Área Cultural | Área Técnica |
Ciência
e Tecnologia
-
Colunistas
-
Cultura
e Lazer |
Aviação
Comercial -
Chat
- Downloads
-
Economia |
Página Principal |
C O L U N
A D E E C O N O M I A
2ª QUINZENA DE NOVEMBRO / 2004
Custo do dinheiro
Por Marcos Cintra
O Banco Central tem sido alvo de fortes pressões no sentido
de reduzir os elevados juros que condenam o país à recessão. Seria isso possível
sem comprometer as metas de inflação e sem colocar em risco o financiamento da
dívida pública? A resposta é afirmativa, bastando que o BC enfrente um
problema que vem sendo empurrado para debaixo do tapete: o "spread"
praticado pelos bancos.
O crédito é
componente determinante na formação da demanda agregada. Seu custo e seu
volume representam fundamentos essenciais para a expansão do consumo, dos
investimentos e das exportações.
Nas economias do
sudeste e do leste da Ásia, nos EUA e na Europa o volume de crédito ultrapassa
100% do PIB. No Chile, é de 66%, e, no Japão, de 102%. No Brasil, a relação
crédito/PIB gira em torno de 26%.
Conforme levantamentos
periódicos da Globalinvest, a taxa real de juro praticada no Brasil, em torno
de 12% ao ano (CDI deflacionado pelo IPCA), corresponde a oito vezes a média de
1,5% ao ano verificada em amostra de 40 países. Em relação aos países
emergentes, onde os juros médios chegam a 3% ao ano, corresponde a quatro
vezes. O baixo volume de crédito e seu elevado custo são fatores que travam de
modo decisivo o potencial de crescimento econômico do Brasil.
Existe ainda uma
peculiaridade no caso brasileiro. Todo mês há grande elevação no nível de
estresse quando o Copom se reúne para anunciar a meta da Taxa Selic, o juro
primário que serve de referência para o mercado financeiro calibrar os juros
cobrados dos tomadores de recursos. Isso certamente é um elemento importante
para a compreensão da conjuntura econômica nacional, mas escamoteia um aspecto
determinante na definição do custo do crédito, que é o "spread"
praticado pelo sistema bancário, ou seja, a diferença entre o que os bancos
pagam aos aplicadores e o que eles cobram de seus clientes que demandam
recursos.
A conta é
relativamente simples. Enquanto os bancos pagam 13% ao ano para captar recursos
num fundo de investimento, lastreados em títulos públicos remunerados pela
Selic, cobram, em média, 74% no crédito pessoal e 140% no cheque especial.
Para as empresas, os juros cobrados alcançam 35% para o financiamento do
capital de giro e 66% na conta garantida.
O gráfico nesta página
resume bem a distância entre a Selic e os juros praticados nas operações de
crédito livre para as pessoas físicas e jurídicas.
A taxa Selic é um
componente importante na formação dos juros cobrados do tomador final. Mas não
é essa a consideração primordial que preside a sua fixação pelo Copom, e
sim questões de ordem macroeconômica. A Selic tem dois aspectos fundamentais.
Um está relacionado à meta de inflação, sob responsabilidade do Banco
Central. A autonomia do órgão lhe dá poderes para ajustar o juro primário
assim que pressões coloquem em risco o nível geral de preços da economia. Um
segundo aspecto está vinculado à estrutura e ao financiamento da dívida
mobiliária da União. Em 2003, os gastos com encargos da dívida do governo
federal foram superiores a R$ 150 bilhões, quase 10% do PIB.
Mas é quando se
adiciona o custo da intermediação financeira à taxa Selic que saltam aos
olhos os seus dramáticos impactos microeconômicos. Tratar a lucratividade dos
bancos meramente como porcentagem do "spread" torna nebuloso o
entendimento do problema. O "spread" deve ser analisado em
valores absolutos para ter uma real dimensão da questão. A comparação dos
"spreads" praticados pelos bancos no Brasil com a média
registrada em países emergentes mostra que a proporção é absurda. Em 2003, o
"spread" médio foi de 43,7 pontos percentuais, enquanto
naqueles países foi de 3,9 pontos percentuais. Os bancos se defendem sob a
argumentação de que o problema reside nos elevados depósitos compulsórios,
nos impostos e na falta de instrumentos jurídicos que permitam reduzir os
riscos dos créditos.
Há um elemento de
verdade nessa decomposição de custos da intermediação financeira. Contudo
ela escamoteia um fato fundamental no entendimento do problema, que é a questão
da competitividade e da estrutura do mercado bancário.
Seja qual for a razão,
o fato é que o país não pode mais suportar tamanha transferência de renda do
setor produtivo para os rentistas.
No próximo artigo,
analisaremos o "spread" bancário em mais detalhes para buscar
uma saída para esse angustiante problema que freia o desenvolvimento do país.
Nota: agradeço ao consultor financeiro Michel Etlin pelas estimulantes
idéias incorporadas neste artigo.
PUBLICAÇÕES
AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
A PROPRIEDADE INTELECTUAL DOS TEXTOS É DE SEU AUTOR
FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI