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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / D E Z E M B R O /
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O
resgate da inocência
Por Tom Coelho
(*)
“Crianças, ao contrário dos
adultos,
sabem aproveitar o
presente.”
(Jean de la Bruyère)
Tive o
prazer de desfrutar de uma experiência singular: a primeira apresentação de balé
de minha filha de quatro anos.
O evento, idealizado e organizado com carinho e competência por Patricia Famá,
reuniu mais de 50 alunos de sua escola distribuídos em quatorze performances
temáticas. Mas um detalhe em especial levou-me a uma reflexão que gostaria de
compartilhar: a diferença entre as apresentações infantis e juvenis.
As exibições das crianças, com faixa etária de quatro a doze anos, mas
notadamente daquelas com até sete ou oito anos de idade, foram marcadas por
características similares. As pequenas bailarinas entravam no palco com um
sorriso contagiante no rosto. Reunidas em grupos de três a sete participantes,
era comum observá-las se entreolhando, perguntando umas às outras sobre o enredo
esquecido, e buscando guarida na professora, que escondida por detrás da
cortina, estava sempre a postos para caprichosamente orientá-las.
Durante o espetáculo, era possível notar o desenvolvimento da técnica e o
aprendizado pelo qual cada aluna passou. Mas, em virtude da tenra idade, era
natural que não houvesse uma sincronia nos movimentos. Para os convidados, isso
pouco importava. Claro que ali estavam pais, mães, irmãos e avós prontos para
aplaudir a qualquer cena. Mas o fato primordial era a alegria daquelas crianças
por estarem ali maquiadas, vestidas com um figurino especial, entre amigas e
diante de seus familiares.
Já as exibições dos adolescentes tinham outras nuances. A preocupação primordial
era a técnica, a obediência à coreografia, a perfeita sincronia. Era perceptível
o preparo, o treinamento, a entrega daqueles jovens. Analogamente, a plateia
também assistia com outros olhos, pois o que presenciava eram futuros
profissionais da dança.
Todavia, aquele sorriso espontâneo, eventualmente até permeado por um diálogo
aberto entre duas pequenas amigas em pleno palco, era substituído por feições
mais contidas nos adolescentes. Certamente havia alegria em seus corações, mas
os semblantes transmitiam, sobretudo, responsabilidade e até mesmo a dor física
do esforço da dança.
Entre as crianças, um erro na coreografia era imediatamente acolhido pelas
demais que procuravam ajudar à colega. E o público se divertia, sentindo a
leveza daquele tratamento, como que aprendendo uma nova maneira de lidar com as
vicissitudes, dando-lhes importância na medida exata de sua adequação. Já entre
os adolescentes, um equívoco era recebido com olhar de censura ou pedido de
atenção. E novamente o público se identificava, possivelmente reconhecendo ali
um padrão de comportamento adotado nos palcos da vida.
Isso nos faz refletir sobre como a vida adulta se torna chata na medida em que
nossas pernas crescem. Compromissos, deveres e responsabilidades depositam
tamanha carga sobre nossos ombros que
substituímos a espontaneidade
pela artificialidade, a emoção pela razão, o prazer pela obrigação.
Precisamos resgatar, com brevidade, um pouco da inocência perdida,
inspirando-nos na pureza das crianças.
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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