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Diálogos
Externos e Internos
“O conhecimento, a experiência,
não é a absorção passiva das sensações,
mas o resultado de nossos processos mentais;
o mundo não se revela a nós, mas é revelado por nós.”
(Immanuel Kant)
Tenho recebido convites para assinar colunas semanais em jornais
regionais. São oportunidades únicas, que me enchem de orgulho e satisfação
porque escrever é onde me realizo, onde vivo em plenitude, no mundo das
palavras.
Atualmente forneço conteúdo editorial para quase duas centenas de veículos
das mídias impressa e eletrônica. Cada um tem sua importância,
independentemente de seu número de assinantes, da abrangência de seu mailing,
do perfil de seu público-alvo. Acompanho a cada um destes veículos como se
fosse o único espaço disposto a acolher minhas idéias porque sei que do outro
lado há pessoas dedicadas e apaixonadas pelo que fazem, com interesse ímpar
pela cultura e pela difusão do conhecimento.
Mas devo confessar-lhes que nutro um carinho especial pelo meio jornal,
especialmente quando bem elaborado, bem produzido e dotado do propósito autêntico
de informar. Porque se houvesse uma hierarquia entre as escritas, seguramente o
jornal estaria no topo desta pirâmide. Isso não é em absoluto um demérito a
nenhum dos outros meios de comunicação. Mas acredito que até Gutemberg, onde
quer que esteja, deva diariamente ler o seu jornal e aplaudir as diversas
publicações que grassam pelo mundo.
Escrever é como uma doutrina, uma profissão de fé. Como bem pontuou o admirável
Rubem Alves, escrever é uma arte tal qual cozinhar. Quem o faz, tem prazer em
saciar a fome de seus convidados. Cuida pessoalmente dos pratos, de sua textura,
cores e sabor. Gostoso não é comer, é compartilhar.
Minha cozinha fica numa sala. Minha
bancada é uma mesa. Meu fogão é um computador. Minhas panelas são minha cabeça.
Meus ingredientes são as palavras. Vou selecionando-as, misturando-as e
provando de seu resultado. Saboreio com os olhos e cuido para que temperos em
excesso não acabem com outros sabores.
Tenho tido a felicidade de ser agraciado, pela generosidade da maioria dos
editores que me assistem, com a liberdade de expressão para abordar temas os
mais variados em meus artigos. Certamente isso é fruto da confiança
conquistada a partir de minha obra já publicada. Confiança esta referendada
semana a semana, pauta por pauta, coluna a coluna.
A cada novo artigo busco sempre proporcionar a você, estimado leitor,
instrumentos capazes de promover-lhe autoconhecimento e auto-reflexão. Por
isso, há temas que são tratados para provocar o que eu chamaria de “diálogos
externos”. Conjecturas, observações, comentários, alusões ao mundo
contemporâneo, ao nosso cotidiano, àquilo que nos cerca, sejam temas de caráter
econômico, político, social ou cultural. São diálogos externos porque
pretendo tão somente expor um determinado ponto de vista, que não é soberano
ou inflexível, mas que é o meu, estimulando sua análise e debate sem jamais
ter a pretensão de esgotá-lo. Espero que, juntos, possamos construir um país
melhor.
Estes são temas típicos da culinária italiana, textos encorpados que
alimentam a consciência e que pedem uma taça de vinho tinto, cor de sangue, de
contestação. Corpo e sangue. São os momentos de questionamento da ordem, este
prazer da razão, banhados pela desordem, esta delícia da emoção.
Mas há os dias em que me sinto inspirado pela cozinha francesa. É quando me
torno econômico no uso dos ingredientes, mas extravagante no uso dos temperos.
Então preparo textos mais leves na forma e mais profundos no teor, convidando
todos a uma demorada reflexão. São os chamados “diálogos internos”,
quando procuro mergulhar na intimidade do ser, seus mistérios e nuances. Nestas
ocasiões, importa-me provocar não o debate público, mas estimular o debate
dentro de você mesmo, para que possa refletir sobre suas atitudes, sentimentos
e ações. E que à luz destas reflexões, possa você tornar-se alguém melhor.
E assim sucedem as semanas, sucedem os artigos. A cada semana um prato novo.
Alguns nascem naturalmente, demandam pouco tempo de cozimento. Outros, por sua
vez, ficam dias no forno. Consomem uma quantidade incrível de palavras. Letras
que vêm e que vão. Chegam mesmo a queimar os dedos, mas finalizá-los tem seu
propósito ao imaginar a satisfação de quem os lerá, estampada no brilho dos
olhos, no sorriso de canto de boca.
Tom
Coelho
Matéria da 1ª quinzena de março / 2005
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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