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A D E E C O N O M I A
01 / junho / 2005
DISTORÇÃO NO SETOR BANCÁRIO
Por Marcos Cintra
Pesquisar juros como
propôs o presidente Lula não é uma ação indicada para reduzir o custo do crédito
no país. As taxas pouco oscilam em uma mesma modalidade de empréstimo ou
financiamento entre as diferentes instituições bancárias. De acordo com o
Procon, os sete maiores bancos cobravam em abril juros de 5,2% a 5,9% no empréstimo
pessoal e de 8,3% a 8,4% no cheque especial.
Até recentemente a
discussão sobre o elevado custo do crédito no Brasil tinha como foco principal
a taxa Selic definida pelo Banco Central. Não se questionava as razões que
levavam o juro primário a ser multiplicado por oito em determinadas modalidades
de crédito quando os bancos concediam empréstimos aos tomadores finais.
Em meados de 2003 o
jornal O Estado de S.Paulo publicou o artigo “Its the spread, stupid”,
de minha autoria, onde levantei a questão da concentração bancária como
fator determinante para os elevados juros no Brasil. Introduzi no debate um
aspecto microeconômico fundamental para explicar uma anomalia que penaliza
dramaticamente o setor produtivo nacional. Na mesma época a economista do FMI,
Agnés Belaisch, concluiu em um estudo que os bancos no Brasil agem de modo
oligopolístico e não são eficientes. Recentemente, o economista Charles
Collyns, também do FMI, fez a mesma afirmação.
As instituições
financeiras no Brasil chegam a cobrar na concessão de crédito até nove vezes
o que pagam para captar recursos. Os bancos oferecem juros de 18% ao ano ao
aplicador e cobram em média de seus clientes, conforme apurou em abril a
Anefac, taxas anuais de 160% no cheque especial, 52% no CDC, 94% no empréstimo
pessoal, 64% no financiamento do capital de giro, 57% no desconto de cheque e
95% na conta garantida.
O poder dos bancos no
Brasil fica ainda mais evidente quando se observa que os spreads praticados aqui
são 10,2 vezes mais elevados que a média verificada nos países emergentes.
Dados de 2003 apontam que a diferença entre o custo de captação dos bancos e
o valor cobrado dos clientes foi em média de 43,7 pontos percentuais em nosso
país contra 3,9 pontos em outras nações em desenvolvimento.
Impressiona o poder dos
bancos no Brasil. Práticas oligopólicas no setor financeiro são rigorosamente
fiscalizadas em economias como a dos Estados Unidos, onde qualquer evento com
indícios de possível acordo entre banqueiros são punidos severamente por
organizações de defesa da concorrência.
No Brasil é comum
observar o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) atuando contra os
cartéis na indústria. No entanto, na área bancária tal atitude não se
verifica. A entidade, assim como a SDE (Secretaria de Direito Econômico) e a
Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), deveriam agir de modo articulado
para enfrentar o forte oligopólio bancário.
Outra medida
providencial em defesa da concorrência seria reduzir os spreads
praticados pelos bancos comerciais do governo. Os juros cobrados em linhas de crédito
livre pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil acompanham o mesmo
patamar praticado pelos bancos privados. Ao invés de fazer parte do oligopólio
bancário, o segmento estatal, dado seu peso no estoque de crédito, deveria
atuar como agente de estímulo à concorrência no setor. A redução de seus spreads,
com a conseqüente queda nos juros finais, forçaria o segmento privado a seguir
o mesmo caminho.
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PUBLICAÇÕES
AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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