ESPECIAL -
AVIAÇÃO
"Faltarão milhares de pilotos nos próximos anos"
De preferência, que seja disciplinado, tenha boa aparência, saiba trabalhar em equipe e tenha disponibilidade para voar a qualquer hora. É recomendável que fale inglês. O salário inicial é de R$ 2 mil e pode passar dos R$ 18 mil para comandante de voo internacional. Como se pode perceber, a oportunidade está batendo na porta de quem quer seguir carreira de aviador. O número de profissionais que deve se formar nos próximos anos não será suficiente para preencher as vagas que surgirão, especialmente com a proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas, que vão trazer muitos estrangeiros para o Brasil e aumentar o movimento nos aeroportos. A previsão é de que vai faltar piloto em cinco anos.
Sinal de alerta para as companhias aéreas. Muitas planejam adquirir novos aviões para dar conta da grande quantidade de passageiros que terão interesse em cruzar o território brasileiro e, para isso, precisam aumentar o quadro de funcionários. O tempo é curto, considerando que um piloto leva, em média, dois anos para se formar. Porém, o desafio será uma ótima oportunidade para o país provar que não é só bom de bola e o caos aéreo é problema do passado.
Diretor da Esaer Escola de Aviação Civil, o comandante Luiz Eustáquio Moterane defende que a solução para o problema está no planejamento, pois a expansão do setor é inevitável. ''O poder econômico tem evoluído mais que as expectativas e as rodovias não estão conseguindo atender a demanda, então a aviação se faz cada vez mais necessária e presente'', esclarece. O problema é que, para acompanhar o ritmo da economia, as empresas precisam ter mais profissionais disponíveis no mercado. ''Se hoje você precisa comprar um avião, em dois dias ele está no Brasil, e em uma semana já está operando. Nesse período você não forma um piloto.''
Moterane destaca que o governo está investindo na formação de pilotos, justamente porque está preocupado com a escassez de mão de obra. No ano passado, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ofereceu bolsas de estudos para alunos de todo o Brasil - em Minas foram 47. O benefício cobre 75% dos gastos com as aulas, que podem chegar a R$ 70 mil. Com isso, o Ministério da Defesa quer dar uma chance para quem sonha em voar e não tem condições de arcar com as despesas do curso.
O alto investimento é um dos
empecilhos para muitos
jovens que tentam se
aventurar na carreira de
aviador. Para se tornar
piloto privado (PP), a
primeira graduação, que
permite guiar apenas
aeronaves de pequeno porte,
o aluno chega a gastar R$ 14
mil. Depois, precisa
desembolsar mais dinheiro
para obter a licença de
piloto comercial (PC). A
partir daí é que ele pode
entrar no mercado de
trabalho e se formar piloto
de linha aérea (PLA). Caro,
na verdade, não é a
mensalidade do curso. São as
horas de voo que o estudante
precisa ter para se formar.
O preço de uma hora pode
passar de R$ 300 e, para
tirar a licença de PP, ele
tem que provar que já voou,
no mínimo, 150 horas.
''Vou ver a Copa do Mundo
e as Olimpíadas lá de cima'',
brinca a secretária Lívia
Martins Ferreira de Souza,
de 27 anos, que estuda para
ser piloto. O sonho de voar
surgiu na adolescência, mas
ela demorou a ter condições
de bancar o curso. A solução
foi juntar dinheiro e pedir
ajuda para os pais, que
estão na maior expectativa
de ver a filha comandar uma
aeronave. Até se formar,
Lívia vai continuar
trabalhando o dia inteiro em
um consultório médico.
Apesar de ser a única mulher
na sala de aula, ela não se
intimida. ''Hoje, temos
mulher que é presidente. Se
faço o que gosto, tenho mais
é que arriscar.''
Lívia passou na prova
teórica da Anac e só está
esperando receber o
certificado para começar as
aulas práticas. ''Infelizmente,
a gente está presenciando
uma crise na aviação por
falta de profissionais, mas
para quem está estudando é
ótimo. Daqui a pouco vou
estar empregada, se Deus
quiser'', aposta a
secretária, feliz em saber
que está investindo, na hora
certa, em um mercado tão
promissor. ''Acho fantástico
fazer uma máquina daquele
tamanho funcionar. É isso o
que eu quero para o resto da
minha vida.'' Ano que vem
ela já quer estar voando
alto.
Planos ousados
- Com o
crescimento da aviação
brasileira, impulsionado
pelo bom momento da economia
e também pela proximidade da
Copa do Mundo e das
Olimpíadas, as companhias
aéreas estão com planos
ousados. A Gol vai renovar a
frota e, no ano que vem,
espera estar com 115 aviões
no ar, três a mais que tem
hoje. Até 2014, ano em que o
país vai sediar o mais
importante campeonato de
futebol, a TAM Linhas Aéreas
quer ampliar de 150 para 168
o número de aeronaves. Para
que as novas máquinas possam
voar, a empresa espera
contratar 600 tripulantes,
entre pilotos e comissários,
ainda este ano.
Outra companhia que está em
expansão é a Azul Linhas
Aéreas Brasileiras, que vai
investir mais de US$ 3
bilhões até 2016. Para o ano
que vem está prevista a
chegada de oito aviões de 70
lugares. A empresa também
quer unir mais de 50
destinos até a Copa do Mundo
(hoje são 26) e no ano das
Olimpíadas do Rio de Janeiro
espera ter 7.500
funcionários, o que
representa um aumento de
mais de 100%. ''Você pode
ter a melhor tecnologia do
mundo. Se não tiver gente,
não consegue operar. As
pessoas são a chave de tudo'',
comenta o gerente de
Recursos Humanos, Johannes
Castellano. Na opinião dele,
os mais difíceis de
encontrar serão pilotos,
técnicos em manutenção e
despachantes operacionais de
voo.
Comissário é o que não falta
e as empresas não têm
dificuldade para contratar
os recém-formados. O
comandante Luiz Eustáquio
Moterane, diretor da Esaer
Escola de Aviação Civil,
conta que lá se formam 50
alunos a cada quatro meses
e, de vez em quando, ocorre
de uma companhia pedir 250
indicações de uma só vez. ''Para
cada avião que ela compra,
precisa contratar 40
funcionários. Para cada
porta da aeronave precisa-se
de 10, porque um está de
folga, outro está na chefia,
o colega está de férias.''
Giuliano Berossa, de 28
anos, já trabalhou como
bancário e atendente de call
center, mas descobriu na
aviação o emprego dos
sonhos. Há cinco anos ele é
comissário de bordo e já
chegou ao topo da carreira.
''Somos um dos poucos
profissionais treinados para
lidar com o que se espera
que nunca aconteça: a
emergência. O essencial é
você gostar de pessoas,
porque passa a maior parte
do tempo com o cliente.''
Na época em que se
formou, o comissário teve um
pouco de dificuldade para
conseguir emprego, mas
reconhece que foi um momento
atípico. ''A aviação tem
altos e baixos. Quando
terminei o curso, a Vasp,
Varig e Transbrasil fecharam
e o mercado ficou um pouco
mais restrito'',
relembra. Mas Giuliano
concorda que agora é a hora
de investir na carreira, já
que o mercado está em
expansão.
Antes que você pense que não
tem chance de concorrer a
uma vaga porque não é loira,
alta nem tem olhos azuis,
preste atenção. ''Para
ser comissário, não precisa
ser bonito não, mas tem que
se expressar bem, ser
simpático, estar sempre de
bom humor. Tem que
demonstrar que tem
disponibilidade para viajar
e ficar à disposição da
companhia aérea'',
explica o diretor da
StarFlight Academia de
Aviação, Francisco Pio
Ferreira Bessa. ''As
empresas também sentem muita
necessidade de que o
candidato tenha segundo ou
terceiro idioma,
preferencialmente, inglês e
espanhol.''
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FONTE:
Correio Braziliense,
17.01.2011.