O goleiro Dyogo viu sua vida passar como um filme na cabeça, no dia 8 de fevereiro de 2019, um incêndio se alastrou por contêineres destinados à alojar jovens no Ninho do Urubu e matou 10 dos colegas do goleiro nascido em Fortaleza, no Ceará. Quatro anos depois, ele foi herói do bicampeonato brasileiro sub-20 do Flamengo ao pegar pênalti de Allan, do Palmeiras.

Ficou uma semana internado, sendo cinco dias na UTI e após receber alta ele voltou a treinar em poucos meses.

O goleiro foi o primeiro dos sobreviventes do incêndio no Ninho do Urubu a assinar contrato profissional com o Flamengo, em 2020, após convocações para a seleção brasileira sub-15.

Seus amigos, entretanto, nunca saíram da sua cabeça — e ficaram em sua pele. O goleiro fez uma tatuagem com a data da tragédia e a fase “Garotos do Ninho”.

“Me faz pensar por eles, porque todos eles queriam estar aqui e ter uma oportunidade dessa. Sei que eles estão num lugar melhor que a gente, não tenho dúvida disso. Deus não quis me levar naquela hora, queria me deixar para eu fazer história ou com a camisa do Mengão ou por outro clube”, destacou Dyogo após a confirmação do título, ainda no gramado do Raulino de Oliveira.

O incêndio no Ninho, em 2019, atingiu o alojamento pelas categorias inferiores do Fla. No momento do incêndio, 26 meninos dormiam no local. Dos 16 sobreviventes, três tiveram de passar por um período no hospital após o resgate, incluindo Dyogo.

Apenas três dos 10 sobreviventes seguem no Flamengo. Além do goleiro, continuam no clube o volante Rayan Lucas, também campeão brasileiro sub-20, e o zagueiro Jhonata Ventura, que teve 35% do corpo queimado e demorou quase dois anos para voltar aos campos.

Escalação após titular ser vendido

Embora seja um dos destaques da base do clube e treine com os profissionais, Dyogo nem entraria em campo na final contra o Palmeiras. Por conta de um rodízio, o Flamengo teria Kauã Santos no gol na decisão. O titular, entretanto, foi vendido para o Eintracht Frankfurt, da Alemanha.

“Estou sentindo algo inexplicável. Aconteceram várias coisas, e ninguém tira o propósito de Deus. Trabalhei muito, sabia que a oportunidade ia chegar. Kauã ia jogar a final e foi vendido. Dedico esse título a ele e à minha família em Fortaleza. Abraço para minhas irmãs e meus pais. Muito bom ganhar. Querendo ou não, acabei ajudando nos pênaltis” disse, após o título.

Depois de fechar o gol e garantir o 0 a 0 no tempo normal, Dyogo ainda teve tempo de ser herói. Durante a disputa de pênaltis, Allan correu para a cobrança para o Palmeiras e bateu fraco. Com os pés, o goleiro do Flamengo defendeu e colocou o Rubro-Negro em vantagem.

O jogo ainda ficou marcado por outro lance em que o sobrevivente do incêndio do Ninho do Urubu participou. O lateral Ian, do Palmeiras, tentou uma paradinha e viu sua cobrança ser invalidada. Na sequência, o Fla se manteve em vantagem e fechou a série em 3 a 2.