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C O M P O R T A M E N T O -
01
/ dezembro / 2005
“Conheço gente que perde mais tempo comparando quando compra
toalhas de papel do que quando faz investimentos.”
(Arthur Levit)
AVESTRUZ
VOA
Por Tom Coelho, colunista-titular do Portal Brasil (*)
A memória curta do brasileiro permite uma reedição de golpes corporativos à moda da extinta Fazendas Reunidas Boi Gordo.
Esta história começa no ano de 1996, com a contribuição de uma novela da
Rede Globo, intitulada “O Rei do Gado”. Protagonizada por Antônio
Fagundes, alcançou elevados índices de audiência, conferindo grande
visibilidade a um novo tipo de negócio: os ativos rurais.
Sem sair de casa, sem a necessidade de transitar por estradas de terra,
pisar o barro, mexer com adubo ou ração, investidores de todo o país
viram-se seduzidos por uma nova modalidade de ganho patrimonial representada
pela aquisição de boi ou frango para engorda e abate. As empresas
ofereciam ganhos expressivos, muito superiores às aplicações tradicionais
em renda fixa, lastreadas no ganho de peso do animal.
O conto prossegue da seguinte forma. Em maio de 1998 foi decretada a falência
da Gallus Agropecuária, com
passivos da ordem de R$ 35 milhões e cerca de 3 mil investidores lesados. O
controlador da empresa seria posteriormente condenado a nada menos que doze
anos de prisão.
Diante desta ocorrência, a CVM, Comissão de Valores Mobiliários, que
regula o mercado acionário no país, resolveu intervir nos chamados
Contratos de Investimento Coletivo (CIC), instrumento jurídico utilizado
por estas empresas para promover a captação de recursos. E o maior rigor
na fiscalização fez outra vítima. Agosto de 1999 marcou a insolvência da
Fazendas Integradas Ouro Branco,
baseada no Tocantins, que prometia uma rentabilidade de 12,8% em apenas
quatro meses através da venda de leite de vaca.
Mas o golpe fatal no setor deu-se apenas anos depois, mais precisamente em
16 de outubro de 2001, quando a Fazendas
Reunidas Boi Gordo entrou com pedido de concordata preventiva
(convertido em falência em abril de 2004). Seu proprietário, Paulo Roberto
de Andrade, condenado duas vezes por assalto a mão armada e quatro anos
cumpridos em reclusão, legou dívidas superiores a R$ 1,2 bilhão. Mais de
20 mil investidores viram suas economias irem literalmente para o brejo –
e 89% deles eram pequenos poupadores, com aplicações de até R$ 50 mil.
Pode ser uma expressão do tipo chavão, mas o fato é que nós,
brasileiros, realmente temos memória curta. A bola da vez chama-se Avestruz
Master, que em sistema similar ao relatado nos casos acima, propagandeia
aos incautos rendimentos de até – pasmem – 11% ao mês.
A empresa cresceu com pujança nos últimos cinco anos. Apresenta sete
filiais espalhadas pelo Brasil, além do Distrito Federal. E teve sua falência
requerida recentemente – e seus sócios, prisão preventiva decretada –
após uma sucessão de compromissos não honrados e cheques sem fundos
emitidos.
O caso está na fase inicial de apuração. Ainda são se sabe o montante do
rombo que será identificado nas contas da companhia e nem o número de
contribuintes lesados.
Só sei duas coisas. A primeira, é que nunca comi carne de avestruz, muito
embora esta iguaria já devesse fazer parte do cardápio dos restaurantes de
todo o país dado o volume de animais criados e supostamente comercializados
pela tal Avestruz Master. A segunda, é que muita gente que apostou num negócio
arriscado como este vai descobrir que não há mágicas ou milagres no
mercado financeiro, pois quanto mais elevada a expectativa de ganho, maior
é o risco.
Vão descobrir da pior maneira possível que avestruz voa...
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de dezembro / 2005
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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