Área Cultural | Área Técnica |
Ciência
e Tecnologia
-
Colunistas
-
Cultura
e Lazer |
Aviação
Comercial -
Chat
- Downloads
-
Economia |
Página Principal |
- Comportamento
-
Homenagem
aos Pais
Ilmo. Prof.
Francisco Gracioso, senhores membros da mesa, colegas formandos, prezados pais e
convidados aqui presentes, boa noite!
Disse certa vez o Governador Mário Covas: “Há dois tipos de discurso: o
longo e o bom.” Por isso, procurarei ser breve.
Fui agraciado com a honra e a responsabilidade de representar meus colegas,
formandos do curso de Comunicação Social da ESPM, em homenagem destinada aos
senhores pais. Por isso, quero convidá-los à realização de um exercício:
que este discurso seja objeto de reflexão por parte de vocês e que seja
imaginado como proferido por cada um de seus filhos.
Fazemos esta homenagem aos pais casados ou separados; brancos, pretos ou
amarelos; liberais ou conservadores; presentes, ausentes ou negligentes; biológicos
ou de criação. Àqueles que pagaram os estudos e, em especial, as mensalidades
deste curso, como se fosse apenas mais um carnê ou com grande dificuldade. Aos
pais formados ou analfabetos. Àqueles para quem a sorte sorriu e àqueles que
tiveram que fazer do talento e do esforço a única forma de manifestação da
sorte. Àqueles que preferiam um médico, jornalista, advogado, engenheiro,
administrador ou economista e que aceitaram de bom grado o publicitário mesmo
sem saber o que este faz, para que serve ou como se pronuncia a palavra
Marketing.
Vocês, pais, muito nos deram ao longo destes vinte e poucos anos. Deram-nos o
milagre da vida. Deram-nos o primeiro sorriso, as primeiras palavras, os
primeiros gestos de carinho. A segurança do colo, a altivez do olhar, a maciez
do toque. Deram-nos o que materialmente era preciso: o alimento do corpo, as
vestes para nos acalentar do frio, a cama onde repousar e dormir. Deram-nos a
compreensão, o apoio, a segurança, o aprendizado. Mas fundamentalmente,
deram-nos o caráter. E o caráter testa-se em pequenas coisas. Quando queremos
saber de que lado sopra o vento atiramos ao ar não uma pedra, mas uma pluma.
Vocês investiram tempo, paciência e dinheiro e o resultado agora se apresenta.
Cumpriram com uma prerrogativa básica: deram-nos a oportunidade,
possibilitaram-nos o estudo. Uma missão que teve início no pré, passando pelo
primeiro e segundo graus, desembocando no curso superior. Por isso, esta etapa,
este ciclo, está encerrado.
Mas o que para vocês é um fim, para nós é um começo. Para a maioria de nós
é apenas o início de uma carreira profissional. E a conquista que coroamos
hoje, embora nos faça únicos entre tantos, nada mais é do que um tíquete de
acesso ao jogo da vida corporativa.
Diz um provérbio francês que uma criança é um anjo cujas asas diminuem na
medida em que suas pernas crescem. Crescemos e hoje somos anjos de uma asa só.
Precisamos nos abraçar para alçar vôo.
Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem todos vêem o mesmo horizonte. É o olho
que faz o horizonte e, ao erguermos a vista, hoje não vemos fronteiras.
Hoje pretendemos apenas seguir as batidas de nossos corações. Não são os
princípios que dão grandeza ao homem. É o homem que dá grandeza aos princípios.
E onde há uma vontade, há um caminho. Hoje nossa vontade é regada por
entusiasmo, por esperança, por perseverança. Estamos conscientes de nossos
desafios. Sabemos que não basta ser bom pela metade. Mas mesmo as pastagens
mais verdes têm partes queimadas. Nada é perfeito.
Então, funciona assim: você faz o que tem medo e ganha coragem depois. Não
antes. Disse Molière: “Os homens são todos parecidos em suas promessas. Só
diferem nas realizações”.
Entre o certo e o errado há sempre espaço para erros maiores. Por isso, os
dois únicos fatos verdadeiros na vida são que você nasce num dia e vai morrer
em outro dia qualquer. O que acontece entre essas duas datas depende de seu modo
de vida.
Mas, apesar de o trabalho ser importante, as coisas mais fundamentais são a família
e os amigos. A família é o alicerce do qual vocês fazem e sempre farão
parte. Os amigos, estes devem ser visitados com freqüência, pois o mato cresce
depressa em caminhos pouco percorridos. A amizade é uma das maiores virtudes do
ser humano. Mas, para se ter amigos, é preciso antes ser um.
Nós sempre temos tendência de ver coisas que não existem e ficar cegos para
as grandes lições que estão diante de nossos olhos.
Vocês, pais, muito nos deram e muito nos ensinaram.
Ensinaram-nos a planejar nossos compromissos: a isso chamamos reflexão.
Ensinaram-nos a trabalhar os aspectos planejados: a isso chamamos ação.
Ensinaram-nos a acreditar que tudo dará certo: a isso chamamos fé.
Ensinaram-nos a fazer tudo com alegria: a isso chamamos entusiasmo.
Ensinaram-nos a dar o melhor de nós mesmos: a isso chamamos comprometimento.
Ensinaram-nos a ajudar ao próximo: a isso chamamos fraternidade.
Ensinaram-nos a aceitar as limitações dos outros: a isso chamamos tolerância.
Ensinaram-nos a receber as bênçãos com gratidão: a isso chamamos humildade.
Ensinaram-nos a entender que Deus está sempre presente e está nos detalhes: a
isso chamamos amor.
Agora, tomo por empréstimo as palavras de William Shakespeare para acrescentar
que vocês, pais, ensinaram-nos a aprender com os erros dos outros. A não
brigar com os problemas e sim resolvê-los. A escolher as batalhas com
sabedoria.
Ensinaram-nos que ou controlamos nossos atos ou eles nos controlarão. E que ser
flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa
quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Ensinaram-nos a construir todas as estradas no hoje pois o futuro não é o
lugar para onde estamos indo. É o lugar que estamos construindo.
Ensinaram-nos que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-nos de
vez em quando e será preciso perdoá-la por isso.
Ensinaram-nos que leva anos para se construir confiança e apenas alguns
segundos para destruí-la e que podemos fazer coisas em um instante das quais
nos arrependeremos pelo resto da vida.
Ensinaram-nos que não importa o QUE temos na vida mas sim QUEM
temos. E que as pessoas que nos são importantes são tomadas de nós muito
depressa, motivo pelo qual devemos deixá-las sempre com palavras amorosas, pois
pode ser a última vez que as vejamos.
Ensinaram-nos que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências. Que paciência requer muita prática e que a maturidade tem
mais a ver com os tipos de experiência que tivemos, temos e teremos do que com
quantos aniversários celebramos.
Ensinaram-nos que a vida, como um automóvel, é dirigida de dentro para fora, e
não o contrário e que por isso, onde quer que formos, devemos nos levar junto.
Por tudo isso, nossa retribuição deu-se com o primeiro choro, o primeiro
sorriso, os primeiros passos, as primeiras palavras, a primeira malcriação, o
primeiro vaso quebrado e o primeiro dedo inchado. E agora, com esta cerimônia.
Olhem, por favor, para seu filhos, e vejam em suas faces cálidas que,
parafraseando o Pequeno Príncipe, quando se está feliz, não se avalia o
perigo. Não se tem fome ou sede. Um raio de sol basta...
Que venham os netos!
Obrigado.
Discurso
de Formatura – ESPM/SP
Auditório Elis Regina – Anhembi
12/12/2000
PS:
Registre-se que o texto apresenta frases de Alexander Hamilton, Confúcio,
Konrad Adenauer, Leon Tolstói , Ralph Waldo Emerson, Tancredo Neves e alguns
provérbios. Esta observação não foi lida ao final do discurso.
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de junho / 2004
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI