Área Cultural | Área Técnica |
Ciência
e Tecnologia
-
Colunistas
-
Cultura
e Lazer |
Aviação
Comercial -
Chat
- Downloads
-
Economia |
Página Principal |
- Comportamento
-
A
Arte da Chutometria
“Ninguém
come macroeconomia”.
(John Maynard Keynes)
Fui
convidado, uma vez mais, a tecer considerações sobre o cenário econômico
brasileiro para este final de ano, com projeções para 2005. É
um exercício curioso, praticado com prazer pela maioria daqueles que atuam no
âmbito da Economia. Curioso e inútil. Há
algumas décadas era efetivamente plausível fazer projeções. Você traçava
um cenário otimista, um neutro e um pessimista baseado nos ambientes interno e
externo.
Até o fim dos anos 80, o ambiente externo era influenciado basicamente pela
iminência de uma guerra mundial patrocinada pelo conflito EUA-URSS. Havia também
o risco de um novo choque do petróleo. Lastreado nestes aspectos, os tais cenários
poderiam variar entre favorável e desfavorável. Não era um exercício
macroeconômico, mas geopolítico.
Quanto ao ambiente interno, vivíamos em um país política e economicamente
fechado, cujo hermetismo somente era afetado ocasionalmente pelas chuvas ou pela
saúva. Após 1982, vieram as crises da dívida externa e inflacionária,
dificultando sobremaneira o planejamento tanto no setor público quanto no
privado.
Os anos 90 trouxeram a chamada Nova Ordem Mundial. Crash
da Bolsa de Nova Iorque em 1987, queda do Muro de Berlim em 1989, derrocada
dos regimes comunistas, avanço da Internet, ditadura das comunicações.
Globalização. O mundo interligado. Nunca a Teoria do Caos, o Butterfly
Effect, mostrou-se tão presente.
Um vírus abate a saúde na Ásia e todo o mundo é economicamente contagiado.
Os conflitos políticos na Venezuela ou no Oriente Médio afetam a cotação do
petróleo. O terrorismo é promovido de coadjuvante a protagonista.
Talvez agora você compreenda, leitor, porque digo que os exercícios de projeção
de cenários são inúteis. E, estatisticamente, posso comprovar-lhe esta
inutilidade. Ao que me conste, nenhum, absolutamente nenhum economista ou
empresa de consultoria econômica acertou sistematicamente a cotação do dólar
para 31 de dezembro, a variação do PIB ou a taxa de desemprego nos últimos
anos. Diante da ortodoxia imposta pelo Ministro Palocci, ninguém esperava um
avanço do PIB, do saldo da balança comercial e a redução do desemprego
observados recentemente. Mas aconteceu.
De qualquer forma, se desejam números, posso apresentá-los. Quem me acompanha
de perto, sabe quais eram minhas impressões no início deste ano. Minha
expectativa era para um crescimento do PIB de 4,5%, inflação de 7,5%, dólar
cotado a R$ 3,07 e balança comercial com saldo de US$ 31 bilhões. Para 2005,
PIB crescendo 5,5%, inflação de 7%, dólar a R$ 3,22 e balança com saldo de
US$ 39 bilhões. Assim mesmo, com intervalos de meio ponto percentual, sem a
pedante precisão de décimos propalada por ex-ministros e ex-presidentes do
Banco Central.
Se me perguntarem de onde tiro os números, direi sem constrangimento:
chutometria. É claro que há fatores como dados estatísticos, séries históricas,
análises de regressão, informação e conhecimento processados que garantem um
mínimo de cientificidade aos números. Mas, no fundo, não passa de aposta
pelos motivos que expus. Porque basta um evento novo e contundente em alguma
parte do mundo para alterar todas as variáveis relevantes. Apenas isso.
Por isso, a você que corajosamente atua como empresário ou executivo neste país,
minha sugestão: cuide de seu negócio e releve tudo o mais. A viabilidade e o
crescimento sustentável do empreendimento que você dirige estão relacionados
à qualidade de seu produto ou serviço, ao atendimento que presta aos seus
clientes, à harmonia cultivada em seu ambiente de trabalho, ao cuidado com os
custos fixos, à correta formação do preço de venda e à busca do lucro com
aprimoramento.
Não quero, com isso, fazer apologia à ineficácia do trabalho de planejamento
e de projeção de cenários. Ao contrário, são importantes e desejáveis para
se evitar surpresas durante a caminhada. Afinal, se você está voando e a
biruta indica mudança na trajetória do vento, não necessariamente você irá
cair, mas apenas terá que ajustar seus instrumentos para manter o curso.
A Economia estará sempre aquecida para aqueles que têm bons produtos, praticam
o bom Marketing e que sabem identificar e respeitar seus clientes.
Qualquer outra coisa é conversa de botequim, papo-furado ou... chutometria!
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de setembro / 2004
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI