa Balança Comercial
certamente seriam mais favoráveis.
Balança Comercial - Estamos no caminho certo?
Todo final de ano é um momento mágico.
A mudança do ano velho para o ano novo marca um momento onde todos nós
renovamos nossas esperanças. Analisamos o que fizemos e o que deixamos de
fazer, o que não fizemos e o que deveríamos ter feito.
Além disso, é um momento propício a mudanças: mudanças de atitude, de
conceitos, de preconceitos, etc.
Há quem passe a meia-noite de 31/12 apoiado em um só pé, dá pulinhos, joga
sal para o alto, faz promessas que vai mudar, vai ser melhor, etc.
Gostamos de acreditar que a partir do ano que se iniciará tudo dará certo e a
partir daquele momento mágico nossas vidas se transformarão em um eterno
“mar de rosas”, com “rios de ouro”, “jardins com flores verdinhas de dólares”,
etc...
Todos nós gostaríamos que se concretizasse tudo que pedimos, planejamos,
prometemos a nós mesmos e aos outros nesse momento mágico. Porém, nesse
momento de magia, nem sempre temos nossos desejos atendidos.
Entretanto, não podemos perder a oportunidade desse momento. Todo final de ano
é uma época propícia para a reflexão. Nessa profunda reflexão anual,
questionamos varias coisas.
Como nosso assunto-tema é administração, que tal questionarmos a administração
de diretrizes e prioridades governamentais?
Acredito que, enquanto, mantivermos a pequenez de País essencialmente agrícola
(celeiro do mundo) estaremos cada vez mais em desvantagens com relação ao comércio
internacional. Temos muito mais do que produtos primários para exportação.
Atualmente só se fala em agrobusiness. O Brasil vem aumentando, a cada
ano, as receitas do comércio internacional em conseqüência do aumento da
produtividade e da melhoria da qualidade dos produtos agropecuários.
Isso é muito bom! Mas não é ótimo. Precisamos aumentar o leque de produtos
exportáveis, principalmente produtos de maior valor agregado.
Nós, como administradores que somos, temos que questionar sempre, jamais nos
acomodarmos. Sempre temos que questionar em nossas próprias empresas ou em
nossas atividades como trabalhadores remunerados (assalariados ou contratados),
o que pode ser feito para otimizar resultados. Principalmente, em se tratando de
relações comerciais.
Já pararam para pensar que enquanto exportamos navios de soja e milho, produtos
primários, para nossos clientes internacionais, estes, por sua vez, exportam
uma caixinha com “chip” qualquer, para seus clientes brasileiros, de valor
muito superior.
Precisamos, se tivermos a pretensão de nos tornarmos uma potência mundial,
equilibrar nossa balança comercial em termos de relatividade preço/produto.
Estamos atravessando um momento favorável, no cenário internacional, fruto do
bom desempenho das ações políticas adotadas pelo Governo. Neste cenário, está
na hora do País mostrar que também pode exportar conhecimento e tecnologia.
Nossos títulos nunca estiveram tão valorizados, a credibilidade do País está
em alta, a taxa de risco está em baixa.
Este é um excelente momento para maiores investimentos em ciência e no
desenvolvimento de tecnologia nacional. Vamos acreditar e valorizar os nossos
cientistas. Temos excelentes profissionais na área. Os Centros Federais de
Educação Tecnológica - CEFET`s estão repletos de idéias, novidades e
projetos que necessitam de apoio financeiro para sua implementação comercial.
Além disso, a indústria nacional também precisa de investimentos em
tecnologia industrial para a melhoria da qualidade e produtividade. Muitas das máquinas
e equipamentos que foram importados e são utilizados nas indústrias
brasileiras poderiam ser substituídos por equipamentos genuinamente nacionais,
desenvolvidos nos Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFET´s, com
maior produtividade e qualidade, além do baixo custo.
Estamos tendo superávit na balança comercial por estarmos importando menos e
exportando mais em valores. Os valores em outubro de 2003 foram: exportações -
US$ 70,725 milhões; importações – US$ 47,311 milhões.
Com produtos de maior valor agregado certamente os números seriam mais favoráveis.
Vamos aproveitar o final de ano e o seu momento mágico e esperar que o Governo
brasileiro aumente os investimentos na ciência e tecnologia que, por sinal, foi
uma de suas bandeiras de campanha.
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