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Dilemas
Eleitorais
“Um
governo não pode ser melhor do que a opinião
pública que o apóia”. (Franklin Delano Roosevelt)
Na Fiesp, sagrou-se vencedor o candidato da oposição, Paulo Skaf, com 57% dos
votos possíveis num colégio eleitoral formado por apenas 122 sindicatos
patronais, representantes de setores diversos da indústria paulista.
Já no Ciesp, o escolhido foi o situacionista Cláudio Vaz, recebendo 55% dos
votos válidos de um universo de eleitores formado por associados, tendo sido
contabilizados 4.060 votos válidos.
Duas eleições simultâneas. Duas chapas com propostas distintas. Uma votação
indireta. Uma votação direta. A indústria paulista, maior representante do
capitalismo deste país, em virtude de uma briga desenfreada pelo poder, está
dividida. Uma estrutura formada por dois órgãos que estão do mesmo lado, mas
que olham para direções diferentes. A fratura está exposta, enfraquecendo a
própria classe empresarial e fortalecendo indiretamente qualquer movimento
contrário aos seus interesses.
No dia 25 de abril de 1984 eu era apenas um adolescente. Mas já contava idade
suficiente para suspeitar da legitimidade representativa de eleições
capitaneadas pelo voto indireto quando a Emenda Dante de Oliveira, que propunha
eleições diretas para a sucessão do General Figueiredo, foi rechaçada pelo
Congresso Nacional.
Em Brasília, 513 deputados e 81 senadores decidem diariamente o destino de 179
milhões de brasileiros. E, em virtude da imprescindibilidade do sistema
representativo no setor público, defendo a tese do voto distrital para que se
possa garantir minimamente que determinado legislador exercerá seu ofício em
prol de quem o elegeu e não em função de interesses pessoais ou meramente
corporativos.
Suponha que você resida em um condomínio e que se coloque em pauta a contratação
do serviço de TV a cabo para todos os moradores. Há duas empresas, A e B,
ofertando seus préstimos. Numa consulta individual a cada um dos
moradores, a empresa A é apontada como sendo a preferida. Todavia,
estatutariamente a decisão deve ser proferida pelo síndico e seus conselheiros
que optam pela empresa B. Isso é eleição indireta.
Um dilema é, por definição, um paradoxo. Não questiono em absoluto a
legitimidade do resultado das eleições de 25 de agosto último para o sistema
Fiesp/Ciesp. Questiono sua representatividade. Afinal, como podem 2.235
eleitores escolherem um modelo de gestão e seus representantes diretos optarem
por outro? Não posso abster-me de ser cartesiano diante destes fatos, motivo
pelo qual busco apenas compreensão com coerência.
Minha reflexão transcende os limites do prédio triangular localizado na Av.
Paulista. Coloco-me a questionar os frutos colhidos em decorrência das sementes
plantadas nos diretórios acadêmicos dos cursos médios e superiores, nos
Conselhos de Administração que decidem o destino do capital dos acionistas
(inclusive os minoritários), nas subprefeituras, na política em geral.
Em ano eleitoral, é bom lembrar que o sistema, claro, é imperfeito. Mas, a
quem interessa aperfeiçoá-lo?
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de outubro / 2004
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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