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A D E E C O N O M I A
1 6 / J
U N H O / 2 0 1 3
Consumo
e inflação
Por Professor Marcos Cintra (*)
O consumo das famílias tem sido o principal sustentáculo da economia brasileira. A demanda interna se fortaleceu por conta dos programas de seguridade, da expansão do crédito e da ampliação da massa salarial.
Nos últimos anos, mais pessoas passaram a desfrutar de programas de assistência social, cujos repasses vêm sendo reajustados acima da inflação. Outro elemento determinante para a alavancagem da demanda doméstica foram os ganhos reais dos benefícios previdenciários até um salário mínimo, contingente que responde por dois terços do total.
A seguridade social tem sido importante para aquecer o mercado interno, mas cabe destacar o que ocorre no mercado de trabalho e no crédito à pessoa física. O índice de desemprego hoje é metade do que era há dez anos e o rendimento real médio mensal dos trabalhadores nesse período cresceu de R$ 1,4 mil para R$ 1,8 mil.
No que se refere ao crédito para as pessoas físicas os números também são impressionantes. Em janeiro de 2001 o volume total de recursos para os consumidores equivalia a 5,5% do PIB e hoje esse montante corresponde a mais de 15% do PIB. O que não tem faltado é dinheiro para financiar automóveis, eletrodomésticos, imóveis, passagens aéreas etc.
Uma das áreas onde o volume de crédito mais tem crescido é o imobiliário e essa expansão deve continuar. Seis anos atrás o saldo dessa modalidade equivalia a 1,6% do PIB e hoje representa 7,1% do PIB, devendo chegar a 11% do PIB em 2014. A construção civil contempla um dos maiores multiplicadores de renda e emprego da economia e esse volume crescente de recursos aplicados no setor tem sido um dos principais responsáveis pela manutenção da demanda aquecida.
O maior potencial do consumo doméstico brasileiro é positivo, mas seu ritmo de expansão deveria ter sido acompanhado pelo crescimento da oferta agregada. Ocorre que a demanda avançou numa velocidade maior que a produção e o resultado foi a pressão sobre o nível de preços. A inflação ao consumidor se descolou do centro da meta de 4,5% há algum tempo e hoje se mantém próxima de seu limite de 6,5%.
Para tentar conter a inflação, o Copom começou elevar a Selic em sua última reunião, mas seus efeitos somente serão sentidos entre seis e nove meses. Esse é o tempo que normalmente os juros básicos levam para causar impacto na atividade econômica e amenizar as pressões sobre os preços.
Em termos de política fiscal cumpre dizer que o governo contribuiu para a atual pressão inflacionária ao elevar seus gastos de 24% do PIB para 26,5% do PIB em apenas dois anos. Foi um ingrediente importante para a elevação dos preços.
O governo tem um enorme desafio pela frente. Não atuou quando a inflação ameaçou subir e hoje tem que contê-la sem comprometer os avanços nos programas sociais, no mercado de trabalho e no crédito. É necessário zelar pela estabilidade monetária sem destruir o nível de bem estar alcançado por uma maior parcela da população nos últimos anos e sem impor mais sacrifícios ao setor produtivo.
(*) Marcos Cintra
Cavalcanti de Albuquerque
é
doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e
vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Internet:
www.marcoscintra.org / E-mail:
[email protected]
- Twitter:
http://twitter.com/marcoscintra.
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PUBLICAÇÕES
AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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