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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / J U N H O /
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O
clichê, o básico e o simples
Por Tom Coelho
(*)
“A imitação é, até nova ordem, a
única escola da originalidade."
(Georges Duhamel)
Sala de
aula, congresso, programa de TV. Em qualquer destes cenários, não é preciso
olhos e ouvidos muito atentos para notar como o uso de clichês está disseminado
no discurso de professores, palestrantes e especialistas.
Há uma profusão de ideias prontas, previsíveis, quando não arcaicas e
retrógradas. Uma repetição de mais do mesmo – às vezes, menos do mesmo –
proferidas como se fossem pérolas contemporâneas do conhecimento. Vamos a alguns
exemplos.
No Marketing, são os 4Ps (product, price, promotion, place), cunhados em
1960 por Jerome McCarthy, versando sobre produto, preço, propaganda e ponto de
venda. Para sintetizar o anacronismo do conceito, trabalho atualmente com uma
matriz ampliada de 15Ps, fundamentada nos escritos de Francisco Alberto Madia de
Souza.
Em RH, é o CHA (conhecimento, habilidade, atitude), proposto em 1996 por
Scott B. Parry, que já associava tais aspectos à performance, o que foi
esquecido pela maioria dos divulgadores. A este respeito, leia minha sugestão de
“Neocompetência”, formulada em 2011.
No Direito, frases como "O processo é uma relação jurídica trilateral: Estado,
autor e réu", ou "Deve-se analisar a verdade por todos os lados, porque ela tem
inúmeras faces" e a máxima “Todos são inocentes até que se prove o contrário".
Acredite, há quem use deste jargão em petições e mesmo em sustentação oral.
A lista é imensa. Na TV, especialistas em finanças pessoais “revelam” que
“deve-se comprar à vista e evitar o cheque especial”. A sustentabilidade
continua sendo declamada a partir do
“triple bottom line”
(aspectos econômicos, sociais e ambientais), uma criação de John Elkington em
1990, que desconsidera fatores como dimensão cultural e governança. A imagem de
um iceberg é utilizada para demonstrar que “o visível é muito inferior ao que
está oculto”. E o clássico da motivação: a foto de
Ayrton Senna, uma de suas belas frases e o “tema da vitória” entoado ao fundo.
O problema do clichê é que ele não contesta, não provoca reflexão, não
transforma, não evolui, pois lhe falta originalidade. E o mais preocupante é que
há pessoas – e não são poucas – que aplaudem, possivelmente devido a um
repertório restrito, decorrência direta de nosso processo educacional e do
hábito não cultivado da leitura. Não é arrogância ou prepotência, mas
constatação. Falta-nos o básico, o estrutural, o fundamental.
É por isso que defendo “um passo atrás na educação”. Explico-me. De que adianta
tentar ensinar trigonometria, e depois derivadas e integrais, se o indivíduo
sequer domina as quatro operações básicas? Qual o propósito de diferenciar
orações subordinadas entre substantivas, adjetivas ou adverbiais, se o estudante
mal sabe ler, pouco compreende do que lê, e não consegue reunir o mínimo de
coesão e coerência ao redigir um texto?
Isso nos remete à simplicidade. É imperativo difundir ideias e conceitos que
possam ser entendidos, compreendidos e apreendidos pelos interlocutores. Mas
fundamentalmente, que sejam úteis e aplicáveis, porque só assim poderão ser
incorporados – in
corpore, ou seja, poderão
tornar-se parte de quem vivencia.
Há muito para ser dito, mas os tempos atuais clamam por textos mais objetivos.
Por isso, embora eu desejasse agradar a gregos e troianos, espero que este
artigo seja uma luz no fim do túnel para você -
lembrando sempre que devagar se vai ao longe e que a esperança é a última que
morre. Ops,
também caí na armadilha do clichê!
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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