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C E R R A D O
Vegetação
Quem já viajou pelo interior
do Brasil, através de estados como
Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, certamente
atravessou extensos chapadões, cobertos por uma vegetação de pequenas árvores
retorcidas, dispersas em meio a um tapete de gramíneas - o cerrado. Durante os meses
quentes de verão, quando as chuvas se concentram e os dias são mais longos, tudo ali é
muito verde. No inverno, ao contrário, o capim amarelece e seca; quase todas as árvores
e arbustos, por sua vez, trocam a folhagem senescente por outra totalmente nova. Mas não
o fazem todos os indivíduos a um só tempo, como nas caatingas nordestinas. Enquanto
alguns ainda mantém suas folhas verdes, outros já as apresentam amarelas ou pardacentas,
e outros já se despiram totalmente delas. Assim, o cerrado não se comporta como uma
vegetação caducifolia, embora cada um de seus indivíduos arbóreos e arbustivos o
sejam, porém independentemente uns dos outros. Mesmo no auge da seca, o cerrado
apresenta algum verde no seu estrato arbóreo-arbustivo. Suas espécies lenhosas são
caducifolias, mas a vegetação como um todo não. Esta é semicaducifolia.
Com uma extensão de mais de 8,5 milhões de km2, distribuídos por latitudes que vão desde aproximadamente 5º N até quase 34º S, o espaço geográfico brasileiro apresenta uma grande diversidade de clima, de fisiografia, de solo, de vegetação e de fauna. Do ponto de vista florístico, já no século passado C.F.Ph. Martius reconhecera em nosso país nada menos do que cinco Províncias Fitogeográficas (grandes espaços contendo endemismos a nível de gêneros e de espécies), por ele denominadas Nayades (Província das Florestas Amazônicas), Dryades (Província das Florestas Costeiras ou Atlânticas), Hamadryades (Província das Caatingas do Nordeste), Oreades (Província dos Cerrados) e Napaeae (Província das Florestas de Araucária e dos Campos do Sul). Tais endemismos refletem, sem dúvida, a existência daquela grande diversidade de condições ambientais, as quais criaram isolamentos geográficos e/ou ecológicos e possibilitaram, assim, o surgimento de taxa distintos ao longo da evolução.
Com pequenas modificações, estes grandes espaços geográficos brasileiros são
hoje também conhecidos como Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos, sendo eles: o
Domínio Amazônico, o Domínio da Mata Atlântica, o Domínio das Caatingas, o Domínio
dos Cerrados, o Domínio da Araucária e o Domínio das Pradarias do Sul, segundo a
acepção de Aziz N. Ab'Saber. Como tais espaços não têm limites lineares na natureza,
faixas de transição, mais ou menos amplas, existem entre eles. A palavra Domínio deve ser
entendida como uma área do espaço geográfico, com extensões subcontinentais, de
milhões até centenas de milhares de Km2, onde predominam certas características
morfoclimáticas e fitogeográficas, distintas daquelas predominantes nas demais áreas.
Isto significa dizer que outras feições morfológicas ou condições ecológicas podem
ocorrer em um mesmo Domínio, além daquelas predominantes. Assim, no espaço do Domínio
do Cerrado, nem tudo que ali se encontra é Bioma de Cerrado. Veredas, Matas Galeria,
Matas Mesófilas de Interflúvio, são alguns exemplos de representantes de outros tipos
de Bioma, distintos do de Cerrado, que ocorrem em meio àquele mesmo espaço. Não se
deve, pois, confundir o Domínio com o Bioma. No Domínio do Cerrado predomina o Bioma do
Cerrado.
Todavia, outros tipos de Biomas também estão ali representados, seja como tipos "dominados" ou "não predominantes" (caso das Matas Mesófilas de Interflúvio), seja como encraves (ilhas ou manchas de caatinga, por exemplo), ou penetrações de Florestas Galeria, de tipo amazônico ou atlântico, ao longo dos vales úmidos dos rios. Para dirimir dúvidas, sempre é bom deixar claro se estamos nos referindo ao Domínio do Cerrado, ou mais especificamente, ao Bioma do Cerrado. O Domínio é extremamente abrangente, englobando ecossistemas os mais variados, sejam eles terrestres, paludosos, lacustres, fluviais, de pequenas ou de grandes altitudes etc.
O
Bioma do Cerrado é terrestre. Assim, podemos falar em peixes do Domínio do Cerrado, mas
não em peixes do Bioma do Cerrado. A ambiguidade no uso destes dois conceitos - Domínio
e Bioma - deve sempre ser evitada. Por esta razão, usaremos Domínio do Cerrado quando
for o caso, e Bioma do Cerrado ou simplesmente Cerrado quando quisermos nos referir
especificamente a este tipo de ecossistema terrestre, de grande dimensão, com
características ecológicas bem mais uniformes e marcantes.
Dentro deste espaço caberiam Alemanha Oriental, Alemanha Ocidental, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Grã-Bretanha, Holanda, Suíça, cujas áreas somadas perfariam 1.970.939 km2. Haveria ainda uma pequena sobra de espaço. Isto nos dá bem uma ideia da grandiosidade deste domínio, tipicamente brasileiro. Ele ocorre desde o Amapá e Roraima, em latitudes ao norte do Equador, até o Paraná, já abaixo do trópico de Capricórnio. No sentido das longitudes, ele aparece desde Pernambuco, Alagoas, Sergipe, até o Pará e o Amazonas, aqui como encraves dentro da floresta Amazônica.
A vegetação do Bioma do Cerrado,
considerado aqui em seu "sensu lato", não possui uma fisionomia única em toda
a sua extensão. Muito ao contrário, ela é bastante diversificada, apresentando desde
formas campestres bem abertas, como os campos limpos de cerrado, até formas relativamente
densas, florestais, como os cerradões. Entre estes dois extremos fisionômicos, vamos
encontrar toda uma gama de formas intermediárias, com fisionomia de savana, às vezes de
carrasco, como os campos sujos, os campos cerrados, os cerrados "sensu stricto"
(s.s.). Assim, na natureza o Bioma do Cerrado apresenta-se como um mosaico de formas
fisionômicas, ora manifestando-se como campo sujo, ora como cerradão, ora como campo
cerrado, ora como cerrado s.s. ou campo limpo. Quando percorremos áreas de cerrado, em
poucos km podemos encontrar todas estas diferentes fisionomias. Este mosaico é
determinado pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou pouco menos pobres, pela
irregularidade dos regimes e características das queimadas de cada local (frequência,
época, intensidade) e pela ação humana. Assim, embora o
Bioma do Cerrado distribua-se predominantemente em áreas de clima tropical sazonal, os
fatores que aí limitam a vegetação são outros: a fertilidade do solo e o fogo. O
clímax climático do Domínio do Cerrado não é o Cerrado, por estranho que possa
parecer, mas sim a Mata Mesófila de Interflúvio, sempre verde, que hoje só existe em
pequenos relictos, sobre solos férteis tipo terra roxa legítima. As diferentes formas de
Cerrado são, portanto, pedoclímaces ou piroclímaces, dependendo de ser o solo ou o fogo
o seu fator limitante. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta sua
fisionomia às derrubadas feitas pelo homem para a obtenção de lenha ou carvão.
De um modo geral, podemos
distinguir dois estratos na vegetação dos Cerrados: o estrato lenhoso, constituído por
árvores e arbustos, e o estrato herbáceo, formado por ervas e subarbustos. Ambos são
curiosamente heliófilos. Ao contrário do caso de uma floresta, o estrato herbáceo aqui
não é formado por espécies de sombra, umbrófilas, dependentes do estrato lenhoso. O
sombreamento lhe faz mal, prejudica seu crescimento e desenvolvimento. O adensamento da
vegetação lenhosa acaba por eliminar em grande parte o estrato herbáceo. Por assim
dizer, estes dois estratos se antagonizam. Por esta razão entendemos que as formas
intermediárias de Cerrado - campo sujo, campo cerrado e cerrado s.s. - representem
verdadeiros ecótonos, onde
a vegetação herbácea/subarbustiva e a vegetação arbórea/arbustiva estão em intensa
competição, procurando, cada qual, ocupar aquele espaço de forma independente,
individual. Aqueles dois estratos não comporiam comunidades harmoniosas e integradas,
como nas florestas, mas representariam duas comunidades antagônicas, concorrentes. Tudo
aquilo que beneficiar a uma delas, prejudicará, indiretamente, à outra e vice-versa.
Elas diferem entre si não só pelo seu espectro biológico, mas também pelas suas
floras, pela profundidade de suas raízes e forma de exploração do solo, pelo seu
comportamento em relação à seca, ao fogo, etc., enfim, por toda a sua ecologia. Toda a
gama de formas fisionômicas intermediárias parece-nos expressar exatamente o balanço
atual da concorrência entre aqueles dois estratos.
Troncos e ramos
tortuosos, súber espesso, macrofilia e esclerofilia são características da vegetação
arbórea e arbustiva, que de pronto impressionam o observador. O sistema subterrâneo,
dotado de longas raízes pivotantes, permite a estas plantas atingir 10, 15 ou mais metros
de profundidade, abastecendo-se de água em camadas permanentemente úmidas do solo, até
mesmo na época seca.
Já a vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies
predominantemente perenes, possui órgãos subterrâneos de resistência, como bulbos,
xilopódios, sóboles, etc., que lhes garantem sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes
são geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais,
secando e morrendo durante a estação seca. Formam-se, então 4, 5, 6 ou mais toneladas
de palha por ha/ano, um combustível que facilmente se inflama, favorecendo assim a
ocorrência e a propagação das queimadas nos Cerrados. Neste estrato as folhas são
geralmente micrófilas e seu escleromorfismo é menos acentuado.
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