Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

- I N T E L I G Ê N C I A      P O L Í T I C A -
01 / fevereiro / 2006

HISTÓRIA - Capítulo 3:
JK e o rompimento com o FMI
Por Luís Nassif

            O que impressionava Walther Moreira Salles em JK era a extrema simpatia. Não mais que isso. O embaixador via em JK uma pessoa ignorante em política econômica e financeira, cigano, sem lealdades. Terminou seu governo sem saber o que era FMI e Banco Mundial. Não tinha vínculos com nada. Tinha um círculo de amigos formado por ex-contrabandistas, não tinha contatos intelectuais. Apenas a simpatia? Não apenas. O embaixador reconhecia em JK uma enorme coragem pessoal, demonstrada na campanha presidencial. Quando anunciou sua intenção de se candidatar, JK foi procurado por Nereu Ramos, alertando que os militares não tolerariam sua candidatura. Não recuou, conquistou a candidatura em praça pública.

            Admitia, também, que ele conseguiu criar um clima desenvolvimentista extraordinário no país. Os objetivos de crescer, de montar planos dominavam o país inteiro, de administrações estaduais a pequenas e médias empresas.

            JK detestava as más notícias. Certa noite numa varanda do Palácio Laranjeiras, Walther e JK conversavam. A varanda era mobiliada com móveis de vime, compondo o típico cenário de uma calma noite tropical. Nisso, chegou um mensageiro para JK;

- O Ministro Lucas Lopes quer falar com o senhor.

            JK pôs as mãos na cabeça:

- O Lucas só me dá más notícias.

O rompimento com o FMI

            Com o país marchando para um confronto com o FMI, Campos foi chamado ao Rio. Suas relações com JK não eram boas. Tempos atrás sentiu-se traído pelo presidente na questão do petróleo com a Bolívia. Campos havia montado uma proposta de constituição de uma empresa privada brasileira, com a participação de capitais americanos. Visava beneficiar-se de incentivos fiscais criados pelo governo americano para estimular a prospecção de petróleo fora do país, preservando suas reservas internas por razões estratégicas.

            Para melhor aproveitar os incentivos fiscais haveria a constituição de uma empresa que no Brasil teria maioria de capital brasileiro, na Bolívia maioria de capital americano. Mas que, de qualquer modo beneficiaria o Brasil, pois todo o petróleo descoberto seria para consumo brasileiro, permitindo economizar capitais e reservas cambiais, já que o capital americano viria em forma de contrato de risco -- ou .de "recursos aleatórios" conforme a terminologia por ele criada.

            JK havia apoiado o acordo e Campos passou a implementá-lo. As notícias sobre o acordo acabaram deflagrando pesada campanha nacionalista, comandada à esquerda pelo Partido Comunista, à direita por Carlos Lacerda. Ambos defendiam a tese de que caberia à Petrobrás comandar a operação. Quando estourou a guerra política, inclusive com a criação de uma CPI, Campos viu-se abandonado por JK. Do mesmo modo que Lucas Lopes. Ambos constataram que, quando entrava em jogo seus interesses, JK não tinha amigos.

            Apesar de zangado com JK, ao ser consultado sobre o rompimento com o FMI, Campos recomendou que não tomasse nenhuma atitude precipitada, e compareceu à reunião no Palácio do Catete acompanhado de Bicalho e Amaral Peixoto, que acabara de deixar a embaixada brasileira em Washington.

            Há tempos Amaral pensava em indicar Walther Moreira Salles seu sucessor na embaixada. Em um bilhete datado de 26 de outubro de1958, Ciro Freitas Valle, embaixador do Brasil da ONU, e um dos mais reputados secretários gerais do Itamarati informava Walther: "Ernâni passou hoje por Nova York e me confirmou dever deixar a Embaixada em janeiro. Falamos da substituição e não custaram minutos para estabelecermos que tinha de ser você".. Mas o bilhete acabou esquecido nos arquivos e na falta de notícias de Amaral.

            Ao chegar ao Palácio, Campos encontrou JK reunido com a ala esquerda do BNDES. Estavam lá Cleantho de Paiva Leite, Celso Furtado e Evaldo Correia Lima. Não se sabe o que mais contrariou o grupo: se a presença de economistas nacionalistas ou o fato de constituírem-se em economistas juniors do BNDES, atropelando os economistas seniores.

            O clima era de uma euforia louca. Juscelino estava entusiasmado com a possibilidade do rompimento com o FMI transformar-se em bandeira popular de peso. Já estava planejando o grande comício de junho no Catete. Havia recebido Luiz Carlos Prestes que comandava uma passeata curiosa. Entre as palavras de ordem, viam-se ao lado de um "abaixo Lucas Lopes ", "morra Roberto Campos " -- o único slogan da esquerda que não sofreu solução de continuidade por mais de duas décadas seguidas -- e "abaixo o imperialismo americano", um insólito "abaixo o custo de vida".

            Abaixo!


CLIQUE AQUI E LEIA MAIS COLUNAS SOBRE POLÍTICA

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SEU AUTOR
PROIBIDA A REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI