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T U R I S M O
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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS

 

Turismo inusitado
Por Márcia Castro (*) 

O horário para ser atendida era às 16 horas. Depois de ter lido quase todas as revistas, olhei impacientemente para o relógio e marcava 17h40min. Era a minha primeira consulta e olhei ao meu redor na esperança do tempo passar mais rápido. Minha intenção era analisar cada uma daquelas pessoas. Antes, porém, observei atentamente o consultório. Todo branco, portas, paredes, chão e assentos, tudo branco, inclusive a grande janela que totalmente fechada parecia ter uma espécie de insulfilm branco não permitindo assim a entrada do sol e nada se avistava, não se via absolutamente nada. Minha impressão era de que a vida estava do outro lado e, assim, muito distante de mim naquele momento. O consultório estava prevalecendo pessoas idosas, numa faixa etária de 78 anos em diante. De certo que havia pessoas mais novas, mas prevaleciam os mais idosos. Foram nestes rostos que parei pra refletir um pouco sobre a vida. Todos estavam lá com o único objetivo de ouvir uma palavra, um diagnóstico positivo, a fim de que pudessem aproveitar o resto dos anos. Expectativa e ansiedade eram o que se lia em todos os rostos, dos mais novos aos mais velhos, mas principalmente dos mais idosos.

Foi neste momento que parei para pensar na vida. A maioria que lá se encontrava estava acompanhada de filhos ou de profissionais capacitados. Um ambiente nada agradável e uma espera interminável faziam daqueles rostos, já tão envelhecidos, nascer a expectativa de uma vida melhor. Foi então que pensei o quanto que é triste envelhecer e que todos ali viveram tempos felizes e conheceram um mundo melhor, sem violência - agora dependiam da boa vontade dos profissionais, dos filhos ou netos. E pensei também que cada um deles deveria ter uma grande história de vida. As mãos já envelhecidas de uma senhora que aparentava 84 anos, aproximadamente, com anéis e pulseiras, refletia uma senhora de personalidade e vaidade grande, entretanto deixava transparecer uma grande tristeza, sem qualquer expectativa de vida.

Certa ocasião mencionei em uma matéria que a vida era uma viagem. Olhando fixamente para a grande janela branca, pensei em uma viagem maravilhosa do outro lado da janela: "lá, sim, existia vida e muitas coisas a serem exploradas.. e no quanto que a nossa vida é efêmera, efêmera até demais". Entretanto nunca paramos para pensar a esse respeito até nos depararmos numa difícil situação, e, então, nos agarramos com força para continuarmos aqui. E nesse momento que me pergunto por que não fazer de nossas vidas uma maravilhosa viagem? Sim, foi o que pensei em fazer quando saísse dali. O ambiente me consumia cada vez mais até porque parecia que eu e todos ali que estavam eram pessoas mortas - transparecia o outro lado da vida. Os rostos eram ansiosos, tristes, mas com o compromisso de tentar traçar por uma viagem melhor.

Quando finalmente saí, senti a vida correr nas minhas veias, quis vivenciar novas experiências, novos locais que sempre quis e nunca fui simplesmente não ter tempo suficiente ou disposição. Tive grande impulso em correr, gritar, sair por aí, sem hora para voltar. Viajar sim, mas uma viagem diferente da que costumo escrever aqui. Viajar na vida, fazer tudo que temos vontade, pensando simplesmente no fato de que a nossa vida é uma viagem curta. E nesse exato momento continuo viajando, viajando por diferentes restaurantes que apresentam culinária exótica, viajo na natureza, aproveitando a imensidão do mar e na mata explorando o silêncio e a calma que ela apresenta. Viajo por diversos locais, encontrando com minhas amigas e o mais importante de tudo, valorizar cada dia que passamos com vida. Óbvio que por mais que seja pesada a nossa carga, ninguém quer partir. A esperança também faz parte da nossa viagem terrena. Fé e esperança são as nossas eternas companheiras. Por que não comprar aquele livro que tanto quis e nunca teve tempo para ler? Fato é que nossa vida é corrida por demais.

Recentemente li um livro da Zélia Gattai, autora de “Anarquistas graças a Deus” e achei interessante uma passagem em que ela diz que naquele tempo tinha-se tempo para tudo. Comia-se devagar, dormia-se cedo, enfim, vivenciou uma vida bem melhor comparada aos dias de hoje. Temos por obrigação viajar na vida, seja por diferentes locais explorando diferentes culturas ou, então, viajar dentro de si mesmo, na sua própria cidade, conhecendo lugares dos quais sempre quis conhecer - visitar museus, explorar o centro da cidade com as antigas ruas, bibliotecas, ou igrejas lindas que temos. O turismo para a terceira idade vem crescendo, com destinos apropriados e inusitados tendo como finalidade fornecer ao viajante tranquilidade, prazer e lazer. Viajar? É possível em qualquer faixa etária e diferentes roteiros de acordo com a disponibilidade financeira do viajante. É uma terapia a viagem em qualquer idade, entretanto os turistas da terceira idade são os que mais viajam, uma vez que os filhos estão criados, além da geralmente maior estabilidade financeira.

O que desejo salientar aqui e de suma importância é a viagem que o ser humano tem aqui na vida. Refiro-me a qualidade de vida de cada um de nós. Podemos viajar ou não. Mas podemos viver num mundo melhor e fazer da nossa viagem terrena uma viagem inesquecível, fazendo valer cada segundo de felicidade e paz interior.

E por que não fazer uma viagem ao País das Maravilhas? Sim, recordar o passado com pessoas da mesma geração faz tão bem quanto trocar ideias com os mais jovens. Não vivi a década de cinquenta, mas gostaria de fazer uma viagem através do tempo que minha mãe tanto comenta. Portanto, vamos recordar? Seja qual for sua idade, viaje através das mais belas recordações, que é tão válida quanto viajar aos locais não imaginários. Apenas faça sentir valer a pena. Afinal, a viagem se manifesta de diversas formas.

Aqueles rostos tristes, já desencantados da vida, e muitas vezes desrespeitados pelas famílias que vi no consultório médico decerto que estariam mais satisfeitos se pudessem compartilhar suas histórias de vida, de um tempo feliz que não volta mais. E hoje o que lhes resta é somente, e tão somente um viver solitário - cada um com suas próprias lembranças e recordações. Que todos nós possamos viajar das mais diferentes maneiras, desde que a felicidade entre em nossos corações.

(*) Márcia Castro é carioca, professora e bacharel em Turismo.

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