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7
Vidas
"Até a morte, tudo é vida”.
(Cervantes)
Certamente você não integra a classe dos felinos. Porém, ainda que não
saiba, possui o direito régio sobre 7 vidas, presenciadas não seqüencialmente,
mas simultaneamente no decorrer de sua existência.
O artigo apresentado a seguir é um preâmbulo do livro a ser lançado em 2004. Assim, não houve como ser mais conciso mesmo tratando as idéias com
superficialidade.
Integrar, conciliar, harmonizar
estas 7 vidas pode significar o caminho mais curto, a menor distância
para você encontrar o sucesso e a felicidade.
Vida
nº 1 – Saúde e Esporte
Seu corpo em primeiro lugar. Não é uma questão de egoísmo, de narcisismo,
mas de necessidade. Mantendo-se bem você estará apto a buscar o melhor em
todas as suas demais vidas. Por isso, alimente-se bem, fazendo ao menos quatro
refeições diárias, adequadamente balanceadas. Beba dois litros de água ou
sucos por dia e durma o número de horas que seu corpo solicita – 6 horas ou
menos para alguns, 8 horas ou mais para outros. E, muito importante, procure
estabelecer uma regularidade em seus horários. Em outras palavras, se for para
dormir às duas horas da manhã, porque você apresenta um melhor rendimento
durante a madrugada, faça-o sempre. Se o seu metabolismo mostra-se desejoso
pelo almoço apenas às três da tarde, está ok. Em suma, não brigue com seu
biorritmo. Faça as pazes com ele. E faça um check-up anual, visitando
do dentista ao cardiologista. Prevenção custa menos e apresenta resultados
mais favoráveis.
Além de seguir a receita acima, não se esqueça de praticar esportes. Truco e
halterocopismo estão descartados. Você terá que encontrar uma atividade física
capaz de mexer com seus pulmões e seu coração, praticando-a com freqüência.
Pode ser caminhada, cooper, natação, musculação, esportes coletivos.
Realmente não importa. Escolha uma opção que lhe seja agradável – busque
prazer no que vai fazer ou não conseguirá dar continuidade, correndo o risco
de frustrar-se.
Pare de fumar, ou troque o cigarro por um bom charuto, ou fume menos. Seja
criterioso com as bebidas alcoólicas. Escolha suas “baladas” com sabedoria,
tirando o máximo proveito de cada investida. Aprenda a respirar e a meditar.
Cultive boa postura, olhar confiante e sorriso autêntico.
Muitos têm grandes famílias – aquelas em estilo italiano. Alguns, famílias
reduzidas aos pais e irmãos. Outros, famílias distantes, na geografia ou na
memória. Independentemente de onde você se situa, cuide bem de todos eles.
Seja a nona, com sobrinhos, primos e
toda uma árvore genealógica em volta; sejam os pais idosos, aposentados ou na
ativa; sejam irmãos, com os quais tanto se discute e discorda; sejam entes
queridos, presentes apenas em filmes super-8, retratos em preto-e-branco, cartas
amareladas pela ação do tempo. Respeite e aprecie suas origens. Aproveite hoje
para dizer o quanto ama seus pais, sem medo de parecer clichê. Infelizmente,
pode não existir chance melhor para isso. Telefone, peça perdão e aprenda a
perdoar. Descubra o poder de um abraço revestido de ternura e sinceridade.
Dê toda a atenção possível a seus filhos, se ou quando os tiver. Compartilhe
cada pequena vitória do desenvolvimento deles. Elogie-os constantemente.
Policie-se no uso da palavra não – você pode negar algo de forma construtiva, propondo
alternativas. Brinque com eles de cavalinho no meio da sala, atire travesseiros
quando estiverem no quarto – e aproveite para ensiná-los a colocar tudo em
ordem depois. Cole os desenhos deles nas paredes da garagem, do corredor e de
seus quartos como se fossem obras-primas – você ficará admirado com o brilho
orgulhoso que irá reluzir daqueles pequeninos olhos. Participe de suas
atividades escolares, das festinhas de aniversário dos colegas e beije-os antes
de dormir, mesmo que ao chegar eles já estejam no sétimo sono.
Cultive também seus amigos – não estou falando de networking,
são coisas bem diferentes. Um telefonema inesperado para quem não se vê há
muito tempo é incrível, mas você não consegue imaginar o poder que um
telegrama tem! Passamos pelos mensageiros, percorremos os telégrafos,
conhecemos o telex e o fax, vivemos através do e-mail e logo estaremos no uso
da telepatia. Mas nada supera uma mensagem escrita, meio antiquada, com aquelas
letras Times e os erros de digitação da atendente.
E, finalmente, cuide de seu coração.
Não do nível de colesterol e triglicérides – isso você já fez na sua
primeira vida – mas do nível de ansiedade, de desejo, de paixão. Procure
escolher as pessoas certas, mas também não tente escolher muito. Seja
seletivo, porém flexível. Valorize virtudes, seja condescendente com os
defeitos. Seus e dos outros. Abdique de amores impossíveis ou não
correspondidos – ou aprenda, por opção, a conviver com eles, evitando
penitenciar-se. Nunca existirá sentimentos únicos, pois eles estão sempre em
mutação.
Meu estimado Robert Wong lembra com muita propriedade que você deve
aprender a distinguir trabalho, emprego, profissão, carreira e vocação, além
de uma outra categoria ainda mais nobre chamada missão de vida. Você iniciará
sua vida com um mero trabalho que poderá ganhar status de emprego,
conferindo-lhe maior segurança. Então você resolverá estudar e dedicar-se ao
seu ofício, transformando a labuta em profissão. Olhará então para acima da
linha do horizonte e decidirá ir mais além, criando seu próprio plano de
carreira. Mas a verdade surgirá quando você permitir-se ouvir o que sua voz
interior tem a lhe dizer. Aquele sussurro divino que vem desestabilizá-lo
quando sua carreira parece tão próspera. Exatamente quando você conquistou
poder e bens materiais, mas não consegue entender o porquê de certa frustração
latente todos os dias ao voltar para casa. Aquela voz é sua vocatione,
o chamado de Deus, dizendo-lhe para mirar não onde está o dinheiro, não onde
está o poder, não onde está o status, mas onde está a felicidade – e onde
você encontrará todas aquelas outras coisas que lhe cercavam antes, porém as
usufruirá com um olhar maroto, um sorriso de canto de boca e uma sensação de
alívio bem dentro do peito.
Todas as pessoas bem sucedidas são
unânimes em afirmar que chegaram onde estão porque fizeram aquilo de que
gostavam. Este é um pressuposto básico. Sem prazer e entusiasmo, não há
produtividade no trabalho, não há paixão no beijo.
Trabalhe muito, mas
principalmente inteligentemente. Seja verdadeiro, mas esteja atento às
armadilhas dos escritórios. Desenvolva relacionamentos cordiais e invista em
sua rede de contatos. Aprenda a planejar, estabelecer – e escrever – metas
factíveis e desafiadoras e procure enxergar-se dali a um, cinco, dez e vinte e
cinco anos. Administre seu tempo para dar o melhor de si sem comprometer suas
demais vidas. Os workaholics estão
sempre seguros de que têm apenas esta vida – além de um copo d’água e
quatro horas de repouso, é claro.
Sua quarta vida é um complemento natural da anterior. Para auxiliar o processo
de descoberta de sua vocação você deverá investir em conhecimento e
autoconhecimento. Ler jornais, revistas, livros, gibis e bulas de remédio.
Ouvir rádio e ver televisão. Saber dos planos de guerra dos EUA e do último
eliminado no reality show tornarão
você mais sociável e interessante para outras pessoas, pois lhe permitirá
conversar sobre tudo e com todos.
Assista a filmes no vídeo e no
cinema, vá ao teatro, a shows, bares, museus, exposições. Aprenda um novo
idioma com fluência e faça cursos diversos, desde especializações em sua área,
até culinária, massagem e pintura. Desenvolva novas habilidades. Utilize mais
a mão direita se você for canhoto e coloque suas calças a partir da perna
esquerda pela manhã. Mexa com seus sentidos.
O homem é um ser social e deve
aprender não apenas a viver, mas também a conviver. Por isso, busque a integração
em seu meio. Participe das happy hours
com seus colegas de trabalho, das reuniões de condomínio, do bingo beneficente
da escola. Convide para jantar um casal de amigos, leve-os para ir juntos ao
clube ou para jogar carteado.
E participe da vida comunitária, exercendo sua solidariedade na medida de suas
possibilidades. Você poderá começar doando sangue, evidentemente se preencher
os pré-requisitos necessários. Poderá visitar creches ou asilos ou apenas
participar de uma campanha para arrecadação de agasalhos ou alimentos. O menor
ato será sempre grandioso. E não se deixe enganar: solidariedade pratica-se no
dia-a-dia, com uma palavra de carinho e conforto a quem está entregue à
melancolia e é colocado diante de você pelo Homem lá de cima...
É, a vida material existe sim,
é claro. Muitos que escrevem sobre comportamento parecem desejar negligenciar
este aspecto e acabam por reduzir a credibilidade de suas argumentações.
A maioria de nós, mortais, associa a felicidade ao bem-estar, este ao conforto,
este à posse de bens materiais. Guardadas as devidas proporções, cada qual
tem suas ambições, seus desejos. Não há nada de errado em se desejar morar
bem, ter um belo carro, roupas de fino corte, mesa farta. Ao contrário, devemos
mais é promover a prática desta ética protestante. A maior inquietude está
no fato de tantos privilegiarem a sexta vida em detrimento de todas as demais,
buscando a acumulação de riqueza como finalidade em si mesma.
A última das sete vidas deveria ser, na verdade, a primeira. Mas prefiro tratá-la
como a cobertura do bolo de chocolate: coloca-se ao final, mas saboreia-se
primeiro. Se você deixar de lado a cobertura, não vai sentir assim tanta
satisfação com o bolo, por melhor e mais macia que esteja a massa. Por outro
lado, se comer cobertura demais, poderá experimentar terríveis dores
abdominais – daí porque o beato acaba sendo persona
non grata.
Paulo Coelho foi emblemático ao afirmar que “A fé é uma conquista difícil,
que exige combates diários para ser mantida”. Acostumamo-nos a exaltar a
presença divina por força de nossas dificuldades, mas raramente o fazemos para
enaltecer nossos méritos.
A sétima vida é base para todas as outras. Ainda que você não tenha se
encontrado dentro de nenhuma doutrina específica, sua crença particular está
dentro de você. Mesmo para o agnóstico, seu cérebro é seu refúgio. As
religiões, disse Gandhi, são como caminhos diferentes que convergem para um
mesmo ponto. Que importa que tomemos itinerários diferentes, desde que
cheguemos à mesma meta? Por isso, explorem este sentimento. Necessitamos da fé
para transpor obstáculos, para nos superarmos, para nos compreendermos.
Palavras
Finais
Há cerca de seis meses (NOTA DO EDITOR:
disponibilizada na 1ª coluna de setembro/2003) escrevi um artigo intitulado “O Caminho do Meio” que
felizmente foi compartilhado por muitas pessoas. O texto era introduzido por uma
frase de André Gide segundo a qual “Todas as coisas já foram ditas. Mas como
ninguém escuta, é preciso sempre recomeçar”.
O texto era uma reflexão de caráter pessoal mas impressionei-me com o fato de
seu conteúdo estar tão próximo do cotidiano de tantas pessoas. Mudavam nomes,
endereços e CPF’s, nada mais. Certo dia, deparei-me com outra frase, esta de
Jay Chiat, que dizia: “Passei minha vida procurando ordem e produzindo o
caos”. A partir de então coloquei-me a investigar porque estávamos sempre tão
distantes do aclamado equilíbrio. E foi quando percebi que não bastava buscar
a ordem em um único campo do conhecimento. Não bastava obter o equilíbrio em
apenas um dos papéis desempenhados na minha vida pessoal. Era preciso
identificar todos os papéis, ouvi-los e harmonizá-los. Do contrário, a vida
seria um eterno recomeço.
Hoje, conhecedor de minhas 7 Vidas, já não sei mais se me exijo à altura do
que desejo. Sei apenas que me espero na medida exata do que eu preciso.
Tom
Coelho
Matéria da 3ª semana de novembro / 2003
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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