Ingressos para São Paulo e Flamengo na decisão da Copa do Brasil, no Morumbi, se esgotam em meio a questionamentos sobre valores muito altos e confusão na distribuição.

Gabriela Sabino

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Para os Tricolores, a decisão da Copa do Brasil contra o Flamengo, no Morumbi, é o grande assunto em pauta desde a classificação sobre o Corinthians no dia 16 de agosto.

Quase um mês depois, a distribuição dos ingressos para o segundo jogo da final, que será realizado no estádio do Morumbi no próximo dia 24, domingo, deste mês, é o principal assunto da torcida. Mas mesmo com dez dias de intervalo entre a data do sorteio que definiu o último palco do confronto e a abertura das vendas, o Tricolor não conseguiu se organizar e foi muito criticado pelos preços altos e enorme confusão na distribuição dos ingressos, que estão todos esgotados.

Com a confirmação de Julio Casares, presidente do clube, na edição da última segunda-feira, 11 de setembro, no programa Roda Viva, da TV Cultura, a expectativa era de que todos os motivos da insatisfação são-paulina fossem explicados e o mandatário conseguisse dar alguma transparência ao torcedor. Não foi o que aconteceu.

Contornando muitas das perguntas ao abordar outros assuntos, repetindo frases prontas, dando justificativas questionáveis e nem sempre respondendo aquilo que lhe foi perguntando, Casares pouco esclareceu aos torcedores, principalmente aos que estiveram presentes em tantos momentos ruins do São Paulo recentemente e vão acabar fora do Morumbi na grande decisão.

É óbvio que a grande maioria da torcida, a terceira maior do país, não cabe no estádio que atualmente comporta pouco mais de 66 mil torcedores, mas transparência sobre os valores dos ingressos, a carga para sócio torcedores e as dificuldades do site que comercializa as entradas era o mínimo depois de tantas reclamações e problemas que repercutiram na última semana.

Ingressos: preço e a Total Acesso

A primeira reclamação do torcedor do São Paulo relacionada à venda de ingressos para a final da Copa do Brasil foi sobre os altos preços. A entrada mais barata foi comercializado por R$ 200,00 aos torcedores comuns e que não possuem planos com desconto, enquanto o ingresso de arquibancada mais caro foi de R$ 700,00. Já o custo das cadeiras variaram de R$ 400,00 até R$ 1.500,00, enquanto camarotes saíram por R$ 2.000,00.

É compreensível que os ingressos sejam mais caros do que de costume, já que se trata de uma final de Copa do Brasil, etapa que o São Paulo só alcançou em 2000. Mesmo assim, os valores tão elevados, ainda mais para um clube que vem se orgulhando de ter preços baixos e se chamando até mesmo de “o mais popular”, não fazem sentido. Na semifinal contra o Corinthians, o ingresso de arquibancada mais barato custou R$ 75,00, enquanto o mais caro foi R$ 200,00. As cadeiras iam de R$ 150,00 a R$ 400,00, e os camarotes não ultrapassavam R$ 800,00.

Como se não bastasse o valor exorbitante, os ingressos para a decisão também quebraram uma das promessas de campanha de Julio Casares, que era de comercializar as entradas para o setor popular pela metade do preço do setor mais barato. Como um ingresso para a Arquibancada Sul (Laranja) era R$ 300,00, o setor popular (Arquibancada Norte) deveria ter sido R$ 150,00 ao invés de R$ 200,00. O presidente do São Paulo foi perguntado sobre isso, mas não respondeu, além de jogar a culpa no Flamengo ao abordar os demais preços.

“O primeiro jogo é no Rio de Janeiro. O Flamengo anunciou a venda e, de uma forma ou outra, tabela (o preço), principalmente o preço do visitante. O torcedor do São Paulo tem um preço fixado de R$ 700,00, com a eventual meia-entrada de R$ 350,00. Nós temos que repetir na reciprocidade. Os preços do São Paulo são 50% dos do Maracanã. Eu não estou achando que isso é o razoável, mas nós temos de entender que o torcedor do São Paulo, que bate todos os recordes, que se tornou a torcida mais popular do Brasil e que vem correspondendo… o São Paulo hoje é líder nas arrecadações. Nós tínhamos que precificar o Morumbi, que é muito grande, garantindo o setor popular, que é uma realização da nossa gestão. Tem o setor popular coberto e descoberto, são 14 mil lugares. Esse (ingresso do setor popular) tem o valor de R$ 200,00. É pouco? Não, ainda é muito, mas é uma forma de você tentar equilibrar as contas de um clube que chega na final”, disse.

“As torcidas organizadas compram ingresso, nós não cedemos em hipótese nenhuma. Agora, a torcida organizada é uma entidade que existe, regular e que acompanha o clube nos lugares mais distantes, em temperaturas frias ou de muito calor. Outro dia aconteceu um acidente muito grave com torcedores do Corinthians, que nós lamentamos. Eles viajam em algumas condições ruins, mas apoiam o clube e compram ingresso. Pela dimensão desse jogo no Morumbi, deve ter mais de 1,5 milhão de pessoas querendo assistir, mas nós temos uma capacidade que restringe. Agora, também é importante dizer que o preço médio do sócio torcedor é R$ 50,00 por jogo. Com o plano de sócio torcedor não se garante o ingresso, garante uma janela de compra. Quando o torcedor tenta comprar o ingresso, às vezes em um minuto há milhares de torcedores querendo comprar, é um grande espetáculo “, completou.

Segundo o próprio São Paulo, todos os ingressos foram comercializados pela internet, mas todos terão de ser trocados por uma versão física. Ao anunciar isso, o clube ainda informou que as trocas acontecerão do dia 14 ao 21 de setembro na bilheteria do Morumbi. Foi mais um fato que irritou os torcedores, principalmente aqueles que não moram na capital paulista e não conseguirão retirar as entradas antes do final de semana da segunda partida da final.

Ao abordar o assunto, Julio Casares garantiu que pontos de trocas estarão à disposição nos dias 23 e 24, mas não deu informações quanto aos locais em que serão realizados e horário de funcionamento. Isso, claro, depois de falar sobre temas sem qualquer relação com o que lhe foi perguntado.

“Quando eu cheguei no São Paulo, e é um processo de reconstrução, tinham quatro processos na Fifa contra o São Paulo. Você sabe o que é um transfer ban e sabe a consequência disso. Então, eu tinha que me preocupar com isso e me preocupar com o todo. Nós sabemos que, no âmbito esportivo, nós devolvemos a autoestima ao torcedor. Se vai ganhar ou perder, nós não sabemos, mas fomos campeões em 2021, em 2022 chegamos em duas finais e uma semifinal de Copa do Brasil e em 2023 estamos em outra final. Isso é time competitivo. Se vai ganhar ou perder, é outra coisa. Nós estamos devolvendo essa autoestima. Atacamos o marketing, que começou a trazer novo faturamento para o São Paulo. Implantamos um plano integridade em que tem compliance” contornou o mandatário antes de, enfim, responder sobre o assunto.

“Quando você chega na venda de ingresso, que eu não vou deixar de falar, nós temos um funil que acontece também em outros clubes. Nós vamos examinar, estamos examinando, para, através de um grupo de estudos, a gente melhore. Nós já estamos trocando catracas, está melhorado a leitura de ingressos. Nós temos atos que acontecem no Brasil em grandes demandas. Em São Paulo x Corinthians, em que nós tivemos um público maravilhoso, nós detectamos que muitas pessoas tinham ingressos impressos com QR code. Eram mais de dez cópias, uma entrava e ficavam nove do lado de fora. Quando fomos ver, nós tínhamos oito ou nove mil pessoas do lado de fora”, explicou.

“Por isso que hoje nós temos o voucher, que como todos os grandes eventos, você vai trocar adequadamente. Vamos atualizar a informação. Para o torcedor de fora de São Paulo, nós vamos ter o dia 23, que é um sábado, e o próprio dia 24 (data do segundo jogo da final da Copa do Brasil) para fazer essa troca, em um local que será definido e informado. Essa é uma preocupação que nós temos com o cliente do São Paulo. Agora, nós não podemos negar que o São Paulo tem batido todos os recordes de público ainda com esse sistema, que afunila muito em jogos dessa proporção. Mais de 1,5 milhão que ir ver esse jogo no Morumbi. Como temos TV aberta, muita gente vai ter que ver pela televisão porque não há capacidade. O São Paulo foi um sonho no passado que abrigou todos os nossos grandes públicos, e hoje não está acontecendo porque a torcida está crescendo e comparecendo”, complementou, sem entrar em mais detalhes quanto ao suposto grupo de estudos ou pontos de troca de ingressos.

A Total Acesso, empresa parceira do São Paulo na venda de ingressos online, também foi muito criticada. A insatisfação, no entanto, não é nova, já que o site apresentou instabilidade em outras partidas de alta demanda nos últimos anos e dificultou a compra dos torcedores. Antes de assumir a presidência em 2021, Casares afirmava que exigiria eficiência do concessionário que representasse o clube, até mesmo “sob pena de rescisão”. Agora, o discurso é muito menos agressivo.

“Quando eu cheguei e tinham processos na Fifa, tinha problema em contrato de jogador, de atraso e afins, eu me perguntava se isso teria um fim. Eu estava preocupado. Eu saí da televisão, tinha um conforto na publicidade. Se bem que aqui a gente briga com faturamento e audiência o tempo todo, eu sei como é televisão. Mas quando eu cheguei, eu também me perguntava se teria um fim. Então, você vai ajustando. O contrato (com a Total Acesso) ainda vai para o ano que vem, mas isso tudo é revisto. Nós acabamos de rever a condição de um consórcio onde as catracas têm a participação de uma outra empresa. Te fixar um prazo, eu não vou cometer essa irresponsabilidade. É uma prioridade sim nós melhorarmos esse sistema e vamos ouvir, principalmente, as pessoas envolvidas no setor “, afirmou Casares ao ser perguntando sobre o futuro da parceria entre Total Acesso e São Paulo.

Na última terça-feira, dia 12, o “ge” noticiou que o Procon cobra na Justiça R$ 1.035.329,44 em multas da Total Acesso. Ao todo, são três ações, e em nenhuma há mais a possibilidade de recurso. Em levantamento realizado pelo próprio órgão público, o São Paulo foi alvo de 157 reclamações em 2023 até o fim de agosto, enquanto a empresa parceira teve registradas 110 queixas.

Reclamações

E não foi só o torcedor comum que ficou na bronca com a comercialização de ingressos para a decisão. Até mesmo o sócio torcedor teve motivos para reclamar. As vendas para o segundo jogo da final foram anunciadas na última quarta-feira (6) e começaram às 10h (horário de Brasília) do dia seguinte. Apenas sócios do Plano Diamante (o mais caro e com mais benefícios) puderam tentar comprar entradas neste momento.

Os membros do Plano Diamante enfrentaram dificuldades no site da Total Acesso, e alguns foram surpreendidos com um aviso do São Paulo que informava que os ingressos com benefícios para sócio-torcedores estavam esgotados. Sendo assim, os ingressos remanescentes foram vendidos sem desconto para todos os sócios-torcedores, independente do plano, às 18h do mesmo dia.

As entradas restantes também esgotaram em pouco tempo. A partir de então, choveram críticas pertinentes quanto ao modelo de vendas adotado pelo São Paulo. Sócios com outros planos não ficaram contentes, já que inicialmente só o Plano Diamante teria acesso aos ingressos no dia 7 e muitos se programaram para comprar nas datas divulgadas pelo clube. Outros também questionaram a ausência de vantagens para aqueles que foram ao Morumbi durante toda a campanha do time na Copa do Brasil e em jogos de menos procura nesta temporada, enquanto torcedores que se tornaram sócios com o plano mais caro dias antes do início das vendas foram beneficiados.

Realmente, o São Paulo deu a entender que valoriza mais o torcedor que pode arcar com os preços altos da final ao invés daquele que foi tantas vezes na arquibancada, mas possui um poder econômico inferior. Julio Casares teve a oportunidade de se desculpar e dizer que o modelo de vendas poderia mudar no futuro e favorecer o são-paulino que vai com frequência aos jogos, mas optou por se justificar utilizando argumentos, no mínimo, questionáveis, como uma menor carga de ingressos por cotas da CBF e FPF e parte do Morumbi ser destinada ao público visitante. De fato, tudo isso é verídico, mas não responde por qual razão o clube não pensou em beneficiar seus torcedores mais assíduos, qual a carga para sócio torcedores ou até mesmo o que resultou em uma comercialização tão ruim mesmo com dez dias para se organizar.

“Não há como garantir (a presença do sócio torcedor). Você tem o setor popular um e dois, e esse torcedor não é sócio torcedor. No caso do jogo contra o Flamengo, você tem mais um agravante, que são os 3.500 ingressos para o visitante. Contra o Corinthians, não tinha porque é torcida única. Eu tenho outro agravante, que é a cota da CBF e Federação Paulista de Futebol, que pagam conforme o regulamento. Então, os ingressos úteis já estão diminuídos. Nós temos que entender que o sócio torcedor precisa ter outras práticas a não ser o benefício de tentar comprar primeiro, sem garantia de compra, e precisamos desenvolvê-lo e aperfeiçoá-lo para que esse torcedor, quando for ao jogo, tenha um custo médio de quatro vezes ao mês, se conseguir comprar ingresso em todos os jogos, de R$ 50,00. Mas também criar outros ativos, que sejam experiências ou outras coisas que podemos discutir juntos”, justificou Julio Casares.

“Quando eu cheguei (na presidência do São Paulo), nós tínhamos sete ou oito mil sócios-torcedores adimplentes. Hoje, nós temos 62 mil sócios que pagam a anuidade na frente. Precisamos pensar e repensar. No futebol e na dinâmica de uma empresa, é repensar a todo momento esses quesitos. Nesse jogo da final, eu tenho ingressos úteis menores, porque tenho visitante, tenho cota da FPF, cota da CBF. Então, sobra muito pouco. Eu tenho setor popular. Eu vejo as arenas hoje e parece que o futebol ficou meio ‘gourmetizado’. Eu gosto muito do estádio, sem o prejuízo de melhorar o conforto e as condições, mas não posso abrir mão de um sócio torcedor popular, que foi o que nos deu a condição de ser o São Paulo que é hoje. Nós temos de achar um equilíbrio nisso tudo. Eu sei que muita gente está chateada porque queria ver a final no Morumbi, mas não dá para abrigar todo mundo”, completou o presidente do São Paulo, contornando o assunto e abordando outros temas.

Por fim, Julio Casares falou sobre os ingressos destinados aos torcedores são-paulinos no primeiro jogo da decisão, que será realizado neste domingo, 17, no Maracanã. Que em um primeiro momento, ela deveria ter começado na manhã da última quarta-feira (6), mas o Flamengo repassou o direito de comercialização para o São Paulo, que nada divulgou até a publicação desta matéria.

“Quanto ao nosso ingresso no Maracanã, nós estamos fazendo todo um trabalho para que eles tenham condição de ser vendido a partir de amanhã, terça-feira. É o que nós podemos fazer. Nós temos uma destinação de 3.500 (ingressos) para nós comprarmos. Nós vamos, com o sistema do Rio de Janeiro, comprar, mas não temos condição de traze-los fisicamente para cá. Não tem como ter um guichê aqui para o meu torcedor comprar. Ele teve essa demora, e nós vamos trabalhar para que consigamos vender a partir de amanhã ou, no mais tardar, quarta-feira. Hoje (segunda-feira) teve uma reunião com a Polícia Militar, com as autoridades, e nós estávamos vendo a logística disso. É pouco ingresso 3.500, vai esgotar rapidamente, mas vai ser disponibilizado e o São Paulo está atualizando”, concluiu Casares.

Torcida do Flamengo

O Flamengo divulgou na tarde desta quarta-feira o serviço de ingresso para a torcida rubro-negra para o jogo da volta da final da Copa do Brasil, no dia 24 de setembro, às 16h (de Brasília), no Morumbi. A venda começa nesta quinta, às 14h, e será feita apenas pelo site totalacesso.com. O preço é de R$ 700 e haverá pontos de troca no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Todos os bilhetes deverão ser retirados, por orientação dos órgãos de segurança. Cada cadastro no site poderá adquirir no máximo dois ingressos e todos serão impressos no momento da troca.

Valores
  • R$700,00 inteira
  • R$350,00 meia-entrada (sujeita a 40% da carga)
Pontos de troca

Espaço Rubro-Negro (Gávea) – Avenida Borges de Medeiros, n°997, Lagoa, Rio de Janeiro – RJ.

  • 20/09/2023 – Das 10h às 17h.
  • 21/09/2023 – Das 10h às 17h.
  • 22/09/2023 – Das 10h às 17h.
Estádio do Canindé (Portão 7) – Rua Azurita, São Paulo, SP.
  • 23/09/2023 – Das 10h às 17h.
  • 24/09/2023 – Das 10h às 16h.

Obs: A retirada dos ingressos deverá ser realizada exclusivamente pelo titular da compra, sem exceção. Ele deve apresentar:

  • Voucher da compra impresso (não serão aceitas cópias ou fotos do voucher);
  • Cópia impressa de um documento com foto do titular da compra que contenha o número do CPF (CNH ou RG);
  • Documento original com foto do titular da compra que contenha o número do CPF (CNH ou RG).