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01
/ setembro / 2005
“Há
vários motivos para não se amar uma pessoa.
E
um só para amá-la”.
(Carlos
Drummond de Andrade)
QUINZE
ANOS
Por Tom Coelho,
colunista-titular do PortalBrasil (*)
Entre os
universos de homens e mulheres o que os une é a solidão. A sociedade
moderna nos tornou tão mecânicos que perdemos a capacidade de nos
apaixonar. Construímos um muro em nosso redor com tijolos de intolerância.
Ficamos tão seletivos que ficamos sós.
Há uma queixa recorrente e consensual entre as mulheres. Atualmente, está
se tornando uma missão quase impossível encontrar um homem que reúna
características como cavalheirismo, inteligência e intelectualidade aos
atributos de um autêntico Don Juan,
tais como masculinidade, sensualidade e beleza física. Tudo o que elas
querem é alguém capaz de tirar-lhes o fôlego, surpreendê-las, fazê-las
perder a racionalidade. Mas que depois as traga de volta ao plano terreno,
à objetividade e pragmatismo necessários, sem deixar esvair o
encantamento.
Há também um consenso entre os homens. Nos dias de hoje, há mulheres para
se curtir e mulheres para se namorar. E raramente são as mesmas. A expressão
usual assemelha-se a: “Uma garota como esta não se encontra por aí...
Cuide bem dela, mantenha este relacionamento. E aproveite para se divertir
com as mulheres erradas, enquanto isso”.
Entre um universo e outro o que os une é a solidão. Mulheres de um lado,
homens de outro, compartilhando a vida com amigas e amigos, à espera de
serem “tirados para dançar”. Parece que a sociedade moderna nos
robotizou, tornou-nos tão mecânicos que perdemos a capacidade de nos
apaixonar. E, mais ainda, de amar. Construímos um muro em nosso redor com
tijolos de intolerância. Ficamos tão seletivos que ficamos sós.
Amar é olhar para outra pessoa e mais do que admirá-la, contemplá-la,
observando seus traços, suas feições, seus movimentos e não desejar
perder nem um milésimo de segundo, negando-se até mesmo a piscar. É ver a
imagem da pessoa amada refletida em outdoors, estampada no rosto de
personagens da televisão. É ter uma música em comum que marca um momento
especial ou que se tornou especial por apenas representar a lembrança de um
momento. Lembro-me de Mário Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”.
Amar é dialogar, o que significa falar, mas também saber ouvir. Ter a
sensibilidade para perceber quando o outro precisa apenas dizer tudo e de
todas as formas, muitas vezes sem a preocupação de que você esteja
ouvindo. Basta sua presença. Olhos que sinalizam atenção, silêncio que
pronuncia respeito. Acolhimento, conforto, generosidade. Dar como alimento o
carinho.
Amar é descoberta. É desvendar sem pressa o passado de quem se gosta não
pela neurose de uma investigação, mas pelo prazer de apreciar aquela história
como quem ouve um pequeno conto infantil ditado pelos pais ao lado da cama.
Amar é tolerância, é concessão. Não significa mudar e nem exigir que se
mude, mas estar disposto a se adaptar e esperar que se faça o mesmo.
Ajustar expectativas, alinhar propósitos. È caminhar lado a lado, olhando
juntos na mesma direção, ainda que com visão periférica apurada.
Maiakovski pontuou acertadamente: “Amar não é aceitar tudo. Aliás,
onde tudo é aceito, desconfio que haja falta de amor”.
Amar é transparência, é dizer o que se pensa, sabendo a hora de falar. É
não praticar a omissão achando ser possível empurrar conflitos para sob o
tapete até que um dia o vento espalhe tudo, maculando o que foi construído.
Transparência que gera credibilidade, que leva à confidencialidade, que
conduz à lealdade. A lealdade que surge não como um dever, mas como
resultado da satisfação do exercício da plenitude, de sentir-se completo.
Amar é tocar. É beijo que acelera o pulso. Sexo com longas preliminares e
aconchego posterior. Dormir abraçado, acordar junto. Filme com pipoca,
chuva romântica do lado de fora. Cuidar e ser cuidado. Promessas insanas de
juras eternas – a eternidade que se perde num instante. É dividir a
liberdade.
Amar é superar adversidades, enfrentar o desafio da geografia que, às
vezes, distancia fisicamente dois corações. É sentir a saudade como fruto
da partida.
Amar é intensidade, é compreender a impermanência do tempo, sua
relatividade. Significa rasgar os estúpidos calendários, quebrar os
imponentes relógios e compreender que o tempo tem uma outra dimensão. É
preferível um amor intenso de 48 horas a uma vida insípida compartilhada
por uma década.
Amar é se mostrar um grande espelho e permitir que o outro possa mirar-se
em você. Ver a si próprio enxergando aquilo que é mais virtuoso, mais
nobre. É ver de maneira perfeita uma pessoa imperfeita. É buscar o equilíbrio,
tomar cuidado com a ansiedade, a angústia, a incompreensão e as cobranças.
É ter coragem de também sofrer.
Amar é tudo isso e um pouco mais. Ação que não se descreve, mas que se
pratica. Coisas que sabíamos fazer quando adolescentes, aos quinze anos,
quando éramos mais intrépidos, menos racionais e, por isso, capazes de
sermos mais felizes.
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de setembro / 2005
(*) Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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