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01 / outubro / 2005
A FAMÍLIA NA CAMPANHA
Dificilmente haverá espaço para a família no comando da campanha
O candidato experiente ouvirá seus familiares, mas não se deixará convencer por
eles
Para os familiares, não obstante as juras em contrário de antes do início da campanha, as questões políticas sempre se personalizam e se "familiarizam", dificultando o trato racional e estratégico das mesmas. Mais sério ainda. Quando todos os assessores vão embora, depois de terminada a reunião, o candidato fica a sós com eles, com a mulher, com os filhos, com os irmãos.
Muitas vezes ocorre então uma segunda reunião, sem "estranhos", na qual as mesmas questões já discutidas do ângulo estratégico, são encaradas do ângulo "moral", do amor próprio, do orgulho familiar, e de sentimentos mais agressivos como o ódio, o ressentimento, o desejo de vingança etc. Há um teste claro para se descobrir que essa segunda reunião aconteceu, e teve efeitos decisórios. O candidato raramente o revela, mas, na manhã seguinte, quando ele aparecer com decisões muito diferentes daquelas adotadas na reunião com sua equipe, alegando ter pensado melhor e mudado sua decisão, sem muita vontade de discuti-las, inconfortável com a situação, esteja certo: a família "fez a sua cabeça" e ele encontra-se numa situação de profunda irritação, porque teve que defender seus auxiliares junto à família, e agora terá que defender os argumentos da família junto aos auxiliares.
Com o envolvimento da família, ocorrem outras situações típicas. Os membros da família têm seus "amores e ódios" pelos auxiliares. Têm suas desconfianças quanto à competência, quanto à lealdade e quanto aos interesses deles. O "martelar" constante contra um ou outro dos auxiliares, apontando seus erros, seus hábitos, suas eventuais falhas, acaba por produzir seu efeito no candidato, que passa também a ter dúvidas que não tinha sobre ele.
A família, quando entra na campanha, "entra para valer". Não há área nem espaço que não esteja ao alcance de sua opinião e palpites. Essa questão ganha gravidade adicional nas campanhas mais caras, com propaganda pela TV. Nestes casos, os publicitários são o alvo preferencial. O problema já começa com as fotos. As preferências familiares pelas fotos são de natureza estética, enquanto as preferências dos publicitários são de natureza estratégica (imagem desejada). Depois das fotos, surgem problemas com os jingles, com a marca, com o slogan. As peças são apreciadas isoladamente pela família, enquanto que os publicitários as compuseram tendo em vista um plano estratégico que as articule.
O mais sério chega com os programas de TV. Não importa que os programas tenham sido discutidos por dias e semanas, por pessoas especializadas e experientes, não interessa que tenham sido aprovadas nos "focus groups" (pesquisa qualitativa), o que importa é que não agradou. E não agradou por quê? Ora, porque o candidato apareceu pouco (uma decisão estratégica para evitar a sobre-exposição que é vista como um erro, um boicote, uma desconfiança); ora porque as imagens estavam muito escuras; ou porque o texto era muito agressivo, ou muito pouco agressivo; ora porque respondeu a uma acusação, ora porque não a respondeu; mas, acima de tudo, porque o programa do adversário estava melhor, no julgamento deles.
Os familiares conduzem diariamente a sua "pesquisa" junto aos amigos, que já são amigos por terem muito em comum, inclusive opiniões e sentimentos políticos, e apresentam para o candidato como o pensamento do eleitor: "Olha, as pessoas não estão gostando" ou "Teu programa está ruim", e frases análogas. O problema da interferência familiar torna-se muito mais grave quando o candidato não vai indo bem, seus índices caem ou não crescem. Neste momento, o candidato fica muito fragilizado e passa a ter suas desconfianças sobre o trabalho de sua equipe. Neste momento, também precisa apoio, estímulo, afeto, que os familiares lhe proporcionam. Esta é a ocasião mais perigosa, é o momento em que as idéias marteladas sem sucesso conseguem abrir espaços para provocar mudanças na campanha.
O problema não está em provocar mudanças. O problema é a lógica da mudança. Uma linha estratégica pode e deve mudar se não está funcionando, sendo substituída por outra linha estratégica (ou mudanças de ênfases). O que não se pode fazer é substituir uma linha estratégica por reações emocionais! Não se pode esquecer nunca que uma campanha eleitoral executa um plano estratégico, competentemente elaborado, no qual os fatores emocionais são, por definição, sempre subordinados às considerações de ordem estratégica. A família, incorporada à campanha, age - com a melhor das intenções - no sentido inverso. Ela parte dos sentimentos para a ação política.
O sentimento e a emoção, já foi dito aqui várias vezes, é útil quando está à serviço da estratégia, a ela subordinado. Uma campanha dominada por reações emocionais não tem chance de vencer, e uma campanha que mescla, de maneira arbitrária e casuística, sentimentos e racionalidade estratégica, consegue derrotar o melhor candidato.
Não há espaço para a família - como regra - no comando da campanha. O candidato maduro e prudente ouvirá seus familiares, mas não se deixará convencer por eles. Se tiver que mudar a estratégia, vai trocá-la por outra, produzida com os mesmos critérios da primeira. Jamais vai permitir a súbita eclosão de sentimentos e emoções - por mais justos que sejam - em meio à sua campanha, a menos que por motivos igualmente estratégicos.
A grande ajuda da família é de natureza afetiva, e na execução de ações de campanha: malas diretas da esposa, porta a porta feito por familiares, acompanhar o candidato nos momentos em que se requer, entrevistas que testemunhem aspectos pessoais positivos, e outras ações análogas. A responsabilidade final é do candidato. Ninguém, a não ser ele, tem o poder de abrir as portas do comando da campanha para seus familiares. Se o fizer, o fará por conta e risco.
A PROPRIEDADE INTELECTUAL É DE SEU AUTOR
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PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE POLÍTICA PARA POLÍTICOS
FRANCISCO FERRAZ É O EDITOR-CHEFE DO SITE POLÍTICA PARA POLÍICOS
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